Capítulo 30: finalmente

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O cheiro de morte veio seguido do terror. O céu se escureceu quando a figura negra emergiu da fumaça. Montando um cavalo totalmente negro, ela vinha, como uma sombra sem fim, preenchia todo o lugar por onde passava. Sua voz ecoava por todo aquele espaço como um sussurro desesperado.

A respiração da criatura preencheu o espaço junto do relinchar do cavalo. Sua forma escura se moldava aos olhos de quem a via, tornando-se seu medo.

A multidão se encolheu no chão, tremendo pelas suas vidas. Aquela criatura montada no cavalo certamente era uma punição divina, um ceifador do além, que fez até mesmo o mais nobre ali presente, ajoelharem-se.

Ninguém ousou olhar no rosto daquela criatura, pois só sua presença já tornava tudo pesado demais. Manter-se de pé era difícil. O corpo doía e se tencionava contra a vontade.

Somente um ser, que era puro e ignorante pode ver a feição daquela criatura que interrompia o enforcamento da condenada.

Este, era uma criança, que não sabendo o que acontecia, conseguiu espiar pelos braços do abraço de sua mãe, para saciar sua curiosidade.

Cavalgava em um enorme animal todo negro, usando uma longa capa escura como a noite. A capa parecia ter vida própria, pois movia-se livremente, e possuía ossos que se seguravam na carne de quem a usava.

A figura pequena em cima do animal, usava na cabeça o crânio animal que lhe tapava as feições, deixando apenas um brilho púrpura de seu olhar, escapar pelas órbitas do crânio animalesco.

E quando passou velozmente pelo pátio, onde todos da multidão se ajoelharam e curvaram suas cabeças, seu cabelo esvoaçou como mil fios de ouro.

Toda a grama do chão por onde passava, morreu.

A imagem fixou-se na mente da criança, que sentiu pavor e adoração por ela. No entanto, o que mais intrigou o menino, foi perceber que apenas ele observava tudo.

A criatura veio rápida, com um objetivo, e não se importou com os humanos que ali estavam. Foi até a forca, onde o corpo da mulher se debatia quase sem vida, e com uma faca, cortou a corda em seu pescoço, apoiando o corpo sob o cavalo negro.

Segurou a mulher de cabelos vermelhos em seu colo, e lentamente retornou de onde veio, deixando todos aterrorizados. O silêncio ecoou o som do trote se afastando.

Somente alguns minutos depois que o trote do animal desapareceu no ar, que a multidão começou a se reerguer.

Nada conseguiram entender do que havia acontecido, somente sabiam, que algum ser não humano havia levado o corpo da Condessa. O caso se tornou lenda, e em poucas horas, muitos já tinham especulações sobre o deus que havia pegado a ex Condessa para puni-la no mármore do inferno.

Enquanto isso, cavalgando com pressa, ia o corcel negro montado pela suspeita figura. Foram horas de percurso para sair do feudo de Nova Aerantto, desviando de todas as pessoas para diminuir as suspeitas.

Infelizmente, uma ovelha que passava perto, pisou no rastro escuro que o cavaleiro deixava no chão. Este animal, subitamente morreu, deixando todos os aldeões fora do caminho.

O animal que levava a mulher inconsciente, era resiliente e forte, e não pediu para parar uma vez sequer durante seu percurso. Sua respiração rápida, era no mesmo ritmo do coração acelerado que batia em preocupação em cima dele.

E assim que conseguiu sair do feudo, partiu para a floresta mais próxima, indo para sua escuridão, onde finalmente sentiu seu corpo cansado desistir de sua vontade. O cavalo, logo após alcançar uma vegetação mais alta que encobriu seu mestre, deixou que o cansaço o vencesse.

A princesa e o Dragão: O retorno - Segundo LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora