20. IMPACIÊNCIA

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QUANDO ACORDEI, ESTAVA confuso. Demorei mais tempo do que devia para lembrar onde estava.

O quarto era neutro demais para pertencer a um lugar que não fosse um hotel. Os abajures estavam presos às mesas de cabeceira e as cortinas eram feitas do mesmo tecido da colcha.

Tentei me lembrar de como tinha chegado ali, mas de início nada me ocorreu. Lembrei-me do carro preto, o vidro das janelas mais escuro do que os de uma limusine. O motor era quase silencioso, embora disparássemos pelas estradas negras com o dobro da velocidade permitida.

E me lembrei de Alice sentada comigo em vez de na frente com Jasper. Lembrei-me de perceber de repente que ela estava ali como minha guarda-costas, que o banco da frente não era perto o suficiente, ao que parecia. Devia ter feito o perigo parecer mais real, mas tudo parecia a um milhão de quilômetros. O perigo que eu corria não era o perigo com o qual me preocupava.

Fiz Alice montar uma vigília estranha de fluxo de consciência futura durante toda a noite. Não havia detalhes pequenos demais para mim. Ela me contou passo a passo como Edward, Carlisle e Emmet se deslocariam pela floresta, e apesar de eu não conhecer nenhum dos locais que ela mencionou, fiquei hipnotizado pelas palavras. Depois, ela voltava e descrevia a mesma sequência de outro jeito, conforme algumas decisões alteravam o futuro. Isso aconteceu várias vezes, e era impossível acompanhar, mas não me importei. Enquanto o futuro não colocasse Edward e James no mesmo lugar, eu conseguiria continuar respirando.

Às vezes, ela mudava para Esme para mim. Esme e Rosalie estavam na minha picape, seguindo para o leste. O que queria dizer que a mulher ruiva ainda estava atrás delas.

Alice teve mais dificuldade para ver Charlie.

— Os humanos são mais difíceis do que os vampiros — disse ela.

E lembrei que Edward tinha me falado alguma coisa sobre isso uma vez. Parecia anos antes, mas foram apenas alguns dias. Eu me lembrava de ficar desorientado por não conseguir entender o tempo.

Eu me lembrava do sol surgindo acima de um pico baixo em algum lugar da Califórnia. A luz machucou meus olhos, mas tentei não fechá-los. Quando eu os fechava as imagens que piscavam por trás das minhas pálpebras como fotografias eram demais. Eu preferia que meus olhos queimassem a vê-las de novo. A expressão arrasada de Charlie... os dentes à mostra de Edward... o olhar furioso de Rosalie... os olhos vermelhos do rastreador me encarando... o olhar mortal no rosto de Edward quando deu as costas para mim...

Mantive os olhos abertos, e o sol se moveu pelo céu.

Eu me lembrei da cabeça ter ficado pesada e leve ao mesmo tempo conforme passávamos por uma montanha, e o sol, atrás de nós agora, se refletia nos telhados da minha cidade. Não me sobravam emoções para que eu sentisse surpresa de termos feito a viagem de três dias em um. Olhei sem expressão para a cidade que se espalhava à nossa frente, percebendo lentamente que era para significar alguma coisa para mim. O raquítico chaparral, as palmeiras, os campos de golfe, as manchas turquesa que eram as piscinas, tudo isso era para parecer familiar. Eu devia sentir que estava voltando para casa.

As sombras dos postes de luz formavam na estrada marcas mais agudas do que eu me lembrava. Tão pouca escuridão. Não havia lugar para se esconder naquelas sombras.

— Qual é o caminho para o aeroporto? — perguntou Jasper, na primeira vez que falou desde que entramos no carro.

— Fique na I-10 — respondi, automaticamente. — Vamos passar por lá daqui a pouco.

Demorei mais alguns segundos para absorver as implicações da pergunta dele. Meu cérebro estava enevoado de exaustão.

— Vamos pegar algum avião? — perguntei a Alice. Eu não conseguia pensar no plano, mas aquilo não parecia certo.

Crepúsculo - Versão Beau & EdwardOnde histórias criam vida. Descubra agora