Capítulo 8

0 1 0
                                    

   Nos dias que se seguiram após o pedido foi uma completa correria, os Distritais precisavam selecionar os cinco alunos que se destacavam no programa para fazerem parte do Pentágono. O grupo de reservas a presidente que seriam preparados para assumir o cargo algum dia. Recebemos uma pilha de exercícios e questionários para responder, eu não consegui ver Loene nesses dois meses que passaram. Ao menos o final do PGRP estava próximo e poderíamos nos concentrar para os preparativos do casamento.
   Keine andava meio cabisbaixo com o fato de ter que nos ver partir e tentava disfarçar isso o máximo que conseguia. Max e eu sempre dávamos um jeito de o manter ocupado conosco. O que acabava sendo bem fácil, pois Max era péssimo nos estudos e reclamava que estava ficando cada vez mais difícil acompanhar as matérias.
   Loene me contou que tinha feito uma amiga. Ela era uma das garotas de quem estava responsável e disse que a convidara para o nosso casamento. Eu fiquei feliz dela ter conseguido uma amizade genuína, afinal as duas passariam mais três anos juntas. Nós combinamos que a cerimônia aconteceria depois que eu saísse do PGRP e que ela pediria uma licença para se ausentar nesse dia. Após isso Loene retornaria para o seu dever de tutora e depois iria morar comigo na Residência Provincial.
   Os Distritais estavam mais rigorosos e nos cobravam mais empenho no estudo das leis e da história do país. O continente onde vivíamos era unificado, porém o seu rei foi destituído pelo povo e o território se dividiu em cinco países. Clermont e Satim se tornaram mais desenvolvidos em tecnologia e transporte, enquanto Tristain possuía um grande poderio militar. O Distrit de Aldday se destacava em riqueza de minérios, ao passo que o Distrit Ind tinha terras férteis para o plantio.
   Em nosso país tudo o que se plantava era repartido entre as famílias. Sem alguém para que os guiasse e investisse as quantias adquiridas pelos campesinos, que compunham a maioria da população em melhorias, eles passaram se sentir desnorteados. O que durou somente até Indy Alberthally Lineker, um dos camponeses mais ricos e estimado entre eles unir-se aos seus amigos próximos que também possuíam bens, formando os primeiros Distritais. Henry Gregory Valenstain, seu melhor amigo, ficou à frente dos Distritais. À pedido dos campestres, Lineker foi reconhecido como o presidente e passou a governar o país ao lado dos Distritais.
   Os cinco países então receberam o nome de seus fundadores de estado. Lineker nomeou o nosso país como o Distrit Indy, que era do tamanho do Distrit de Aldday. Os dois eram menores do que os outros. Distrit Indy ficava localizado no centro de toda essa extensão territorial.
   Lineker buscava o progresso, ele queria que a sua terra provinciana crescesse e se igualasse às outras e seus amigos pensavam da mesma forma. Três anos depois, em uma reunião com os Distritais, eles perceberam que não conseguiriam estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Então nomearam cinco patriarcas de pequenas fazendas com a insígnia de Chefes Provinciais.
   Não havia nenhuma tensão no ar, até alguns moradores começarem a escutar rumores sobre o desentendimento de Lineker e Valenstein. Os Chefes Provinciais estavam insatisfeitos com o comportamento dos camponeses e buscaram o apoio dos Distritais para dividir eles em classes. Os grupos que se mostrassem contra a forma de governar dos Chefes Provinciais seriam vistos como os membros da Resistência e os Camponeses seriam todos os favoráveis.
   Lineker acreditava que rotulá-los desse modo causaria justamente o contrário do futuro que planejava para o país. Sem conseguir chegar a um acordo, as consequências desse mal relacionamento foi tomada pela população que dividiu-se em opiniões gerando conflitos. Valenstain se voltou contra Lineker que parecia não confiar mais no amigo.
   Os dois divergiram em ideais e as brigas entre os grupos acabou levando à morte de Lineker. Sob suspeita do falecimento de seu presidente, os Distritais decidiram o exilar junto com seus seguidores. Qualquer um que apoiasse seria tratado como um traidor. Confiados ao poder pelo fundador, os Distritais assumiram o comando mas isso se mostrou mais difícil do que esperavam. A resistência e os camponeses iniciaram uma pequena guerra pela presidência. Para contê-los, os membros do Conselho colocaram o filho de Lineker como seu sucessor.
   Com mais pessoas inconformadas as classes se dividiram entre camponeses e Chefes Provinciais. O grupo da resistência era composto por alguns camponeses que protestavam de forma pacífica. E havia também os rebeldes, mas tudo o que sabiam sobre eles é que agiam das sombras e nunca deixavam pistas, apenas rastros de destruição por onde passavam.
   Criando o PGRP ao lado dos Distritais, Albergam sentia que o seu dever como sucessor havia sido cumprido e conseguiriam construir o futuro próspero que o seu pai sonhava.
   Max sempre acabava dormindo nas aulas de história e Keine tinha que ficar acordado até tarde com ele explicando sobre a aula antes das provas. Nós costumávamos chantagear ele com doces para mantê-lo motivado a terminar as tarefas. Quando nos distraíamos com os estudos ou durante o nosso tempo de lazer era fácil esquecer que fora daqueles muros os rebeldes ainda estavam atacando.
   Na manhã seguinte tinha dois guardas em frente à porta dos quartos e Keine havia sumido. Talvez devesse ter saído mais cedo para receber novas ordens dos Distritais já que o nosso tempo no programa estava no fim e voltaria depois. Mas ele não voltou. Keine e nenhum dos outros tutores estavam presentes na sala de aula naquele dia. Os demais alunos pareciam tão confusos quanto Max e eu, porém ninguém ousou perguntar o motivo da ausência deles.
   Um sinal que nunca havíamos escutado soou e o Distrital que estava com a nossa turma nos conduziu para o pátio central. Todos os oitenta alunos se organizaram em filas para ouvir as orientações. De relance vi que as tutoras também não estavam presentes. Cadê você Loene? Olhei ao redor mais só o que enxergava era a agitação dos guardas. O senhor Yervant e os outros 21 Distritais subiram em uma espécie de palanque improvisado e pediram por silêncio.
   — Hoje comunico a vocês sobre a morte de nosso atual presidente – disse o senhor Yervant gerando uma comoção de vozes. — Acalmem-se por favor. Sei que deixou a todos surpresos mais eu preciso que escutem atentamente. A partir de agora os seus tutores ficaram mais atentos ao seu desempenho nas aulas, é claro que isso vale apenas para os garotos.
   Com um gesto de mão os nossos tutores apareceram logo abaixo do palanque. Loene e Keine estavam com roupas mais parecidas com as dos Distritais. Algo mais formal. O meu olhar encontrou o de Loene que esboçou um sorriso fraco e desviou o olhar. Ela estava me escondendo alguma coisa.
   — Nós, os Distritais, estaremos avaliando cada um de vocês mais de perto para escolhermos o grupo que fará parte do Pentágono – falou um homem robusto que não conhecia.
   — Grayth Luster será o novo presidente. Ele é o último dos reservas, por isso, ao final do ano anunciaremos os cinco novos reservas. E nos próximos três anos os demais se dedicarão ao treinamento para a Elite Indy – concluiu o senhor Yervant.
   — Vocês podem retornar para os seus quartos. Os seus tutores os acompanharão.
   Voltamos a nossa rotina mais rápido do que esperávamos. Os Distritais observavam os nossos comportamentos, habilidades de luta, conhecimento sobre o país e os traços que moldavam o nosso temperamento. Eles queriam encontrar aqueles capazes de governar da melhor maneira possível.
   Mais de sessenta dias haviam passado e a popularidade de Grayth aumentava entre os camponeses. Fizemos as últimas provas e começamos a desarrumar o quarto que parecia maior sem as nossa coisas espalhadas.
   — Thom, me ajuda a arrumar a minha mala depois?
   — Eu penso em como você sobreviveria se tivéssemos ficado em quartos diferentes – digo e ele torce o nariz.
   — Você tem certeza que já vai arrumar a mala? – indaga Keine.
   Nós sabíamos que ele estava triste com a nossa partida mas não imaginei que também estaria tenso.
   — Iremos embora amanhã, se eu não fizer isso agora acabarei esquecendo de algo. Quer entrar na minha mala? – indago o cutucando.
   Ele permanece sério mas acaba abrindo um sorriso.
   — A proposta é realmente tentadora. Mas acho que terei que ficar por aqui mais um tempo – responde ele.
   Keine tinha a mesma expressão no rosto que Loene durante as nossas conversas. Ela passou a me evitar um pouco, então não pude perguntar o que estava acontecendo.
   Tivemos a nossa última refeição no internato e organizamos uma pequena festa de despedida para nós três. Keine parecia mais animado embora ainda o sentia meio aéreo às vezes.
   Levantamos cedo e terminamos de guardar o que faltava. O cocheiro de Max ia nos buscar naquela manhã. Quando retornasse para casa contaria com as dicas de Daphne para organizar os preparativos do casamento.
   — Vamos Mazinho. Os meus pais devem estar esperando ansiosos em casa – digo o apressando.
   — Eu estou fazendo o máximo que eu posso mais zíper da calça não quer subir. Você bem que podia... – começa ele virando para mim.
   — Nem pensar. Feche isso sozinho – retruco o interrompendo.
   Keine encara Max e balança as mãos demonstrando que não o fará também.
   — De onde vocês tiraram essa ideia? Não é nada disso. Eu só ia dizer que você bem que podia ter mais paciência.
   Eu cobri a boca com a mão para esconder um sorriso e Keine não fez questão de disfarçar a sua risada.
   — Pronto. Fechou.
   — Ótimo. Vamos – carrego a minha mala e abro a porta.
   Era a primeira vez que ia ao escritório dos Distritais. Os móveis eram de couro marrom que contrastavam com as cortinas brancas com uma pequena sala ao fundo. A porta se abriu e Brian passou por nós e esbarrando no meu ombro de propósito. Agarrei os braços de Keine e Max que pararam, cedendo. Ele entrou antes de mim e esperei do lado de fora com Keine.
   — Sua vez, não demore tanto lá dentro. Quero conhecer as novas docerias que abriram.
   — Certo.
   O senhor Yervant estava sentado com uma pilha de papéis na sua mesa e ficou em pé ao me ver. Ele abriu a boca mas hesitou e fechou novamente. Quando eu parei diante dele, a sua confiança havia voltado e sua postura estava firme.
   — Thomas, infelizmente você não poderá voltar para casa – disse o senhor Yervant.
   — O quê?
   O meu instinto me dizia que deveria sair de lá mas o meu corpo havia se petrificado. Aquilo podia significar mil coisas, mas eu só conseguia pensar em uma.

O Diário do PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora