O Diário do Presidente

Prólogo

   Do lado de fora da Torre Distrital a multidão ainda protestava em busca de explicações sobre a morte de Grayth Luster. Temendo que outra guerra se iniciasse os Distritais decidiram parar as investigações e um mês após o ocorrido já tinham um novo presidente pronto para assumir. Mas a rapidez com que isso aconteceu e esta ter sido mais uma morte presidencial sem respostas deixou os ânimos ainda mais alterados. Eles buscavam por esclarecimentos e os Distritais não sabiam o que fazer ou como explicar a morte de seu presidente.
   Da sala principal da Torre eu observava os revoltosos que se amontoavam ao lado daqueles que aguardavam para conhecer quem sucederia a presidência. Me detive ali por alguns instantes lembrando das histórias que ouvi de como era a anos atrás quando convivíamos em harmonia, apesar de alguns momentos de escassez e das regras a serem seguidas. O país ainda era recém criado naquela época mas possuía terras férteis com um futuro promissor, porém a queda do fundador fez a situação mudar e sem que houvesse alguém para guiá-los os grupos iniciaram uma disputa pelo poder que tão logo foi contida pelos membros do conselho colocando seu filho como sucessor.
   Seis anos depois Gally, filho do fundador, se reuniu com os Distritais para decidir o futuro do país. Como ele não pôde gerar herdeiros para darem continuidade a sucessão e tendo uma saúde frágil desde criança, sabia que não estaria no comando por muito tempo, e como presidente precisava direcionar os Distritais.
   Considerados a inteligência e fonte de toda a informação da criação do Distrit Ind, os Distritais criaram o Programa de Recrutamento Presidencial (PGRP). Ele consistia em treinar adolescentes de 16 anos para o cargo presidencial. Contudo somente os filhos homens eram permitidos se alistar, pois entendiam que as mulheres poderiam ser facilmente enganadas. Os adolescentes passavam a morar em um internato sobre a tutela dos Distritais que os ensinavam pessoalmente.
   O país estava começando uma nova fase e via nos jovens a chance de ter um futuro sem muitos problemas, desde que estes recebessem os ensinamentos certos. Ainda havia muito a ser reconstruído e as condições das famílias não eram boas, para tentar reverter essa situação os Distritais passaram a contar com o apoio dos Chefes Provinciais para remunerar os que conseguiam avançar no PGRP. Os que não fossem escolhidos para se tornar presidentes eram realocados para a Elite Ind, a corporação de soldados que protegiam o país de todas as ameaças, principalmente vindo das fronteiras.
   O Distrit Ind se reergueu depois de uma guerra sangrenta e de tomadas de decisões difíceis, fazendo com que o governo ficasse alerta com as fronteiras. Os aborígenes não poderiam se envolver com alguém de fora das fronteiras. Essa se tornou uma união proibida dentro do Distrit Ind, como forma de evitar que os seguidores e exilados de Valenstain se infiltrassem iniciando outra guerra. Assim como o país passou a ser dividido em classes ele também se dividiu em opiniões deixando tudo mais caótico. A unificação que o fundador tanto queria ficava cada vez mais distante.
   Eu entrei no programa com outro status, portanto nem os conselheiros nem os Distritais nunca ficaram sabendo que eu era filho de um estrangeiro rebelde com uma camponesa. A minha mãe sabia das regras mas estava completamente apaixonada pelo meu pai, e ele tinha uma missão, mas por ela acabou virando um desertor e não pôde retornar a sua cidade natal. A família da minha mãe não queria ser acusada de traição então a expulsou de casa.
   A minha origem deve sempre ser mantida debaixo dos panos. Nem mesmo eu posso continuar recordando do meu passado, seria muito arriscado até para os que me acolheram. Devo esquecer de tudo o que aconteceu há 12 anos, mas com a neve caindo lá fora é muito fácil deixar a minha mente viajar até aquela época.