16. Família Smith

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Negan Smith

Eu fui um homem covarde, por mais coragem que já tenha mostrado, me perdi na coragem e por isso criei filhos tristes.

Fui covarde e não consegui ficar em casa quando a Lucille me pediu, fui atrás dos remédios da quimio mesmo ela pedindo pra que eu ficasse com ela e as crianças, fui covarde porque eu não queria ver ela morrer, consegui os remédios e voltei mesmo sabendo talvez ela não estivesse mais viva quando voltasse.

Me recordo perfeitamente quando retornei para casa com os remédios da quimioterapia, encontrei meus filhos, Sam, Dean e Octavia, encolhidos em um canto da sala. Sabia o que aquilo significava antes mesmo deles me dizerem. Respirei fundo, soltando a mala no chão, e caminhei lentamente até o quarto. Lá estava Lucille, amarrada na cama, zumbificada. Não sabia como reagir, senti um turbilhão de emoções dentro de mim. Peguei meu bastão, saí para o lado de fora e amarrei arame farpado nele.

Naquela noite, peguei meus filhos e fomos embora, enquanto a casa queimava atrás de nós, pois eu não consegui matar Lucille. Naquele momento, percebi que vivia com medo e decidi que não queria mais sentir medo. Para evitar o medo, parei de sentir qualquer coisa, deixei de me conectar emocionalmente com os outros, inclusive com meus próprios filhos.

Agora, tenho três filhos que me odeiam, e é a raiva deles que me motiva a mudar, a me tornar uma pessoa melhor. Sam é um homem bom, determinado e muito inteligente. Dean é engraçado, forte e a Octavia... A Octavia é exatamente o que Lucille queria que ela fosse. Ela é leal, destemida, capaz de fazer qualquer coisa pelas pessoas que ama. Me orgulho deles e sinto alívio em saber que nenhum deles é como eu.

Percebi que meu papel como pai não é apenas corrigir os erros do passado, mas também criar um ambiente de amor, apoio e compreensão para que meus filhos possam se tornar a melhor versão de si mesmos. Tenho trabalhado duro para reconstruir a confiança que perdi e para me reconectar emocionalmente com eles.

Sei que o caminho da redenção é longo e difícil, mas estou determinado a seguir em frente. A raiva e a tristeza que vejo nos olhos dos meus filhos são um lembrete constante do homem que fui e do homem que não quero mais ser. Farei tudo ao meu alcance para ser o pai que eles merecem, para ajudá-los a curar suas feridas emocionais e construir um futuro mais esperançoso.

E, acima de tudo, espero que um dia meus filhos possam olhar para mim e enxergar um homem transformado, alguém em quem possam confiar e se orgulhar. É isso que me motiva a continuar lutando, a enfrentar meus demônios internos e a me tornar o pai que eles precisam e merecem.

Achar a Octavia depois de dias, completamente abalada, pálida, machucada, foi um dos maiores castigos que já tive, ver minha garotinha em estado tão crítico e saber que eu poderia ter salvo ela, se não tivesse preso em Alexandria pagando por meus pecados.

—You are so Beautiful... — Cantarolei sussurrando ajoelhado ao lado da cama aonde ela estava adormecida, acariciando a bochecha pálida da garota— for me...

—try to see...— Olhei pra trás vendo Sam e Dean que se aproximaram de nós— Era a música que você cantava pra mamãe e pra gente em dias que estavam frios demais pra aguentar— Sam falou e eu concordei com a cabeça. — Eu nunca imaginei que iria te ver cantar outra vez.

—Nem eu, eu achei que não ia mais fazer tanta coisa pra falar a verdade— Virei meu olhar pra Octavia— A vida tem dessas...

Eu acariciei o rosto pálido da Octavia e senti a dor de todas as vezes em que falhei como pai. A música que eu costumava cantar para a mãe e para eles era um símbolo do amor e da união que tínhamos, e vê-los lembrar disso me trouxe um misto de emoções.

Além das sombras.•ᴄᴀʀʟ ɢʀɪᴍᴇs Onde histórias criam vida. Descubra agora