Final Digno

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Pov: Shinobu Kocho

  Entramos no estabelecimento, realmente é um grande salão, mas com poucos enfeites, alguns desenhos de grandes e pequenos flocos de neve nas paredes e alguns bonecos de neve também.
Bem iluminado e com mesas e cadeiras bem charmosas pegamos uma mesa de dois que ficava afastado do centro, quando sentei, percebi que dava uma boa visão ao palco daquele rapaz que tocava violão, que por hora descansava.
Por ser uma mesa de dois, ambas as cadeiras ficavam em direções opostas, não quero isso. Pego a alça de uma das cadeiras e a coloco colada na outra, as duas ficando de frente ao músico.
O moreno acompanha com o olhar a modificação sem dizer nada. Apenas nos sentamos e ficamos abraçados de lado sem dizer nada. Um silêncio confortável que não precisava de justificativa.
Começo a relembrar do fim da Guerra, da última vez que o vi. Cada um sem um rumo ao certo, o que será que o mais velho fez depois desses três meses?
— Como vai sua vida, Giyuu? - Começo um diálogo mais sério, não é atoa que ficamos sem nos falar por três meses.
Ele não diz nada do primeiro momento.
— Passei um bom tempo no hospital da cidade. Três meses. Muitas das coisas que ocorreram foi lá dentro, Tanjiro Kamado passou a me visitar e me auxiliar na minha recuperação, além de comprar alguns livros que pedia para ele. - ele dá uma pensada. - Acho que o que eu mais fiz naquele lugar foi ler. Sobre tudo, mais principalmente economia. Sabe, depois de sair da Organização precisava entender melhor como iria viver. - ele respira fundo agora e começa com uma voz mais entretida. - Dias atrás vim aqui na cidade para ver se via alguma proposta de emprego ou algo do tipo para iniciar carreira. Por acaso consegui um teste por uma semana em uma academia, se o dono gostar do meu desempenho vou trabalhar lá. – Tomioka diz um tanto animado, achei até meio fofo.
— Meu Deus, isso é incrível! – Começo a rir, não de jeito maldosa, mas de quão surreal seria isso.
— Fico feliz por você, um dia vou passar lá para te ver então.
— Pode aparecer, mas não vou pegar leve. – diz desafiando.
  Levanto a sobrancelhas.
— Pode apostar. – respondo na mesma moeda. Então algo me vem a mente.
— Sei que você passou a maior parte do tempo na ala hospitalar e que Tanjiro te ajudou, fico feliz de saber isso, mas tem alguma coisa que mudou em você, Tomioka. - o encaro tentando decifrar o que é.
Ele me olha de volta, seus olhos pareceram ficar mais duros.
— Me medicaram, fui diagnosticado com Depressão. Mas agora eu tô tomando uns remédios e fazendo terapia. - Ele diz meio sem graça, não é um assunto confortável, mas eu acho interessante, eu me preocupo com ele.
— Nossa, Giyuu, eu fico realmente aliviada com isso, não que seja algo legal, óbvio que não, mas que você esteja seguindo o tratamento e se ajudando a sair dessa situação. Estou orgulhosa de você, mesmo. - ponho em palavras como me sinto, ele merece isso, depois de toda essa vida. Acho que todos merecemos. Faço um carinho de leve no seu braço.
Seu olhar duro some, tomando em seu lugar um que não sei compreender ao todo, mas ele parece agradecido. E pela primeira vez vejo suas bochechas tomarem um pouco de cor.
Ah! Eu o fiz sentir como eu senti mais cedo! Aí sim!
— Valeu, Nobu. - Ele diz sem jeito mas vejo que é com sinceridade. Giyuu se aproxima e beija o topo da minha mão com carinho. Sinto meus sentimentos a flor da pele, variava meu olhar entre seus olhos e sua boca. O moreno não escondia esse desejo também.
Não podia beijá-lo, não agora. Se começasse, não iria querer parar. Tem que ser em um lugar mais... privado.
Giyuu teve o mesmo pensamento que eu pois segundos depois soltou minha mão e pegou sua bebida dando um belo gole. Faço o mesmo.
— Mas e você? Como foi esse tempo? - ele pisca forte tentando mudar de assunto. Dou um risinho fraco, eu o deixei perdido.
— Nem sei por onde começo... Depois da última vez que te vi, fui imobilizada no hospital por duas semana. Na verdade era para ser três ou até mais, porém eu dei meus pulos e cuidei do que precisava sozinha, e durou menos tempo. O pessoal do hospital ficou impressionado com as minhas habilidade e até perguntavam se pretendia cursar medicina ou algo do tipo. - topo um pouco de fôlego lembrando a história. — Então eu me recordei que Muichiro Tokito ainda tinha contato com sangue de oni. Eu tinha desenvolvido um antídoto que funcionava parcialmente durante a guerra, apliquei nele mas os resultados foram meio a meio, ele tinha consciência, mas ainda sim a estrutura de um Oni. Enfim, eu precisava tratar ele, só eu poderia achar uma cura, então precisava de uma coma e um quarto naquele hospital para Muichiro. E assim fiz, pagava diariamente para usar uma das salas e nelas, Muichiro permanecia na coma enquanto eu estudava e testava curas possíveis o dia inteiro. Eu não tinha uma casa ainda, apenas a minha Mansão Borboleta que foi abandonada há semanas, e eu não tinha o luxo de poder ir e voltar todo dia de lá até a cidade.
Tomioka me observava com atenção escutando tudo com um olhar surpreso. Dava uma bebida no drink uma hora ou outra mas continuava na escuta.
— O pessoal do hospital ficou impressionado com as minhas pesquisas, viram que realmente tratava sério o mais novo com "anomalias", como eles diziam, e deixaram de me cobrar o quarto. Agradeci a todos, que mais tarde fiz amizade com eles e então desenvolvi o antídoto que, até agora, está progredindo muito bem no antigo Hashira. Reta final. E esses dias eles me deram alguns casos simples do hospital para treinar caso for cursar medicina escolher lá para estagiar e trabalhar. - Respiro fundo depois de tanto tagarelar. Minha boca até ficou seca.
— Você é uma gênia, Nobu... - ele não esconde a surpresa estampada em seu rosto. - Não está morando mais no hospital, né?
— Ah, não. Pelo dinheiro da Organização que a gente ganhava quando era Hashira, comprei uma casa na cidade, bem próxima ao hospital Pierre, eu e a Kanao moramos lá.
Giyuu estampa um sorriso no rosto que me faz vidrar nisso.
— Você leva jeito, Kocho. Devia fazer faculdade de medicina, todos vão te adorar. É focada do início ao fim. - dou um vislumbre de sorriso, é bom ser elogiada. Principalmente por quem tem seu coração na mão.
— Mas eu sei que não foi só isso que aconteceu na sua vida. Você mudou seu jeito de pensar, e começou a se cuidar.
Aceno de leve com a cabeça.
— "Se amar primeiro", lembra?
— Claro. - Seu olhar muda. — Olha, acho que só tem um problema nessa frase.
O observo interessada.
— Se a gente esperar o tempo certo, a gente não vai sair do lugar. - ele toma mais um gole da bebida e quando vejo, o moreno acabou com sua taça.
Não está bêbado o suficiente para dizer coisas sem sentido, não, ele está bem lúcido, mas dizendo as coisas com um pouco mais de leveza.
Penso um pouco na sua frase. Ela fez sentido, se nunca tivéssemos nos falado além do necessário quando éramos hashiras, as chances de estarmos aqui seriam as mínimas possíveis.
— É, Giyuu... acho que a gente já perdeu tempo demais - Digo mostrando uma concordância no que disse. Começamos a nos encarar por um tempo e então os acorde do violão tomaram vida num ritmo animado, nunca tinha ouvido aquela música.
— Que dançar comigo, Nobu? – Giyuu segura minha mão só que agora de forma convidativa e animadora. Não esperava isso dele, talvez ele esteja menos sóbrio do que eu pensava.
  Reviro os olhos fazendo pouco caso.
— Só não pisa no meu pé, escutou?
  Caminhamos entre as mesas até o palco em frente ao músico. Estava bem cheinho, tinha alguns casais adultos dando um passinho ou outro em conjunto, algumas adolescentes dançado com as amigas, casais que pareciam ter nossa idade, e até um idoso aproveitando o ritmo sozinho.
  Siguimos até um local um pouquinho afastados mas que ainda sim é a pista, os acordes da música parece acabar e uma nova começa. É um pouco mais lenta e leve
  Olho para cima encarando o moreno, ele se aproxima mais de mim e apoia a mão na minha cintura, não saindo por baixo, entrelaço meus braços ao redor de seu pescoço, apenas centímetros nos separava, olhava esses olhos de oceano que eram preenchidos com uma pupila dilatada, ele é muito lindo, nunca parei para pensar nisso exatamente, mas não havia motivo para evitar pensar sobre isso. E senti que precisava lhe contar.
— Você é muito lindo, Giyuu. – Sussurro sem medo. Verdades precisam ser ditas de vez em quando.
  Seu olhar parecem sorrir, ele aproxima mais ainda seu rosto do meu e toca nossos narizes, deslizando de um lado para o outro. Isso faz cosquinha.
— Você é linda demais, Nobu. – Sussurra sem mais delongas. — Te amo. – Giyuu diz com tanta certeza e carinho que parece que meu coração ia explodir.
— Te amo mais que tudo. – Verdades sempre precisam ser ditas.
  Nossos lábios decidem se encontrar em perfeita sintonia, a boca quente e desejável junto com a minha aproveitavam ao máximo o momento.
  Introduzo minha língua sentindo a sua em contato, uma sensação gostosa me preenche, as borboletas da minha barriga insistem em me esquentar cada vez que os beijos se intensificam.  
  Sua outra mão toca minha lombar nos fazendo fica colados intimamente, cada célula do meu corpo está queimando.
  Empurro sua cabeça para mais próximo e os beijos molhados continuam sem cessar.
  Giyuu interrompe-os buscando mais ar, ele estava ofegante, seus olhos agora mostravam desejo puro. Safado...
  Respiro retomando o fôlego, iria retomar o beijo mas viro um pouco a cabeça evitando. Vou a seu ouvido.
— É melhor a gente não continuar aqui. – Do jeito que a gente estava, era capaz de piorar.
  Me afasto um pouco com dificuldade, e Giyuu faz uma careta de dor claramente querendo mais. Ele está mais corado do que jamais vi.
  Seguro sua mão e começo a puxá-lo para a saída.
— Você quer continuar? – ele diz baixinho para que só eu ouça.
— Claro que quero.

~

Pov: Autora

  Shinobu e Tomioka começaram a namorar depois de alguns dias, o moreno soube escolher bem o anel que agora a mais nova admira sempre quando acorda para mais um dia cheio como estagiária e estudos para o vestibular de medicina.
  Trabalha duro o dia inteiro, mas quando tem uma folga, decide sair com Giyuu ou chamá-lo na sua casa, e às vezes nem precisa, ele se diverte passando o tempo com a Kanao. Sua cunhada de consideração e ele tem muitos assuntos em comum, e adora falar para ela como Tanjiro age igual um cachorrinho perto dela, a irmã Borboleta deixa claro que ele é exatamente assim com Shinobu também.
  Quando Tomioka sai mais cedo do seu trabalho, agora definitivo, de Personal Trainer de segunda-feira, espera sua namorada nos bancos da sala de espera com algum docinho no bolso para ela, afinal quem não merece depois de trabalhar igual um condenado? Mas antes de fazer isso, quando prepara suas coisas para sair da academia, passa um tempo conversando com Ross, seu chefe, que por incrível que pareça, os dois viraram amigos, claro que com a ajuda de uma lista de "Como ser agradável" que a Shinobu fez para ele. Nunca se sentiu tão grato e humilhado ao mesmo tempo, mas funcionou no final.
  Os traumas do passado ainda continuam a atormentar o casal, e a pressão de lidar consigo mesmos diminui ao passar do tempo com o carinho e cuidado um com o outro. Não são só dias de glória, brigas também acontecem, mas acabam se entendendo e entram num consenso de quem foi mais idiota ter que repetir em voz alta "eu fui o mais idiota", isso sempre ajuda a aumentar o ego do outro.
  Obanai e Mitsuri continuam lutando para suprir a demanda na loja, depois que Giyuu fez propaganda da "Melhor loja da cidade" para todos os crossfiteiros da academia em que trabalha, agora é como se lá fosse o ponto para comprar roupa de esportes, a Rosada adorou os novos clientes que cada vez chegavam mais e mais por causa da sua simpatia e atendimento. Iguro cuidava mais da parte financeira e transporte, o frete de produtos para a loja só aumentava, sua solução foi juntar as despesas comprar uma camionete preta para ele mesmo ter que fazer isso. Mitsuri disse que tinha certeza que Iguro iria pagar milhares de multas por causa da paciência no trânsito dele, Obanai disse que tentaria ao máximo apenas xingar e não atropelar nenhum retardado, isso não ajudou em nada o humor da mulher.
  Os dois moravam juntos, então arrumavam tempo de lazer normalmente em casa preparando alguma comida gostosa que a Rosada via na televisão. O antigo Hashira apenas concordava com as receitas e no final ficam uma maravilha. Mais de uma vez ele citou que ela devia vender essas comidas que faziam, mas insiste em dizer: "Talvez em outra vida".
  Em finais de mês, os dois casais decidiam se reunir na casa de algum deles, era mais frequente a casa de Mitsuri e Obanai, tinha mais espaço e sempre convidavam Kanao a vir junto, menos Tanjiro, Shinobu não permitiu que o chamassem, ela não o queria tão perto da Kanao, o que Giyuu achou meio sem sentido.
  Teve até uma vez que Mitsuri chamou os antigos Hashiras para esses eventos. Obanai ainda tinha contato com Sanemi, que comprou uma moto e viaja por aí, ele não sabia muito bem o que andava fazendo da vida, mas tentaram o convidar, não houve retorno.
  Himejima começou a fazer licenciatura para pedagogo, cuidar e ensinar crianças sempre foi seu hobbie, além de ter adotado a Gi, menininha que Shinobu e Tomioka tinham salvado de um dos ataques paranormais que era comandado por Hinaki sem saberem. A única pessoa que ela tinha era Rayan, e seu irmão morreu sendo um traidor, a solução foi o Himejima a adotar. Ele compareceu no evento, e trouxe junto a Gi, ela decidiu ficar perto de Tomioka o dia todo, e criou uma brincadeira em que Shinobu e Giyuu eram a mãe e o pai dela. A Kocho se derreteu com a história.
  Muichiro só mantia contato com a Menina Borboleta pelo seu tratamento no hospital que foi um sucesso e voltou a ser humano completamente. Era difícil acreditar que ele tinha apenas 14 anos, Muichiro entrou em uma escola estilo internato e estudava o dia todo, foi uma surpresa ele aparecer.
  Tengen foi outro que não compareceu, ninguém tinha noticias dele, só sabiam que estava junto com suas três mulheres.
  Rengoku apareceu com sua aparência de sempre, puxou o saco dos dois casais dizendo que já sabia que havia interesse entre eles bem visível quando Hashiras. Nessa faixa do campeonato Iguro não perdia mais seu tempo ficando bravo por acharem o namoro dele e Mitsuri algo óbvio.
  Tudo acabou de madrugada com Kanao e Tomioka brincando de esconde-esconde com a pequena Gi enquanto Kocho e Obanai discutiam que algum momento Tanjiro irá pedir em namoro a Kanao. Rengoku explica como está sendo trabalhar com hotelaria para Muichiro e Himejima.   
  No final, todos se entenderam e foi um momento leve e divertido. Cada um seguiu a vida que pôde e conquistou. A guerra compromete sentimentos, ferimentos, loucura e morte, é impossível você sair do jeito que você entrou, mas sempre há uma esperança, ela pode parecer tola e irracional, mas existe.
  E enquanto existir amor, haverá esperança de viver, e faremos o que for necessário para isso continuar.

FIM

Entre Perigos e Amores - Tomioka & Shinobu Onde histórias criam vida. Descubra agora