Murilo - Totalmente opostos

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— Olha, eu entendo você não falar seu nome verdadeiro para outros caras mas, poxa, estamos criando uma amizade aqui — digo tentando descontrair e dissipar o clima tenso que se instaurou.

Ela olha pra taça e brinca na borda com os dedos. Me encara por um bom tempo antes de falar algo, provavelmente considerando se deve falar ou não.

— Heloísa...Heloísa Barbosa — ela disse, ainda olhando pro vinho.

— Bonito nome — digo, então ela me olha e dá um sorriso sem jeito.

Continuamos a conversa e então descubro diversas coisas diferentes sobre ela. É uma loucura, nunca pensei que mulheres da vida seriam tão interessantes no seu íntimo. Ela faz faculdade, serviços sociais, sonha em ser assistente social e ajudar crianças e jovens que sofrem abusos. Sua cor preferida é vermelho, o que faz bastante sentido já que esse quarto tem bastante vermelho e seu vestido de cetim também é vermelho.

Estamos deitados com as cabeças em lados opostos, olhando pro teto e conversando.

— E eu nunca dormi com nenhum homem — ela disse e eu não consigo segurar meu olhar de surpresa.

— Nunca? — pergunto.

— Nunca! Eles sempre fazem o que querem e vão embora e...sinceramente...acho que é melhor assim — ela diz, tomando mais um gole do seu vinho.

— Eu nunca transei com alguém que não fosse a minha esposa — digo, naturalmente, mas logo questiono mentalmente o que disse — ex esposa...

— Somos totalmente opostos — ela responde, dando um sorriso amarelo. Parece estar pensativa.

— totalmente opostos — respondo. A nossa conversa continua por mais uma garrafa de vinho.

•••
Sinto seu cheiro cítrico, cheiro de frutas, o que parece combinar com sua aparência. Um cheiro gostoso.

Desfaço nosso abraço que apesar de rápido, me parece ter renovado.

— Muito obrigado e...espero nos vermos mais vezes — digo, foi muito bom conversar com ela, sou sincero em minhas palavras mas não acredito que eu volte aqui novamente. E pareço ter soado sarcástico ao falar isso já que nem pertencemos ao mesmo tipo de bolha social.

— Sabe onde me encontrar e, obrigada pela gorjeta — ela diz, dando um sorriso e então olha pra Henrique — Tchau!

Ela sai caminhando em direção a um grupo de garotas, o salão já está quase vazio, se passa das três da manhã.

— Gorjeta? Ui, pelo visto essas cinco horas lá em cima foram boas. Vocês demoraram a beça — Henrique diz me cutucando — você realmente está parecendo melhor.

— Tá tá, vamos embora! Tô cansado — digo já indo pra porta. Estou realmente exausto.

•••

A manhã passa completamente corrida, reunião com parceiros de fora, investidores, encontros comerciais.

O bom de estar atolado é que não fico pensando na cena da Camila na cama com Carlos. Não estou pronto mais sei que em breve esbarrarei com ele na empresa. Estou me preparando psicologicamente para esse momento.

Henrique disse que já deu entrada no pedido de divórcio e está tudo certo. Tento não canalizar todas as minhas energias nisso, o que tinha que ser, já foi.

Disco o ramal da minha secretária.

— Aline, vem na minha sala por favor — digo e desligo. Logo ela aparece na porta. Aline é uma jovem dedica, acaba de completar vinte anos e já é uma excelente profissional. Sempre posturada e bem vestida.

— Sim, senhor Murilo — ela diz a postos, com seu tablet e caneta na mão.

— Procura pra mim, por favor, imóveis à venda. Mas eu não quero casa, quero apartamento, cansei de casa — eu digo.

— Estão de mudança, senhor? - ela pergunta.

— Eu estou. Quero um com dois quartos, escritório, área de lazer e varanda. Se possível, cobertura, quero com piscina privada — digo, mexendo no celular para reservar uma mesa no meu restaurante favorito.

— Sim, senhor — ela diz — Assim que marcar uma visita, aviso ao senhor.

— Ótimo, obrigado. Minha agenda? — pergunto.

— O senhor tem treinamento com o setor de recursos humanos após o almoço. No auditório — ela diz.

— Perfeito! Obrigado.

Pego meu blazer e saio da minha sala. Vou precisar almoçar o mais rápido possível porque esses treinamentos sempre demoram, então o quanto antes começar, melhor.

Peço meu prato de sempre e suco de laranja. O cheiro do suco me lembra a menina de ontem, algumas lembranças da noite de ontem vem na minha mente.

Eu estava tão bêbado que nem me lembrei disso de manhã. Não acredito que Henrique me arrastou para um puteiro. Pelo menos funcionou, realmente me senti melhor.

Aquela menina era linda, Helena, Helen...algo do tipo. Tinha uma pele que parecia esculpida em mármore, cabelos longos e enrolados. Sua cor reluzia, cor de jambo.

Ela vestia um vestido vermelho que lhe cabia perfeitamente. Me recordo dela ter dito que faz faculdade, onde será? Me lembro que a casa noturna não era muito longe do centro, será que sua faculdade é próxima? Fiquei intrigado com ela, de fato. Não vou pesquisar sobre ela, não quero parecer um stalker ou algo do tipo.

Meu relógio apita uma notificação de mensagem. Como o mais rápido que consigo e volto pra empresa. O treinamento foi ótimo e é uma das partes que mais gosto de ser empresário, gerir pessoas. Sempre aprendo algo novo.

— Reunião, evento beneficente — disse Aline assim que saí do elevador.

— Ok! — quando abro a porta, ela me interrompe.

— Na sala de reuniões — ela diz.

— Ok! — rio e sigo para a sala de reuniões. Antes de entrar, já vejo Carlos sentado em sua cadeira em uma das cabeceiras. Entro e ele me encara, mas logo desvia o olhar.

— Bom dia, senhores! — digo, me sentando na minha cadeira, na minha cabeceira.

— Bom dia — foi a resposta em uníssono.

Teremos um evento beneficente e ele está sendo organizado pelos nossos setores mídias sociais e comercial. A ideia é juntarmos empresários de vários ramos e alguns famosos, emissoras e blogueiros para darmos bastante visibilidade.

Ainda não sabemos para o que arrecadaremos dinheiro, mas os setores responsáveis estão fazendo pesquisas.

Passo a reunião inteira tentando evitar os olhares de Carlos mas ele parece realmente interessado em me encarar. Quando o olho, ele disfarça. Tenho certeza que a tensão entre nós está palpável.

Quando a reunião acaba, todos saem e eu me encaminho pra porta, mas Carlos fecha a mesma e me olha com um olhar de súplica.

— Por favor, meu amigo, vamos conversar — ele pede e eu realmente não consigo pensar num motivo pra dizer não. Eu entendo que a traição veio dos dois lados mas, Camila e eu só estávamos juntos no papel. Estou tentando lidar com tudo isso.

Amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora