Heloisa - Um amor seguro

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Murilo me deixa em frente ao endereço de Lorena. É difícil acreditar em tudo que aconteceu na minha vida nas últimas 48 horas. Spa, fazer amor, dormir junto, café da manhã de domingo. Luan me mandou mensagem perguntando como foi o evento, eu disse que passaria lá hoje a noite para contar tudo. Nós dois havíamos combinado que eu não trabalharia esse sábado e esse domingo por conta do evento e do trabalho da faculdade.

— Entregue em segurança — disse Murilo em tom brincalhão. Seu cabelo está desgrenhado e ele veste as mesmas roupas de ontem, apesar de termos tomado banho juntos. Sim, de ontem pra hoje, batizamos a minha casa inteira, transamos na sala, no balcão da cozinha, no meu quarto e no banheiro. Eu não sabia que eu era capaz de desejar tanto assim uma pessoa, que eu era capaz de sentir prazer tantas vezes seguidas.

— Obrigada! — digo e ele levanta uma sobrancelha como quem não entende — Por tudo, por ter ficado a noite, pelo café da manhã, por tudo.

Ele leva sua mão ao meu rosto e acaricia, me permito fechar os olhos por alguns segundos pra gravar esse momento na minha mente.

— Foi tão importante pra mim quanto pra você. Foi uma noite de primeiras vezes — ele diz sorrindo — Acho que mereço um beijo antes de você sair do carro, me comportei muito bem hoje.

Eu olho para minhas mãos e depois para ele. Ele me oferece a sua mão e eu lhe dou a minha. Enquanto ele me faz um carinho, percebo que não há mais aliança no seu dedo, fico me perguntando em que momento ele tirou que eu nem reparei. Apenas a marquinha de sol da aliança está ali.

— Tirei ontem a noite, quando decidi que queria passar a noite ao seu lado. Passou a ser um anel qualquer – ele diz, vendo que eu tinha reparado — Não precisa ter medo de se acostumar, eu não pretendo ir a lugar nenhum...

Eu olho para ele por alguns segundos e dou um sorriso, ele entende o significado desse sorriso então vem em minha direção, mais um beijo macio, refrescante, um beijo que quero muito sentir mais vezes. Nem ligamos para a presença do motorista.

— Eu realmente preciso ir — digo, dando um sorriso. Ele deposita um beijo na minha mão e minha barriga parece contorcer.

— Acho que você já pode me dar seu número, não? — ele pergunta. Confesso que não esperava por essa, o que ele está sugerindo? Um namoro? A gente nem se conhece o suficiente. Acho que ele percebe a insegurança em meu olhar — Tudo bem, eu aguardo mais um pouco.

Forço um sorriso pra ele e ele dá outro beijo na minha mão. Desço do carro e o observo partir. Ainda estou digerindo tudo.

O pessoal do grupo já havia chegado quando entrei na casa de Lorena. Coloco na mesa os lanches que fiquei de trazer e começamos com as ideias. Não importa o que tentamos inventar, tudo já foi inventado. Mas não dizem que tudo se copia? Me lembro de uma senhora que morava próximo à minha casa de infância, ela tinha uma horta e trocava suas hortaliças por materiais recicláveis. Garrafas pet, latinhas, óleo velho.

— Já sei, podemos fazer uma horta comunitária — digo e todos me olham com atenção. Explico minha ideia toda, mesmo sabendo que já existe horta comunitária, dou uns toques diferenciados. Todos os materiais recicláveis vão para algum abrigo ou orfanato para que eles possam aprender artesanato ou até mesmo, caso necessário, vender para arrecadar fundos. Além do mais, a população que morar no bairro da horta comunitária, poderá manter uma alimentação saudável sem gastar.

— Eu adorei a ideia — disse Lorena empolgada. Então, passamos elaborando com exatidão a ideia e aprimorando. Todos fomos colaborando com melhorias.

Após tudo pronto, nós nos despedimos. Peço um carro de aplicativo para a lanchonete onde marquei com Luan. Ele está extremamente ansioso e não para de me mandar mensagem. A lanchonete fica no centro, mais distante de onde estou.

Chego procurando por Luan, que está sentado nos fundos da lanchonete.

— Você vai me contar tudo! Você sumiu por um dia inteiro, só falou comigo hoje — ele diz, eufórico.

— Boa noite pra você também, amigo! Estou bem sim, não, não fui sequestrada, obrigada por se preocupar — digo debochando e ele revira os olhos.

— Como foi o evento granfino? — ele pergunta bebendo seu milkshake. Nem sequer me esperou pra pedir.

— bom, vou te contar do começo — digo e começo a contar sobre tudo pra ele. Do spa, mostro foto de como eu fiquei no final, das fofocas dos famosos e empresários, da ex dele, do leilão.

— Cara, ele pagou 4500,00 num quadro pra você? Amiga, ele quer casar contigo — ele diz e eu rio.

— Deixa eu terminar — digo rindo. Conto então do caminho pra casa, do convite que eu fiz a ele, do beijo.

— Você beijou ele? — Luan pergunta incrédulo. Em todos nossos anos de amizade, eu nunca beijei homem nenhum. Na verdade, não beijo ninguém desde...o falecido. Desde os meus quinze anos. Então saber que eu beijei alguém, faz Luan me encerar boquiaberto, em estado de choque.

Eu apenas concordo com a cabeça.

— Com certeza isso acabou na cama — ele diz e eu apenas dou um gole no milkshake dele.

— Amigo, foi muito diferente de todos os caras com quem já me deitei. Meu corpo ardia, meu corpo pedia por ele. Eu...eu fiquei excitada de uma forma que eu nunca fiquei antes — eu digo me lembrando da noite anterior. Respiro fundo.

— Eu conheço sorrisos assim, você está apaixonada — ele diz sorrindo e eu mudo de expressão na hora.

— Não, eu tenho tesao nele, é diferente — eu digo e ele faz cara de quem duvida.

— Continua me contando como foi e no final vai ver que está apaixonada — diz ele. Eu continuo, conto que dormimos juntos (nessa hora Luan fez cara de "eu te disse"), conto que ele tirou a aliança, do café da manhã e também de quantas vezes transamos e onde.

— Haja fogo — ele diz e eu apenas rio.

— Acho que estou apaixonada — digo olhando pro nada — Ele disse que eu estava.

— Como assim? — ele pergunta. Então conto da hora que ele me perguntou do dinheiro e como me senti. Naquele momento, a realidade caiu como um balde de água fria na minha cabeça. Tudo tinha sido tão especial até ali, que eu me esqueci de dinheiro, me esqueci de quem ele era e de quem eu era, esqueci que eu estava ali como Paloma e não como Heloísa, apesar de nunca ter sido Paloma pra ele. Me senti...decepcionada. E então, conto pra ele também de quando eu me fechei novamente e ele disse que estava apaixonado por mim e que sabia que eu estava por ele, independente do que eu dissesse.

— Mona, esse cara quer mesmo você! — ele disse — eu acho que está na hora de você mudar de rumo, amiga. Você precisa sair da vida, mudar de vida.

— E eu vou me manter como? Ainda não tenho trabalho como assistente social e só me formo daqui a quatro meses — eu digo me sentindo sem rumo — vou continuar na vida, pelo menos por enquanto. Se ele e eu tivermos algo, eu saio. Tenho minhas economias e vou conseguir me manter por um tempinho. Não quero depender de ninguém.

Luan apenas concorda e passamos o restante da noite fofocando e falando de coisas que nós dois não experimentamos, como por exemplo, um amor seguro. Luan já amou muito uma pessoa, mas não deu certo. Era um homem de família tradicional e com dinheiro, nunca aceitariam eles dois e então, o amor de Luan se casou. Mesmo casado, ele ia ver Luan, eles dormiam juntos mas ele sempre acordava sozinho, até que o homem, por vontade de sua esposa, decidiu morar fora. Foi aí que acabou a história de amor deles, mas Luan ainda lembra dele, tem uma foto dos dois em seu quarto.

Já eu, nunca tive a sorte de um amor. Quando eu achei que estava amando, era nova demais pra ver no que estava me metendo. E o que eu achei que seria o grande amor da minha vida, foi meu maior pesadelo.

Amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora