𝐜𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐭𝐰𝐨

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Passo o resto do dia pensando no que o futuro guarda para mim. Todos os meus planos sendo esmagados sem dó ou piedade pelas solas dessa monarquia estúpida. Me frustra toda vez que penso nas regras e costumes irrelevantes que precisamos seguir. E a troco de quê?

Agora meu futuro será reescrito. Tudo por conta de um casamento que eu esperava demorar ao menos mais uma década para acontecer. E com a pessoa que eu escolhesse

Meus pensamentos vão diretamente para o futuro das minhas irmãs mais novas: Louise e Helena. Penso se serão obrigadas a se casarem assim como estou sendo, não estou sendo exatamente obrigada, mas a sensação é a mesma. E se, por acaso, se apaixonarem por alguém indesejado? Seriam obrigadas a largarem sua paixão para viver de acordo com o que a monarquia separou para elas, contra suas vontades. Meu coração se torna apertado só de imaginar o sofrimento de uma das duas, ou pior, das duas.

Passo o dia e a noite aérea pensando no dia seguinte em como deveria tratar o Príncipe.

Meu futuro noivo.

Talvez ele mesmo entre com o pedido de anulação desse casamento se eu o fizer perceber que nossa união não terá sucesso sem que ao menos um de nós saia ferido, em todos os sentidos.

Fico a maior parte do tempo do jantar encarando as expressões inocentes de Louise e Helena enquanto comem conforme foram ensinadas em suas aulas de etiqueta e automaticamente me lembro da minha infância. Me lembro de como sempre fugia das aulas e minha mãe me encontrava dizendo que essas aulas seriam úteis no futuro e que eu me tornaria uma princesa perfeita, assim como ela foi em sua vida antes de se tornar a Rainha de Vadon. Eu sempre admirei minha mãe e sua postura impecável, mas também invejava meu pai por sua força incondicional. Meus olhos brilhavam ao ver todas as armas que possuía em seu escritório, nunca entendi o porquê de ficarem justamente no escritório.

Logo os dois perceberam minha admiração por seus costumes e decidiram incluir tanto a etiqueta, quanto a defesa pessoal e como usar uma espada e desferir golpes na minha educação.

Minha mãe sempre demonstrou mais apoio com as aulas de etiqueta. Já que, em sua opinião, uma princesa não deve usar armas. Mas nunca me proibiu de aprender a defesa pessoal e outros assuntos mais dominados pelos homens.

Claro que minhas irmãs ainda são muito novas para esse tipo de aula tão agressiva. Mas não hesitarei em momento algum se me pedirem para ensinar tudo que sei.

Quando me despeço de meus pais e minhas irmãs na sala de jantar e sigo para meu quarto, penso novamente em como será o dia de amanhã. Nunca vi o Príncipe pessoalmente. Apenas ouvi alguns boatos, vi alguns quadros com sua aparência descrita como extremamente satisfatória. Sei que milhares de mulheres se matariam para estar no meu lugar, e eu não nego que me casaria com ele se realmente o amasse. Não é o caso. Odeio quando estou sendo forçada a algo, e vou odiar essa situação até o fim.

Deixo todas as minhas preocupações se dissiparem quando mergulho o corpo na água quente que preenche todo o espaço da banheira. Mergulho desde os pés até o topo da cabeça na água. A densidade da água tampando meus ouvidos e minhas narinas me impossibilitando de respirar ou ouvir algo com a total clareza. Fico totalmente submersa por alguns segundos até sentir meus pulmões suplicarem por oxigênio e meu corpo ser obrigado a subir alguns centímetros inspirando e expirando com força quando sinto minha pele molhada pela água quente agora se tornando fria pelo ar gelado do meu banheiro.

Passo as pontas dos dedos sobre os olhos tirando o excesso de água dos cílios sentindo meus olhos arderem levemente quando os abro. Olho para baixo e vejo meus longos cabelos negros se espalhando no líquido transparente, a figura semelhante como tentáculos de um polvo negro no mar.

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