22. ESCONDE-ESCONDE

78 6 0
                                    

DESTA VEZ SENTEI-ME sozinho no banco traseiro do carro escuro. Alice encostou-se à porta, o rosto voltado para Jasper mas, por trás dos óculos de sol, lançava olhares na minha direção a cada poucos segundos.

— Alice? — perguntei, indiferente.

Ela era cautelosa.

— Sim?

— Como isso funciona exatamente? As coisas que você vê? — Olhei pela janela lateral e minha voz parecia entediada. — Edward disse que não era definitivo... Que as coisas mudam, é verdade? — Dizer o nome dele era mais difícil do que eu pensava. Deve ter sido isso que alertou Jasper, porque uma nova onda de serenidade encheu o carro.

— Sim, as coisas mudam... — murmurou ela. Com esperança, pensei. — Algumas coisas são mais certas do que outras... Como o clima. As pessoas são mais difíceis. Só vejo o rumo que tomam quando estão nele. Depois que mudam de ideia... tomam uma nova decisão, por menor que seja... todo o futuro se altera.

Eu assenti pensativamente.

Tentei não pensar no que mais Alice havia visto. Não queria que meu pânico deixasse Jasper mais desconfiado. Agora eles estariam me vigiando com o dobro de cuidado, depois da visão de Alice. Isto ia ser impossível.

Chegamos ao aeroporto. A sorte estava comigo, ou talvez fosse só o acaso. O avião de Edward ia pousar no terminal quatro, o maior terminal, onde a maioria dos voos pousava — então não surpreendeu que o dele fosse para lá. Mas era o terminal de que eu precisava: grande, mais confuso. E havia uma porta para o terceiro pavimento que podia ser minha única chance.

Estacionamos no quarto andar da garagem imensa. Eu os conduzi, outra vez por conhecer mais o ambiente do que eles. Pegamos o elevador para o terceiro pavimento, onde os passageiros desembarcavam. Alice e Jasper passaram um longo tempo olhando o quadro de embarque. Eu podia ouvi-los discutindo os prós e contras de Nova York, Atlanta, Chicago. Lugares que eu não conhecia. E jamais conheceria.

Esperei por minha oportunidade, impaciente, incapaz de impedir que os dedos de meus pés batessem. Sentamos nas longas filas de cadeiras perto dos detectores de metal, Jasper e Alice fingindo olhar as pessoas, mas na verdade me vigiando. Cada centímetro que eu mexia em minha cadeira era acompanhado por um olhar rápido pelo canto de seus olhos. Era inútil. Será que eu devia correr? Eles ousariam me deter fisicamente neste lugar público? Ou simplesmente me seguiriam?

Peguei o envelope em branco em meu bolso e o coloquei em cima da bolsa de couro preto de Alice. Ela olhou para mim.

— Minha carta — eu disse. Ela assentiu, enfiando-a sob a aba de cima. Ele a encontraria logo.

Os minutos passaram e a chegada de Edward ficava mais próxima. Era incrível como cada célula de meu corpo parecia saber que ele estava vindo, ansiava por sua chegada. Isso dificultou muito as coisas. Eu me vi tentando pensar em desculpas para ficar, para vê-lo primeiro e depois fugir. Mas eu sabia que era impossível, se quisesse ter alguma chance de escapar.

Por várias vezes, Alice ofereceu-se para me acompanhar ao café da manhã. Mais tarde, eu disse, agora não.

Olhei o quadro de chegadas, observando enquanto um voo depois de outro pousava no horário. O voo de Seattle se aproximava cada vez mais do alto do quadro.

E então, quando eu só tinha trinta minutos para escapar, os números mudaram. O avião dele estava dez minutos adiantado. Eu não tinha mais tempo.

— Acho que vou comer agora — disse eu rapidamente.

Alice se levantou.

— Vou com você.

— Importa-se se Jasper for comigo? — perguntei. — Estou me sentindo meio... — Não terminei a frase. Meus olhos eram turbulentos o bastante para transmitir o que não falei.

Crepúsculo - Versão Beau & EdwardOnde histórias criam vida. Descubra agora