Capítulo 23

120 13 2
                                    

SEBASTIAN SAVÓIA

— Têm certeza do que está prestes à fazer, pai? – questiono-o novamente, recebendo seu olhar repreendedor, como se me obrigasse à questioná-lo mais uma vez.

Salvatore Savóia sempre foi um exemplo de pai, esposo e chefe. Mas nunca gostou de ser questionado de qualquer decisão, muito menos uma escolha como essa. Sempre me mantive em silêncio, apenas analisando como ele toma suas decisões, como escolhe e joga cada peça desse jogo complexo e embaraçoso.

Já compreendo que ele não dá um passo em falso, muito menos uma pomta sem nó. Quaisquer que for as ações do meu pai, terão um motivo complexo e perigoso por trás. Aprendi isso com a vida, apenas o observando. Sempre desejei ser mais do que ele, ser reconhecido e respeitado como ele é. Mas entendi com o tempo, que apenas de chegar em seu nível, já é uma grande conquista.

Não é atoa que ele é o chefe da Máfia Italiana. Nem sempre fomos de todo o território italiano, nossa associazione, era dividida em três famílias poderosas, meu tataravô foi um dos fundadores dessa traíde e consequentemente, quem acabou com ela de uma vez por todas. Ele nos tornou o centro da Itália, a única máfia à comandar esse território e consequentemente nos tornamos exemplo. Após isso, outras máfias começaram entrar em guerra para se tornar a única família principal.

— Chefes – o senhor Collalto se levanta, assim que entro ao lado do meu pai, na sala de reuniões da nossa sede.

O homem de idade ainda aparenta saúde, mostrando que sempre será um grande capo de Veneza. Após a nossa estadia na Sicília, anos atrás, meu pai decidiu mudar toda a sede para cá. Então colocamos pessoas confiáveis em prol da nossa amada Veneza, onde minha avó, Zamara, teve seu filho e o amou. Mas ao lado do homem algo me chama atenção, seus filhos estão sérios enquanto fazem a guarda pessoal do pai.

Conheço-os da época que nos iniciamos. Vicenzo Collalto é o mais velho, sendo o próximo capo de Veneza, assim que eu tomar a cadeira de chefe na máfia. O mais novo é o Cristian Collalto, que demonstra, somente pelo olhar, ter a mesma personalidade atrevida de Donatto e Matteo. Mesmo que veja isso em seus olhos, seu rosto não transparece isso, como se não confiasse em nós perto do seu amado pai e capo.

— Sentem-se! – meu pai ordena, sutilmente.

— O que devo há honra, chefe? – o senhor Collalto pergunta, assim que todos se acomodam em suas cadeiras.

— Vejo sua ansiedade, Collalto – meu pai brinca, bebendo seu uísque que o soldado lhe deu – Não se engane, gosto dessa sua pontualidade e certeza. O assunto que venho à tratar pode ser benéfico para ambas as famílias.

— Estou ouvindo.

— Sabe que estamos sob ataque, precisamos nos fortalecer e criar uniões mútuas. – vejo o senhor Collalto coçar a barba, como se quisesse adivinhar o que se passa na cabeça do meu pai – Vejo que seus filhos cresceram, se tornaram Uomini d'onore¹, o que não deixa passar batido como são fieis à nossa associazione.

— Agradecemos o reconhecimento, chefe – Vicenzo fala – Somos fiéis à família até o nosso último suspiro de vida, vivemos, matamos e morremos pela nossa associazione.

Não duvido disso, ragazzo – meu pai responde, após acender seu charuto – Mas o meu motivo aqui não é elogiá-los.

— Qual é o motivo, senhor? – Cristian pergunta, tão nervoso quanto os outros.

— Tenho moças na minha família, mulheres essas que já estão com idade para se casar e crias laços para nos fortalecer – como se todas as peças se encaixa-se, o senhor collalto abre um sorriso satisfeito, sabendo onde isso chegará – Quero casar uma de minhas ragazzas com seu filho mais velho, Vicenzo.

— Isso é uma grande honra, chefe. – diz sorridente, enquanto seu filho não demonstra a mesma alegria– E poderia saber qual será minha futura nora?

— Já está convicto que aceitará a oferta, Collalto? – questiono.

— Sim, senhor. Mesmo que eu não saiba qual das moças será a esposa de meu filho, não vejo motivos para negar tal coisa. Meu filho realmente está na hora de se casar, não vejo oferta melhor que essa para nós fortalecer.

— Concorda com seu pai, garoto? – meu pai pergunta, agora para Vicenzo.

— Sim, senhor. Meu pai sabe o que é melhor para nós, se é benéfico para a nossa associazione, farei sem remediar.

— Pois bem, já que estamos todos de acordo. – meu pai olha pra mim – Filho? O que acha?

Eu, como primo e irmão dessas mulheres que não foram educadas como as outras moças dessa associazione, deveria responder:

Acho que isso é uma loucura, não apenas por se tratar de um casamento com os Collalto, qual não sabemos suas ídoles e costumes de baixo de um teto, mas também, por nossas ragazzas serem um pouco temperamentais, que foram treinadas para não seguir regras. Elas irão cortar nossos paus e temo o que a escolhida fará com o pobre do Vicenzo.

Mas eu apenas respondi:

— Não há acordo melhor – exibo um sorriso ensaiado, apenas concordando com o plano, sei lá qual, meu pai deve ter.

— Perfeito! A escolhida foi Jane, a nossa ragazza mais velha. – meu pai abre um sorriso, juntamente com o senhor Collalto. Mas eu arregalo os olhos, assim como Vicenzo, enquanto o seu irmão se engasga com o uísque que tomava.

Pobre Vicenzo, esse não durará um mês.

MIA DOLCE, HARPER! - 3Onde histórias criam vida. Descubra agora