O ódio queimando na minha garganta não era bem pela traição, que Camila já estava insatisfeita com nosso casamento eu já sabia e não a julgo, ela sabe que não a amo há algum tempo e eu não me deito com ela há meses, mas eu jamais esperava que ela escolheria Carlos, meu melhor amigo de infância, padrinho de nosso casamento e meu sócio na empresa para poder fazer tal coisa.
Fecho meus olhos e engulo com dificuldade o ódio que me engasga. Contei regressivamente, soltando o ar devagar. Consigo ouvi-los se agitando pelo quarto para colocar suas roupas.
— Carlos, sai daqui, por favor — digo da maneira mais controlada que posso.
— Amigo, olha, eu...— ele começa a se explicar mas levanto minha mão com o indicador ereto para que ele pare de falar.
— Não é o momento! Me deixe só com sua amante, por favor — digo, olhando diretamente para Camila que está me olhando enrolada no lençol, com os olhos banhando em água e vermelhos, assustada.
"Oh, Camila, se você tivesse me pedido eu teria te libertado dessa prisão que nos enfiamos". Penso comigo.
Sete anos de um casamento forçado pela pressão de uma paixão ardente e das circunstâncias. Camila e eu nos casamos quando eu tinha 21 e ela 20 anos. Estávamos apaixonados e apesar de achar que não estava pronto pra isso, Camila era tudo o que eu via e queria pra minha vida.
Minha mãe, apaixonada pela nora, deu todo o apoio do mundo e, quando descobriu que estava em estado terminal de um câncer que se espalhou por todo seu corpo, pediu para que eu me casasse para que ela me visse no altar antes de partir. Camila adorou a ideia já que ela sempre comentava sobre o quanto queria casar.
E assim foi feito, em um mês organizamos tudo e nos casamos, uma cerimônia simples mas não pequena. Minha mãe fez questão que todas as pessoas possíveis participassem, e foi o que aconteceu. Ela nos deixou um pouco depois que voltamos da lua de mel, tranquilamente, deitada em sua cama ao lado do meu pai, rodeada de amor e de seus amigos e familiares.
Meus devaneios me abandonam e me fazem voltar à realidade cruel que me encontro. Camila e eu somos muito amigos, eu jamais negaria se ela me pedisse para nos separarmos mas ela nunca comentou que já não aguentava mais.
— Como você pôde? — pergunto tentando parecer calmo, me sentando na cama de frente pra ela, mas não muito perto.
— Como eu pude o que? Me permitir ser amada? Me permitir sentir desejada? Você não me toca há meses, Murilo — ela parecia com raiva ao falar, a voz embargada do choro e a mão trêmula.
— Cá, eu...você sabe que...eu sei que a gente não tem se sentido mais, eu entendo você estar distante porque eu sei que eu estou distante. O nosso casamento caiu na rotina, eu sei, mas não é algo que não possamos conversar e resolver. Eu sei que não há mais amor entre nós, mas eu esperava que houvesse respeito ...— eu digo, e um silêncio absurdo preenche nosso quarto. Era difícil e duro com ela admitir que não a amava, mas ela já sabia disso — Mas me trair? Na nossa cama? Com meu melhor amigo...
— Eu sei que foi um golpe baixo mas eu queria que você sentisse — ela admite se levantando. Recolhe algumas peças de roupas jogadas e as veste — queria que sentisse pelo menos alguma coisa, mesmo que ódio...
Me levanto em silêncio e vou até o guarda-roupas. Pego uma mala grande e começo a colocar algumas peças minhas.
— O que você está fazendo? — ela pergunta num ar arrogante com o olhar triste.
— Indo embora! — respondo.
— Pare de fingir que se importa — ela diz num tom alto. A encaro por alguns segundos e vou até ela. Seguro o rosto de Camila e vejo aqueles olhos que, por tanto tempo, estiveram bem próximos dos meus. Olhos onde eu costumava me encontrar, me sentir em casa. Acaricio a pele macia de seu rosto.
— Eu quero que você seja feliz. Não serei eu a pedra no meio do seu caminho. Não seria justo com nenhum de nós dois — digo, depositando um beijo em sua testa. Assim que me afasto, sinto meu rosto arder ao receber um tapa forte.
— para de se fazer de compreensivo. Eu quero que você lute, brigue. Briga por mim, Murilo — ela diz puxando meu blazer, me colocando perto dela. Seus olhos agora já estavam marejados de lágrimas e eu não sabia o que falar — Briga por mim.
Seu pedido foi mais um sussurro. Abraço forte Camila, minha amiga, minha companheira. Ela soluça mas após alguns minutos, se acalma. Me mantenho ali pra ela.
•••
— Amanhã meu advogado entra com o pedido de divórcio. Não precisa se preocupar, farei o possível para que você fique bem e não saia prejudicada. Sei o quanto tem medo de voltar a ter a vida que levava — digo ao chegar na sala com minhas malas. Camila está sentada na cadeira da varanda. Ela teve uma infância e adolescência conturbada, trabalhou cedo, na rua, para ajudar em casa. Conta que diversas vezes, não tinham nem o que comer.
— Onde você pretende ficar? — ela pergunta.
— Não se preocupe, eu sei me virar — respondo. Dou um beijo na testa dela e saio do apartamento com minhas malas.
Já no carro, recosto a cabeça no volante e respiro fundo.
"Ok, pra onde vou agora?"
Não consigo pensar em ninguém que me faria bem agora, então decido ir para meu escritório. Vou passar a noite lá e amanhã encontro um apart hotel para ficar.
O sofá do escritório me será o suficiente, pelo menos por essa noite.
•••
— Jura, dormir no escritório? Pelo amor, Murilo, você é cheio do dinheiro, não era melhor ficar num hotel? — pergunta Henrique, meu amigo e advogado.
— Farei isso hoje — digo, respirando fundo e passando a mão no rosto.
— Cara, você tá um caco! Assim que alugar um lugar, me manda mensagem. Hoje nós vamos sair, te busco no seu endereço novo 20h, não aceito não como resposta — ele disse se levantando e abotoando o paletó. Henrique era bem convincente, não é atoa que tem renome no ramo do direito.
Ele odiava romances e dizia que isso era coisa de trouxa. Seus pais tinham um relacionamento violento na sua infância e acredito que isso o gerou traumas.
Enfim, agora preciso achar um lugar pra ficar.
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Amor proibido
RomanceATENÇÃO, SE VOCÊ É SENSÍVEL, CUIDADO! PODE CONTER GATILHOS. Uma garota de programa com um passado obscuro de traumas, desacreditada do amor e com o coração blindado. Um jovem empresário bem sucedido em busca de se sentir vivo outra vez, de se apaix...