Capítulo 16.1: Treinamento

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Era manhã quando Aurora sentiu o sol bater sob suas pálpebras, e como todos os dias, se levantou preguiçosamente com o som de alguém em sua janela. Era Sam.

Ainda cambaleando, com os cabelos despenteados e trajando suas roupas de baixo (pois tinha esquecido de estender sua camisola e ela não secou a tempo), abriu a janela para falar com aquele bando de crianças que sempre vinha lhe pedir comida.

- Bom dia pessoal. - Disse bocejando.

- Bom dia Aurora... desculpe que chegamos cedo, mas é que hoje vai ter varredura no castelo, e nós temos que nos esconder. - Respondeu Sam em tom baixo.

- Varredura? O que é isso?

- É quando o quarto dos servos são verificados para encontrar crianças como nós.

- Que estranho... e o que acontece com as crianças encontradas?

O garoto não respondeu aquela pergunta, porque era óbvia a resposta. Servos do castelo não devem ter relações entre si, essa era uma das leis de trabalho do feudo de Arshaffa, porém, na prática, todos sabem que ela não funciona muito bem.

Como resultado, as crianças se tornam invisíveis, perambulando pelos corredores e se escondendo, até que aos 12 anos, quando já conseguem trabalhar, são ensinados alguma função ou se casam.

- Tá, esperam um pouco que acabei de acordar.

Ela havia tido uma infância semelhante, sabia como a vida de uma criança em um castelo pode ser difícil. Por isso, apenas trocou de roupa e chamou a servente que sempre servia o café de Joah.

E foi então que notou seu irmão sentado na cama lendo um livro.

- O que você está fazendo aqui?!

- Esse é o meu quarto né... - Respondeu ele incrédulo.

- Verdade... mas é que você nem aparece por aqui.

- Daí você aproveitou para fazer a farra.

- O que?! - O mal humor matinal batia em Joah, e ricocheteia nela. Os dois já sabiam o que isso daria.

- Essa farra de comida que você está fazendo aí. Pedindo comida a mais e dando para essas crianças. - Falou ele sem levantar os olhos do livro. Seu tom era de escárnio.

- O que?! - Aurora já começava a se alterar e nem notou que a refeição já tinha chegado. - Você me manda comida a mais e fala isso de mim?!

- Eu, mandar comida a mais? Eu não mandei nada! - Falou o rapaz finalmente jogando o pobre livro para longe.

- Então porque vem sempre essa quantidade maior?!

- E eu sei lá! - Respondeu Joah pegando um pão e já colocando-o na boca. - Quer saber, faça o que você quiser. Coma o quanto quiser e ande por onde quiser!

- Ótimo! - Respondeu ela com raiva.

- Ótimo! - Disse ele já saindo do quarto.

E fechou a porta batendo-a, afastando-se com passadas pesadas dali.

- Rahh! Que raiva! Joah some por um longo tempo e depois volta assim?! Uish, o que deu nele?! - Falou Aurora já levando o café da manhã para as crianças que a esperavam na janela.

O que aconteceu com Joah, se perguntava ela mentalmente ao ver todos se fartarem com a comida enquanto se sentavam no gramado.

Joah não era mais o mesmo, depois de começar a trabalhar no palácio, teve que presenciar muitas coisas que gostaria de apagar de sua mente. Estas mudaram não só sua aparência, que agora era séria e fria, como também sua mente.

A princesa e o Dragão: O retorno - Segundo LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora