23. A ESCOLHA

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OUTRO GRITO ACIMA do meu, um grito penetrante de lamento.

O caçador atacou, mas os dentes se fecharam a dois centímetros do meu rosto porque uma coisa o puxou para trás e o fez voar para longe.

O fogo se acumulava na dobra do meu cotovelo, e eu gritei mais uma vez.

Eu não estava sozinho, havia outros gritando; o lamento foi acompanhado por um rosnado metálico que ecoava nas paredes e parou de repente. Um rosnado grave soava por baixo dos outros sons. Mais metal se quebrando, sendo arrebentado...

— NÃO! — ouviu alguém em uma dor tão intensa quanto a minha. — Não! Não, não, não!

A voz significava alguma coisa para mim, mesmo pela queimação que era tão mais intensa do que isso. Embora as chamas estivessem chegando ao meu ombro, a voz ainda exigia minha atenção. Mesmo gritando, ela soava como a de um anjo.

— Beau, por favor! — Edward lamuriou. — Por favor, por favor, por favor, Beau, por favor!

Tentei responder, mas minha boca estava desconectada do resto de mim. Meus gritos sumiram, mas só porque não havia mais ar.

— Carlisle! — gritou Edward. — Me ajude!

Ele estava com minha cabeça no colo, e os dedos apertavam meu couro cabeludo com força. O rosto estava desfocado, como o do caçador. Eu estava caindo em um túnel em minha mente, mas o fogo estava indo comigo, tão intenso quanto antes.

Uma coisa fria entrou na minha boca e preencheu meus pulmões, que reagiram com uma respiração fria.

Edward entrou em foco, o rosto perfeito contorcido e torturado.

— Continue respirando, Beau. Respire.

Ele colocou os lábios nos meus e encheu meus pulmões de novo.

Havia dourado ao redor das bordas da minha visão, outro par de mãos frias.

— Alice, faça talas para a perna e para o braço dele. Edward, endireite as vias respiratórias. Qual é o sangramento pior?

— Aqui, Carlisle.

Olhei para o rosto dele enquanto a pressão na minha cabeça diminuía. Meus gritos eram só choramingos agora. A dor não tinha diminuído — estava pior. Mas gritar não me ajudava, e magoava Edward. Enquanto eu mantivesse os olhos em seu rosto, conseguiria me lembrar de alguma coisa além da queimação.

— Minha bolsa, por favor. Prenda a respiração, Alice, vai ajudar. Obrigado, Emmett, agora, saia, por favor. Ele perdeu muito sangue, mas os ferimentos não são profundos demais. Acho que as costelas são o maior problema agora. Encontre fita adesiva.

— Alguma coisa para a dor — sibilou Edward.

— Aqui... Não tenho mais mãos. Você pode ajudar?

— Isso vai tornar tudo melhor — prometeu Edward. Senti cheiro de morfina.

Alguém estava endireitando minha perna. Edward estava prendendo a respiração — esperando, acho, que eu reagisse. Mas não doía como meu braço.

— Edward...

— Shh, Beau, vai ficar tudo bem. Juro que vai ficar tudo bem.

— E... não... é...

Alguma coisa estava afundando no meu couro cabeludo e outra coisa puxava meu braço quebrado. Isso machucou minhas costelas, e perdi o fôlego.

— Aguente, Beau — implorou Edward. — Por favor, aguente.

Eu me esforcei para inspirar de novo.

— Não... costelas — falei, engasgado. — Mão.

— O que ele está dizendo? — A voz de Carlisle soou ao lado da minha mão.

— Descanse, Beau. Respire.

— Não... mão — tentei dizer, ofegante. — Edward... mão direita!

Não consegui sentir as mãos frias dele na minha pele, o fogo estava intenso demais. Mas ouvi-o ofegar.

— NÃO!

— Edward — disse Carlisle, assustado.

— James o mordeu. — A voz de Edward quase não saía, como se ele também tivesse ficado sem ar. — O que faço, Carlisle?

Ninguém respondeu. A sensação de puxão no couro cabeludo continuou, mas sem doer.

— Sim — disse Edward entredentes. — Posso tentar. Alice, bisturi.

— Há uma boa chance de você matá-lo — disse Alice.

— Ele já está morrendo. Me dê — disse ele rispidamente. — Eu consigo fazer isso.

Não vi o que ele fez com o bisturi — não consegui sentir mais nada no corpo, nada além do fogo no braço —, mas o vi levar minha mão à boca, como o caçador tinha feito. Sangue fresco saía pelo ferimento. Ele colocou os lábios ali.

Eu gritei de novo. Não consegui evitar. Era como se ele estivesse puxando o fogo de volta pelo meu braço.

— Edward — disse Alice.

Ele não reagiu, com os lábios ainda pressionados na minha mão. O fogo subia e descia pelo braço, indo e vindo, enquanto gemidos escapavam pelos meus dentes trincados.

— Edward — gritou Alice. — Olhe.

— O que foi, Alice? — perguntou Carlisle.

Alice esticou a mão e bateu na bochecha de Edward.

— Pare, Edward! Pare agora!

Minha mão caiu de perto do rosto dele. Ele olhou para Alice com olhos tão arregalados que pareciam ocupar metade do rosto, e ofegou.

— É tarde demais — disse Alice. — Chegamos aqui tarde demais.

— O que está vendo? — perguntou Carlisle, com a voz mais baixa.

— Só restam dois futuros. Ele sobrevive como um de nós ou Beau o mata tentando impedir que aconteça.

— Não — gemeu Edward.

Carlisle estava quieto. O puxão no meu couro cabeludo diminuiu.

Edward baixou o rosto até o meu e beijou minhas pálpebras, minhas bochechas, meus lábios.

— Me desculpe... me desculpe.

— Não precisa ser lento assim — reclamou Alice. — Carlisle?

— Eu fiz um juramento, Alice.

Eu não — rosnou ela.

— Esperem, esperem — disse Edward, levantando a cabeça. — Ele merece uma escolha.

Os lábios dele estavam em meu ouvido. Trinquei os dentes para não gemer e me esforcei para ouvir.

— Beau, não vou tomar essa decisão por você. Não vou tirar isso de você. E vou entender, eu juro. Se você não quiser viver assim, não vou lutar contra você. Vou respeitar o que você quiser. Sei que é uma escolha horrível. Eu daria a você qualquer opção que pudesse. Eu morreria se isso pudesse trazer sua vida de volta. — A voz dele falhou. — Mas não posso fazer essa troca. Não posso fazer nada, só acabar com a dor. Se for isso que você quer. Você não tem que ser isto. Posso liberar você, se for o que deseja.

— Não — falei, entredentes. — Eu quero... quero ser como você.

— Tem certeza? — sussurrou ele.

Eu grunhi. O fogo estava tocando com os dedos no meu peito.

— Tenho — eu disse, tossindo. — Tenho certeza.

— Saia do meu caminho, Edward — rosnou Alice.

A voz dele soou como um chicote.

— Eu também não fiz nenhum juramento.

O rosto dele estava em meupescoço, e não consegui sentir nada além do fogo, mas consegui ouvir o sombaixo dos dentes dele rompendo minha pele.

Crepúsculo - Versão Beau & EdwardOnde histórias criam vida. Descubra agora