3 Meses Depois

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Pov: Giyu Tomioka

  Já faz 3 meses desde o fim de tudo. E ela não veio cuidar de mim.
Não foi sua culpa, também estava ferida depois da batalha e não estava em condições de trabalhar cuidando de todos os sobreviventes pós-guerra.
  Disse aquilo brincando, mas que no fundo tinha um quê de verdade, do mesmo jeito, isso não melhora o fato do tédio enorme que me prende no cubículo branco com cheiro de antisséptico e doença.
  Já passei tempo demais nesse hospital, qualquer coisa que me fizesse sair dessa maca eu não negaria. Creio que eu saia logo daqui, todas as minhas feridas da batalha formaram cicatrizes, nada está mais entreaberto ou com perigo de haver hemorragia, apenas grandes cicatrizes. A do abdômen é a pior...
Mas, em proporção a esse tempo, andei pensando em muitas coisas.
Toc toc
  Volto minha atenção para a porta, um pouco de companhia no começo da manhã não ia mal.
— Tomioka! – realça uma voz animada abrindo a porta, ou melhor, quase derrubando a porta.
— Olá, Tanjiro – o respondo olhando sua agitação um tanto diferente.
Por incrível que pareça, descobri várias coisas novas mesmo sem sair para o exterior, dentro dessa sala branca, um ruivo apareceu para me ajudar junto com os médicos nos últimos 2 meses. Tanjiro foi uma parte essencial no meu processo de recuperação, querendo ou não, e ele ter saído vivo da Guerra era um alívio a mais para mim, saber que realmente conseguiu alcançar o que mais queria apesar de tudo.
Acompanho com os olhos ele se aproximando da minha maca me encarando emanando aquele ar de felicidade que só ele sabe fazer.
— Você foi liberado! - desembucha de uma vez.
  Ergo os olhos, nossa, isso foi o que eu mais pedi.
— Finalmente - Sussurro deixando um sorrisinho escapar, mexo-me ao sair da maca, agora tenho coisas para arrumar, e pensar sobre o que fazer e onde vou.
— O médico vai vir daqui a pouco aqui te auxiliar melhor, mas nada o que você não saiba. - o Ruivo veio me seguindo a cada passo que dava e reunia coisas minhas junto comigo para guardar. O que não era muitas coisas, ao ficar no hospital, li alguns livros atuais sobre financeiro para saber o que iria fazer agora que não era mais caçador de oni. Me ajudou bastante e uma descoberta para saber que gostava de ler sobre esse assunto, além de tirar um pouco o tédio do local.
  Tem também algumas roupas que o hospital disponibilizou, eram apenas essas as que tenho, nada mais para levar a minha casa.
  Casa. Como será que aquele caos está?
— Sabe, mesmo que você não vá mais ficar aqui, vai ter que continuar vindo. – Tanjiro inicia num tom de voz reduzido uma conversa mais séria.
Penso um pouco antes de responder.
— Sim. Não vou deixar a psicológica na mão. – nesse temporada que passei no hospital, além de me tratarem fisiologicamente, trataram meu psicológico. Não pedi por isso, até fiquei meio constrangido, mas não cobraram nada e me fez muito bem.
  Descobriram que eu tenho depressão, me explicaram que é o nome que deram para esse sentimento que tenho até hoje, mas estou melhorando aos poucos, já notei, sim.
  Percebo que o jovem lança um sorriso verdadeiro de canto, orgulhoso, talvez? Não sei. E se apoia na escrivaninha onde deixa alguns dos livros. Alguma coisa passa na cabeça dele.
— Aliás, você precisa de roupas novas. Vou te levar num lugar, acho que vai gostar. – diz esperando minha reação.
  Aceito sem reclamar, não preciso nem comentar.
  A porta do quarto é aberta, eu e Tanjiro viramos os olhos ao mesmo tempo ao perceber que era o médico entrando.

~

  A friagem é pior do que a neve que preenche toda a calçada do centro da cidade, suspiro e envolvo meus braços um ao outro cruzando o peito tentando não aparentar sentir todos os pelos do meu corpo arrepiarem.  
  Kamado está na minha frente guiando entre as diversas lojas atrativas da cidade. Dou uma leve olhada em algumas e aparentam ser aconchegante, pessoas estão bem vestidas, com camadas de roupas e com alguma bebida quente em suas mãos, volto a olhar o caminho quando percebo que o ruivo parou em frente a uma lojinha lilás e rosa, não tão atrativa quanto as outras. Ele abre a porta com cuidado, um sino soa mostrando que há clientes entrando, e então, duas figuras conhecidas aparecem de repente no meu campo de visão.
  Uma menor vem de encontro ao menino o abraçando com os dois braços com saudade.
  Kanao está bem diferente de como imaginava.
— Ele veio. – diz o mais novo mirando seus olhos roxos interrompendo o abraço, algo havia entre os dois só de olhar como Tanjiro parecia um cachorrinho aos seus olhos.
  A morena olhou para a entrada e me observou. Me aproximo aos poucos com passos largos, sinto bem em vê-la como está mudada, ela também vem até mim e agacho um pouco para envolvê-la com os braços de forma simples.
— Que bom que está bem, Kanao. – Digo em seu ouvido. Eu e a Menina Borboleta mais nova começamos a nos dar bem um pouco antes do fim da Guerra, quando precisávamos confiar um no outro para que funcionasse as teorias de batalha, e afinal, temos coisas parecidas.
  Separando do abraço, ela me encara sem saber muito bem o que dizer mas um sorriso suaviza em seu rosto.
— Fico feliz que tenha melhorado. – a morena me analisa cuidadosa. Ela, com o cabelo escuro solto, roupas banais de inverno e bochecha mais coradinha, posso dizer que também está superando seus traumas na medida do possível.
— NÃO ACREDITO! – grita sem medo a mulher rosada no balcão que correu na minha direção sem me dar chance de vê-la completamente e já me apertou entre seus braços fortes, tenho que admitir que me pegou de surpresa.
  Reclamo internamente sentido como se meus ossos estivessem todos se tocando agora somando com o frio que sinto.
  Ela me solta sem demora e o ar volta em meus pulmões, e olho de novo para Mitsuri lançando um sorrisinho de canto.
— Você está ótimo, Tomioka!! Quanto tempo! – ela olha com ternura e orgulho.
  Minha orelha esquenta com tanta atenção sem saber o que falar exatamente, é automático para mim não saber lidar com elogios. Apenas sustento o olhar.
— Quem está aí? – Uma voz soa rabugenta do outro lado da loja.
  Não esperava ver Iguro Obanai tão cedo. Não contenho a surpresa quando o avisto sem as faixas em sua boca que usava quando era hashira, não imaginava que havia um corte desse tamanho cicatrizado. Usando uma blusa listrada e uma calça jeans, de longe da para reconhecê-lo.
  Vindo até mim, ele apenas acena a cabeça em minha direção.
— Tomioka. – pronuncia meu nome com desgosto. O clima pesa um pouco.
  Penso duas vezes antes de fazer o mesmo, o antigo Hashira da serpente nunca gostou de mim.
  Crio atitude e vou até ele para dar um aperto de mão de "manos". Iguro me encara julgando o tempo todo, a diferença de altura parece um tanto intimidador já que ele é mais baixo, então, o rapaz bate na minha mão como o esperado, escondo a total falta de zona de conforto que estou agora com a feição neutra.
— Mitsuri, eu preciso de roupas, de frio principalmente.– Digo ao máximo parecer natural depois dessa tensão. Poupei meu tempo não dizendo que não tenho outra roupa minha sem ser a única presente em meu corpo.
— Ahh! Claro! Você teve sorte, vieram hoje peças novas masculinas...
  E assim foram Tanjiro, Kanao, Mitsuri e Obanai jogando mil dicas de estilo e conjuntos sobre cada roupa escolhida e enfim consegui então várias peças. Enquanto pagava, já havia diálogo descontraído rolando entre todo mundo. Descobri que os dois antigos Hashira estavam pagando o aluguel do estabelecimento e começaram a fazer venda de roupas, uma loja bem completa, aliás. Kanao estava ali de jovem aprendiz, para ajudar ambos. Voltaria ali mais vezes, disseram também que começaram a namorar há um mês, isso foi um tanto esperado, nunca fui de reparar na vida alheia, mas até mesmo Iguro mostrava um certo interesse em Mitsuri no passado.
  Como cada um estava conversando uns com os outros, não percebi quando alguém me cutuca. A menor aparece do meu lado me entregando um gorro com as antigas cores do meu Haori de Hashira com um pompom preto peludo no topo.

  Encaro ela sem saber o quê dizer, está muito bonito

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  Encaro ela sem saber o quê dizer, está muito bonito. Mas antes de eu iniciar a fala, a morena é mais rápida, e lança um olhar que diz tudo.
— Tem alguém que quer muito te ver além dos pensamentos. – com aquela voz suave ela indica com a cabeça para que eu pegue o presente.
  Levanto as sobrancelhas, não esperava ter notícias de Shinobu tão cedo.
  Dou um leve aceno para Kanao e não consigo conter um sorriso que tive que prender por tanto tempo no hospital.
— Obrigado. – a encaro sentido meu coração começar a palpitar um pouco mais rápido quando eu o pego. — Diga a ela que eu agradeci.
  Despedindo-se de todos, prometi que voltaria ali algum dia e rumando para as mais partes do centro.
  Coloco o gorrinho me sentindo realmente feliz.
  Ando agora pelas ruas, procurávamos um mercado, parei para pensar e minha casa vai parecer abandonada pela sujeira acumulada de 3 meses. Produtos de limpeza vão ser essenciais.
— Então foi a Kanao que te deu? – Tanjiro perguntou um tanto confuso. Acho que ele ainda não ligou os pontos.
— Sim. Foi a Shinobu que fez. – Digo como se meu coração não estivesse pulando a cada segundo. É estranho sentir isso de novo depois de três meses, só que me sinto mais preparado para revê-la em breve.
  Ele me olha com um sorrisinho malandro.
— Certeza que vai usá-lo até o inverno acabar.
— Absoluta. – contenho um riso e sigo em direção do mercadão a minha frente. Pronto para comprar produtos para desinfetar até o teto e coisas para a casa.

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Adivinha quem o nosso querido Tomioka vai reencontrar no próximo capítulo? 👀
Aí gnt que gracinha escrever a vida deles pós-guerra, a vida de nenhum deles é perfeita, ainda tem resquícios dos traumas, mas é assim que a vida é 🥹.
  Digam aí o que estão achando que eu leio tudo! ;)
(Imagem retirada do pinterest!)

Entre Perigos e Amores - Tomioka & Shinobu Onde histórias criam vida. Descubra agora