ACABEI MUDANDO DE ideia.
O fogo em meu braço não foi tão ruim. A pior coisa que senti até aquele momento, sim, mas não o mesmo que meu corpo todo em chamas.
Implorei para que ele fizesse tudo parar. Falei que era só isso que eu queria — que a queimação parasse; mais nada.
Ouvi Alice dizer a ele que todo mundo falava a mesma coisa, lembrou que ele implorou que Carlisle o matasse também. Disse que minha primeira decisão era a que contava.
Eu me lembro de, em determinado momento, gritar para ela calar a boca.
Acho que ela pediu desculpas.
Mas, de um modo geral, era difícil prestar atenção ao que estava acontecendo fora do fogo. Sei que eles me deslocaram. Parecia que eu tinha ficado no chão coberto de sangue e vômito por muito tempo, mas era difícil julgar como os minutos passavam. Às vezes, Carlisle dizia alguma coisa e parecia que um ano se passava até que Alice respondesse, mas devia ser só o fogo que transformava segundos em anos.
A dor era atordoante.
Exatamente isso — eu estava atordoado. Não conseguia entender, não conseguia perceber o que estava acontecendo. Acho que alguém me carregou. Vi o sol por mais um segundo de um ano, parecia pálido e frio. Depois, a escuridão cobriu meus olhos, mais densa do que antes. Como uma venda grossa, firme e rápida. Cobrindo não só meus olhos, mas todo o meu eu com um peso esmagador. Mesmo assim, eu ainda conseguia perceber Edward. Ele estava me segurando nos braços, com meu rosto perto do dele, uma das mãos em minha bochecha. Alice também estava perto, acho que segurando minhas pernas.
Só entendi que estávamos no banco de trás de um carro quando o veículo parou. Não ouvi a porta ser aberta, mas um brilho de luz atenuou fracamente a escuridão. Devo ter perguntado alguma coisa, e tive a impressão de ouvir Edward falar em meu ouvido que tínhamos parado para encher o tanque. Eu não conseguia mais sentir a mão dele no meu rosto; devia estar fria, mas nada estava mais frio. Tentei pegá-la, mas não conseguia fazer meus membros obedecerem.
O ardor cresceu — aumentou, foi ao máximo, depois tornou a aumentar, até que suplantou qualquer coisa que eu já sentira na vida.
James, quebrando minha perna sob meu pé. Aquilo não foi nada. Era um lugar macio numa cama de plumas. Preferiria aquilo, multiplicado por cem. Cem fraturas. Eu aceitaria, e ficaria grato.
O tempo passou. Mesmo que isso parecesse impossível. Mesmo que cada batida do ponteiro dos segundos doesse mais do que tudo. Passou de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passou. Poderiam ter sido segundos ou dias, semanas ou anos, mas por fim o tempo voltou a significar alguma coisa. Três coisas aconteceram simultaneamente, surgindo uma da outra de modo que eu não sabia dizer o que veio primeiro: o tempo voltou a passar, o peso da morfina diminuiu e eu fiquei mais forte.
Podia sentir o controle de meu corpo me voltando progressivamente, e esses foram meus primeiros sinais da passagem do tempo. Soube disso quando fui capaz de contrair os dedos dos pés e fechar as mãos. Eu soube, mas não fiz nada disso.
Embora o fogo não tivesse abrandado nem um grau — na verdade, comecei a desenvolver uma nova capacidade de vivenciá-lo, uma nova sensibilidade para apreciar, separadamente, cada chama devastadora que lambia minhas veias —, descobri que podia pensar em meio àquilo.
Pude lembrar por que não devia gritar. Pude me lembrar do motivo porque estava empenhado em suportar aquela agonia intolerável. Pude me lembrar de que havia algo que valia a tortura, embora naquele momento parecesse impossível.
Isso aconteceu a tempo de eu me segurar quando o peso da escuridão livrou meu corpo. Para qualquer um que me observasse, não haveria mudança nenhuma. Mas para mim, enquanto lutava para manter os gritos e os movimentos convulsivos dentro de mim, onde não podiam causar sofrimento a mais ninguém, era como se eu tivesse deixado de estar preso a uma estaca na fogueira e passado a me agarrar a essa estaca, para me manter no meio das chamas.
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Crepúsculo - Versão Beau & Edward
Fanfiction"Eu podia sentir o perigo; sabia que a morte era uma possibilidade real, e eu, tolo e inconsequente como era, brincava com ela. Pus as mãos em sua nuca e deixei minha testa tocar a dele. Meus olhos se fecharam, mas eu podia perceber os dele abertos...