Capítulo 20: Nas correntes

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O som de correntes chocando-se umas nas outras, o odor de sangue e excrementos, impregnava o ar por onde passavam. O trote dos cavalos negros que conduziam aquelas carroças lamuriantes, relinchava incessantemente por serem chicoteados repetidas vezes. Homens e mulheres, seguiam as carroças encarando o chão.

As faces cobertas eram expostas somente quando este povo estava fora de qualquer feudo, como o que acontecia naquele momento. O silêncio de suas vozes, era acompanhado pela seriedade de seus passos. Os únicos que falavam, eram aqueles reduzidos a bichos, tratados como coisas desalmadas, transportados dentro das carroças.

Estes, definhavam dia após dias, sem comida e com pouca água, perdendo a esperança de continuar a viver. Reclamam de suas condições, imploram pela vida, por comida, e às vezes, imploram pelo simples ato de olhar para o céu.

Em um dos veículos, um velho morimbundo pediu para olhar uma última vez o céu. Pelo seu estado de decrepitude, teve seu pedido atendido por uma mulher daquele povo que ainda não tinha o coração tão endurecido como os outros. Ela retirou o tecido que cobria a grande carroça, formada por uma jaula de ferro sob duas rodas, permitindo que o senhor visse a beleza da natureza.

Os prisioneiros também perceberam que estavam em algum lugar da Terras Sem Lei.

Logo depois, aquele senhor deu seu último suspiro e morreu.

A mulher não ficou triste pelo velho, pois no estado em que estava, era melhor assim: morrer. Caso fosse vendido como escravo, seria comprado e usado até seu fim, que poderia ser algo muito mais cruel.

Foi neste momento, que essa mulher fez algo que não deveria fazer.

Olhando todos os presos ali, acabou por se interessar por dois jovens, uma moça de cabelos loiros, e um moço de pele alva, cabelos negros e olhos azuis. Os dois estavam no fim da cela. A jovem estava desacordada e ferida, deitada sob o colo do jovem.

E a mulher, interessada em ambos devido a aparência física dos mesmos, foi para perto deles.

— Hei, você. — Disse ela perto do rapaz.

Mas este não lhe deu ouvidos, e apenas continuou cuidando de sua companheira.

Todavia, aquela mulher estava convicta do que queria, e sabia muito bem como usar as palavras para conseguir isso.

— Hei, você! Eu sei como tirar você e sua namorada daqui! — As palavras dela rapidamente trouxeram a atenção do rapaz.

Ele era lindo, como um anjo caído, cuja aparência atraía para matar. Seus olhos claros como água, a perfuraram enquanto fitava seu rosto.

— Como? — Foi tudo o que ele disse.

— Se você me prometer fazer o que eu mandar, te tirarei daí.

— E ela? — Perguntou o rapaz, indicando a moça inconsciente.

— Ela vai junto.

— Certo, eu prometo.

— Então, ao anoitecer, virei procurar vocês dois.

— Seu nome?

— Penélope. — Disse ela se afastando e terminando o assunto.

O rapaz a olhou fixamente enquanto a mesma se distanciava, buscando gravar as características físicas dela. Tinha cabelos cacheados, pele negra, e belos olhos castanhos amadeirados. Parecia ser jovem, porém seu jeito sério de se portar, deixava dúvidas sobre sua idade.

Assim que ela se foi, o véu que cobria a jaula, foi lançado outra vez, cobrindo ele e todos os outros que ali estavam. E assim que ele se sentiu seguro, falou com a jovem que estava deitada.

A princesa e o Dragão: O retorno - Segundo LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora