9. TEORIA

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— POSSO... POSSO FAZER só mais uma pergunta? — gaguejei depressa enquanto ele acelerava rápido demais na rua silenciosa.

— Nós não tínhamos um acordo?

— Não é exatamente uma pergunta — argumentei. — Só um esclarecimento de uma coisa que você disse antes.

Ele assentiu devagar.

— Tudo bem. O que é?

— Bom... Você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria e que fui para o sul. Estou aqui me perguntando como sabia disso.

Ele refletiu por um momento.

— Pensei que tínhamos deixado as evasivas para trás — murmurei.

Ele me lançou um olhar de foi você que pediu.

— Certo, então. Eu segui o seu cheiro.

Não tive resposta para isso. Fiquei olhando pela janela, tentando absorver a informação.

— Sua vez, Beau.

— Mas você não respondeu minhas outras perguntas.

— Ah, pare com isso.

— Estou falando sério. Você não me falou como é que isso funciona, esse negócio de ler a mente. Você consegue ler a mente de qualquer um, em qualquer lugar? Como faz isso? Toda a sua família é capaz de fazer a mesma coisa?

Era mais fácil falar disso no carro escuro. As luzes dos postes já tinham ficado para trás, e, no brilho fraco do painel, todas as coisas malucas pareciam um pouco mais possíveis.

Parecia que ele tinha a mesma sensação de não realidade, como se a normalidade estivesse pausada enquanto estivéssemos naquele espaço juntos. Sua voz saiu casual quando ele respondeu.

— Não, só eu. E não consigo ouvir todo mundo, em qualquer lugar. Tenho que estar bem perto. Quanto mais conhecida for a... "voz" da pessoa, maior a distância em que posso ouvi-la. Mas ainda assim, só a poucos quilômetros. — Ele parou pensativamente. — É meio como estar em uma sala enorme cheia de gente, todas falando ao mesmo tempo. É como um zumbido, um murmúrio de vozes ao fundo. Até que me concentro em uma só voz, e depois o que ela está pensando fica claro. Na maior parte do tempo, fico fora de sintonia. Isso tudo pode ser muito incômodo. E é mais fácil parecer normal — ele franziu a testa quando disse a palavra — quando não estou respondendo sem querer aos pensamentos de alguém, em vez de às palavras.

— Por que acha que não consegue me ouvir? — perguntei, curioso.

Ele olhou para mim, os olhos parecendo perfurar os meus, com aquela expressão frustrada que eu conhecia bem. Percebi agora que cada vez que ele me olhava daquele jeito, devia estar tentando ouvir meus pensamentos e fracassando. A expressão relaxou quando ele desistiu.

— Não sei — murmurou. — Talvez sua mente não funcione da mesma maneira que a mente dos outros. Como se seus pensamentos estivessem na frequência AM e eu só pegasse FM. — Ele deu um sorriso para mim, divertindo-se de repente.

— Minha mente não funciona bem? Eu sou alguma aberração? — A especulação dele ficou clara. Eu sempre suspeitei disso e, agora era engraçado pensar que estava certo.

— Eu ouço vozes na cabeça e você está com medo de ser a aberração. — Ele riu. — Não se preocupe, é só uma teoria... — Seu rosto se enrijeceu. — O que nos leva de volta a você.

Franzi a testa. Como diria isso em voz alta?

— Pensei que tivéssemos deixado as evasivas para trás — lembrou-me ele delicadamente.

Crepúsculo - Versão Beau & EdwardOnde histórias criam vida. Descubra agora