Estou dentro do carro com Carlos a caminho de uma de nossas distribuidoras para fazer uma inspeção que normalmente fazemos uma vez por mês, cada mês em uma distribuidora, de surpresa, quando entro no Instagram e vejo uma solicitação de mensagem.
Vejo o nome do amigo de Heloísa na tela e clico na mensagem, é um vídeo e uma mensagem.
"Eu não sei o que você fez com ela, mas continua, por favor"
Abro o vídeo e Heloísa está vestindo um pijama lilás de renda, com um microfone e uma taça nas mãos. Ela canta uma música da Rita Lee, "amor e sexo". A música fica perfeita na voz dela, o jeito que ela dança enquanto canta, como eu já disse uma vez, sexy sem ser vulgar. Ela é incrivelmente linda.
Assisto o vídeo mais de duas vezes porque é impossível não se encantar com ela.
— Não é a menina que te acompanhou no evento? — Carlos interrompe meu devaneio e no instinto, bloqueio a tela do celular.
— Quem? O que? Não, estou vendo um...uma...eu recebi — tento me explicar mas o nervosismo faz eu parecer uma lesma sequelada.
— relaxa, nem eu quando fui pego na cama com sua ex gaguejei tanto assim — Carlos ri e dá um tapinha no meu peito, mas ele vê que não o acompanho então sua expressão muda — muito cedo!
— Sim — digo — Isso aqui...sim, era ela!
— Tá na cara que tá rolando alguma coisa entre vocês! Seu olho está brilhando como não vejo há anos — ele diz com um sorriso sincero no rosto.
— Eu não me sinto assim há anos — digo, olhando pela janela.
Vejo o vídeo mais vezes no caminho para a distribuidora. Curto e mando uma mensagem para Luan.
"Espero que ela me deixe continuar"
A resposta dele não demora.
"Acredite, ela já está deixando. Do jeito mais seguro pra ela"
Não entendo de início a mensagem mas quando leio com mais calma, vejo que vai muito além do que eu imagino. Luan é o maior confidente de Heloísa, ele sabe tudo que se passa na vida dela e tudo que ela sente e sabe.
— Vamos lá ver se essa distribuidora está melhor do que os Zé ruela da que visitamos mês passado — diz Carlos descendo do carro.
— Aliás, como ficaram eles? Eu pedi um novo processo seletivo pra lá assim que saímos e solicitei a demissão de, pelo menos, três pessoas que anotei os nomes. Porra, dormir em cima das caixas em horário de trabalho? Se fosse no almoço, ok, mas no horário de trabalho? — reclamo a caminho da entrada.
— É, mano, tá foda. Vou verificar como ficou com a Claudinha do RH — Carlos disse entrando na distribuidora.
As pessoas acham de gerir um negócio é fácil, que por ter dinheiro a vida fica mais fácil. Será que não se questionam o quão difícil foi chegar aqui? Ou como é gerir mais de 1000 funcionários? Há funcionários insubordinados, preguiçosos, ambiciosos demais, arrogantes e os folgados. Gerir pessoas é saber lidar com todo tipo de gente, é saber se impor sem desrespeitar o outro. Por isso que Carlos lida com números e eu com pessoas, porque quando ele lida com pessoas, acontece o que está acontecendo agora.
Carlos está dando esporro em um funcionário porque o cara respondeu a um questionamento com "ah, qual foi, chefe?". Aí está o que eu disse, funcionários folgados. Não tiro a razão de Carlos porém depois vou conversar com ele em particular sobre o jeito de falar.
Continuamos a fiscalização da distribuidora, anotamos tudo que encontramos de errado para passar para o RH, eles passarão aos líderes daquela unidade.
Já no almoço com Carlos, ouço ele reclamar e falar dos defeitos dos funcionários. Tento destacar as qualidades para aliviar a situação.
Durante todo o almoço, penso em alguma forma ou desculpa para ver Heloísa essa semana, eu realmente não queria que ela continuasse trabalhando com isso mas eu não posso mandar nela, aliás, nem temos nada um com o outro.E se eu contratasse ela por um fim de semana? Ela não iria poder ficar na casa noturna e ficaria comigo. Mais tempo para eu fazê-la perceber que vale a pena investir em mim e mais tempos juntos.
Luan disse que apesar de ser terça, a boate irá abrir porque é final de mês e o movimento fica fraco. Vou lá hoje ver o que Heloísa acha.
Aline me manda uma mensagem avisando que marcaram o processo seletivo para o marketing e para o RH. Segunda, nove da manhã. Mais uma desculpa para vê-la hoje.
•••
— Alguém está quase morando aqui — disse Arthur assim que sento no bar. Acho que ele não gosta de mim.
— Pega leve, mona — o Luan interrompe — Heloísa ainda não chegou, ficou até mais tarde na faculdade por conta de um projeto que estão fazendo, mas disse que virá.
— Obrigado! Eu espero aqui — digo observando o salão meio vazio. Algumas meninas dançam juntas, uma está encostada no palco lixando a unha e dois caras estão no palco cantando.
— Tem gente que só vem pelo karaokê — disse Arthur — Não vai beber nada?
— Não, valeu! Hoje não tô afim — digo e ele continua mascando seu chiclete e me encarando. Não tira os olhos de mim nem um minuto sequer — Olha aqui, bofe, não sei qual a tua, mas se eu vir a Heloísa derramar uma lágrima sequer por você, eu quero que saiba que eu uso muito bem meu canivete. Ela não merece sofrer de novo.
De novo?
— Fica tranquilo. Eu tenho a melhor das intenções — levanto minhas mãos ao dizer, para que ele fique tranquilo e entenda.
Heloísa entra pela porta com um sorriso enorme e cumprimentando todos. Ela com a roupa mais normal do mundo consegue parecer arrumada. Uma blusinha creme, blazer lilás e uma calça jeans. Tênis brancos extremamente limpos, sua mochila de rodinha e sua bolsa.
— Ué, o que faz aqui? — ela diz se aproximando. Ela chega perto e me dá um abraço apertado. Sou pego de surpresa com o gesto, ela normalmente evita meus abraços. Seu cheiro cítrico me invade e eu desejo que ela não me solte nunca.
— Queria te informar que o processo seletivo será na próxima segunda, nove da manhã. Topa participar para ver como funciona? - pergunto dando de ombros e fingindo não me importar com sua resposta.
— Claro, por que não? — ela pergunta, ela está mais feliz do que ontem ao que parece.
— Ótimo! — digo esfregando as mãos.
— Ótimo — ela repete colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Tem mais uma coisa — digo.
— O que? — ela pergunta parecendo eufórica. Está nervosa.
— Quer passar o fim de semana comigo em uma pousada no Rio? — pergunto. Ela pisca algumas vezes, parece que deu pane. Fica parada me encarando.
— No Rio? Eu, é...eu tenho trabalho — ela diz apontando pro salão.
— E se for como minha acompanhante? Posso te pagar, só me dar o valor que quer — digo e ela olha para trás de mim. Com certeza Luan e Arthur fazem algo porque ela me olha de novo.
— Acompanhante ? — ela pergunta.
— É, por mim, você iria como namorada mas sei que não está pronta pra isso ainda e que ainda não nos conhecemos tão bem, então, acho uma ótima oportunidade para nos conhecermos e você não precisa perder dinheiro, pois estará a trabalho. Assim não te prejudico aqui — digo sorrindo. Aceita. Aceita.
— Tá bom, vou pensar num valor — ela diz sorrindo também.
— Ótimo! Te busco na faculdade sexta à noite, vamos direto. Nosso voo sai às 20h — digo dando um beijo em seu rosto.
— Como? Você já comprou as passagens? — ela pergunta incrédula.
— Eu não aceito não como resposta — eu digo dando de ombros. Ela ri e eu me despeço.
Deixar ela ali e saber que se deitará com outros me corrompe por dentro, mas sigo o caminho para a casa com um sorriso maior do que o do coringa. Nada me abala.
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Amor proibido
RomantizmATENÇÃO, SE VOCÊ É SENSÍVEL, CUIDADO! PODE CONTER GATILHOS. Uma garota de programa com um passado obscuro de traumas, desacreditada do amor e com o coração blindado. Um jovem empresário bem sucedido em busca de se sentir vivo outra vez, de se apaix...