Capítulo 26: Acampamento para três

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O homem de trança que ficava no balcão de madeira mofada, conhecia muito bem o sorriso daquela mulher com quem trabalhava. Os dois estavam presos àquela taverna por dívidas, e assim, por anos tinham que se aturar. 

Ele a odiava, pois a mulher estava sempre procurando algum problema para apontar, ou situação para colocar fogo. Suas palavras eram venenosas, e podiam incitar alguém rapidamente. 

Por isso, vendo-a com aquele sorriso no rosto, ele sabia o que estava por acontecer. Mas desta vez, a garçonete não tinha noção de com quem estava lidando, e por isso, ficou de boca aberta quando olhou para a mesa onde os viajantes deveriam estar.

O lugar deles estava vazio. Tinham ido embora.

A garçonete largou a sopa com pressa na mesa, e foi até a porta da frente, procurando por eles, mas nada encontrou. Nem mesmo a silhueta dos dois na rua podia ser vista. No entanto, teimosa como era, não desistiu, e foi até Tião avisando-o para os impedir de partir.

— Tião! Homem! Acorda! Aqueles viajantes vão embora, vão pegar os cavalos deles do teu estábulo, e vão embora sem pagar nada, assim como fizeram comigo!

O homem, que estava deitado na mesa com uma pequena poça de baba a sua frente, abriu os olhos devido aos pequenos tapas que ela dava em sua face para despertá-lo.

— Como assim? Eles comeram e não pagaram?

— Não... mas, mas eu tenho certeza de que vão roubar você! Eles são gente ruim! — Falou a mulher convicta de que um deles era um dragão, o que era o mesmo que ser demoníaco e amaldiçoado.

— Ada tá lá, ela vai cuidar de tudo. — Respondeu Tião, logo voltando a dormir.

Porém, a resposta não agradou-a, e ela estava certa de que o incidente que colocou em chamas toda a vila ao lado, estava relacionado com aquele homem de olhos vermelhos.

Por isso, ela mesma decidiu ir atrás deles. Retirou seu avental, avisou o barista e se foi.

Enquanto isso, Joah e Gael já estavam a caminho do estábulo para retirar os cavalos. Tinham saído às pressas da taverna depois que o cavaleiro ouviu o relato de Joah acerca da conversa na cozinha.

Eles não tinham mais tempo a perder ali.

— Mas porque mesmo que não podemos mais ficar aqui nessa vila? — Perguntou Joah que só estava interessado em uma cama quentinha.

— Olha, esse incidente com o aparecimento de um dragão e uma bruxa, pode ser algo relacionado à Aurora e Perseu. Eu sei que aquela garota pode usar magia, então pode ser ela.

— E o príncipe pode ser o dragão?

— Não, deve ser outro dragão, pois Perseu não tem o poder de tomar essa forma.

— É? Mas porque?

— Olha, isso é assunto pra outro dia. Agora temos que ir atrás dessa vila que foi incendiada e ver se alguém sabe de algo.

Os dois iam conversando durante o percurso, mas fecharam suas bocas quando viram que a rua começou a ficar mais populosa. Não podiam levantar suspeitas. Gael cobriu mais ainda sua face, procurando apenas olhar para o chão, para esconder aqueles seus olhos, e Joah foi à frente guiando-o.

Quando alcançaram o estábulo, encontraram os cavalos comendo em baias. Eles eram os únicos no estábulo, e pareciam bem tranquilos. Os dois animais estavam escovados, e Ada limpava as celas em um apoiador perto deles, olhando os animais com carinho nos olhos.

Ao ouvir o som dos dois, ela olhou na direção dos viajantes com uma expressão fria.

De relance, Joah viu seus olhos que eram de um lindo verde. Porém, assim que ela se deu conta de quem estava ali eram os donos dos animais, abaixou-se até o chão, em uma profunda reverência como é de costume os escravos fazerem.

A princesa e o Dragão: O retorno - Segundo LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora