10. INTERROGAÇÕES

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FOI DIFERENTE DE manhã. Todas as coisas que pareceram possíveis na noite anterior, no escuro, pareciam piadas ruins com o sol no céu, mesmo dentro da minha cabeça. Aquilo tinha acontecido mesmo? Eu me lembrava das palavras direito? Ele tinha mesmo dito aquelas coisas para mim? Eu fui mesmo corajoso o bastante para dizer as coisas que achava que tinha dito? Percebi que ainda estava usando o casaco dele, e tive que tocá-lo. Aquela parte era real, pelo menos.

Do lado de fora da minha janela, havia neblina e estava escuro, absolutamente perfeito. Ele não tinha motivos para não ir à escola hoje. Coloquei camadas de roupas, lembrando que não estava com o casaco e torcendo para não ficar encharcado até conseguir recuperá-lo.

Quando desci, Charlie já havia saído; eu estava mais atrasado do que tinha percebido. Engoli uma barra de cereal em três dentadas, empurrei para dentro com leite bebido direto da caixa e corri porta afora. Com sorte, a chuva daria um tempo até eu poder encontrar Jeremy. Com sorte, meu casaco ainda estaria no carro dele.

A neblina estava muito densa; o ar era quase fumarento. A bruma era gelada onde tocava no meu rosto, e eu mal podia esperar para ligar o aquecedor da minha picape. Era uma neblina tão densa que eu estava a pouca distância da entrada de veículos antes de reparar que havia outro carro ali; um carro prata familiar. Meu coração deu aquele salto duplo esquisito, e torci para não estar desenvolvendo nenhum problema na aorta.

A janela do passageiro estava abaixada, e ele estava inclinado na minha direção, tentando não rir da minha cara de posso estar tendo um ataque cardíaco.

— Quer uma carona para a escola? — perguntou Edward.

Apesar de estar sorrindo, havia incerteza em sua voz. Ele não queria que eu fizesse nada por ímpeto, queria que eu pensasse no que estava fazendo. Talvez até quisesse que eu dissesse não.

— Quero, obrigado — eu disse, tentando parecer casual. Quando entrei no carro, avistei um cachecol caramelo pendurado no banco do carona.

— O que é isso?

— Um cachecol.

— Isso eu sei. — Revirei os olhos. — Mas de quem é?

— É de Rosalie. Peguei emprestado para você porque não queria que ficasse resfriado nem nada. — Sua voz era cautelosa. Percebi que ele só estava com um blusão de tricô cinza com gola em V e mangas compridas. Novamente, o tecido colava em seu peito perfeitamente musculoso.

Coloquei o cachecol com cuidado no banco de trás. Ele parecia não se importar de pegar as coisas dos irmãos, mas quem sabia o que eles achavam? Uma das imagens confusas que eu lembrava do acidente de carro, mesmo tendo sido semanas antes, era dos rostos dos irmãos olhando de longe. A palavra que melhor resumia a expressão de Rosalie era fúria.

Eu podia ter dificuldade de ter medo de Edward, mas achava que não teria o mesmo problema com Rosalie.

Peguei o casaco dele na mochila e o coloquei embaixo do cachecol.

— Estou bem — falei, e bati com o punho no peito duas vezes. — Meu sistema imunológico está em ótima forma.

Ele riu, mas eu não sabia se por me achar engraçado ou ridículo. Ah, tudo bem. Desde que eu o fizesse rir.

Seguimos pelas ruas envoltas de névoa, sempre rápido demais, com uma estranha sensação. Minha sensação, pelo menos. Na noite passada, todos os muros ruíram... Quase todos. Não sei se ainda seríamos tão francos hoje. Isso me travou a língua. Esperei que ele falasse.

Ele se virou para sorrir com malícia para mim.

— E aí, não tem jogo das vinte perguntas hoje? — perguntou ele.

Crepúsculo - Versão Beau & EdwardOnde histórias criam vida. Descubra agora