O restante da semana no trabalho, foi uma maravilha, e passou voando. Hoje já era sexta-feira. Eu passei a semana inteira de branco, mas hoje eu estava me sentindo calma demais. Sabe quando você está tão calma, que chega dá uma lerdeza? Era exatamente assim como eu me sentia. Depois da situação toda com o Lucas, ele e a Bárbara ainda nem sinal de reconciliação. Poxa, eu gostava tanto dela. Queria que eles se acertassem, mas não depende de mim.
A minha mãe hoje pela manhã que veio reparar nos fios de contas no meu pescoço, eu estou aqui sentada no sofá, esperando-a voltar para termos a nossa conversa. Ela foi no quarto pegar algo, eu espero que não seja um cinto.
Mainha voltou com um álbum de fotos na mão. Eu não entendi nada.
Adalgisa: chegue mais perto filha, quero te mostrar uma coisa
Me aproximei de mainha, bem mais tranquilo porque ao menos apanhar, eu não iria.
Adalgisa: Aqui estão algumas fotos da sua avó, quando ela foi iniciada. Aqui quando ela saiu de faixa e tudo, veja como ela estava linda. Eu estava lá, foi muito emocionante.
Realmente. Minha avó estava linda. As fotos estavam um pouco desgastadas pelo tempo, mas era possível perceber, sua roupa de baiana branca, e ela sorrindo segurando um objeto de metal, que eu não sabia o nome, mas já vi na mão de várias mulheres nas festas que frequentei no Terreiro da Casa Branca.
Adalgisa: Veja, essa faixa dela, eu quando mais nova queria porque queria usar também.
Adara: E, por que não usou mainha? A senhora não gosta mais de lá?
Adalgisa: Olha, minha filha, todos pensam que eu me afastei do candomblé e fui para igreja, pelo seu pai. Mas isto não é verdade. Eu me afastei, porque vi coisas que não concordava. Hoje também me encontro afastada da igreja, mas continuo com a minha fé e acreditando em Deus, rezando, na minha casa.
Adara: E a senhora acredita nos orixás?
Adalgisa: Claro que acredito, minha filha! Creio em Deus, no espírito santo, e nos orixás. Conheci um candomblé, que a simplicidade era parte do asé. Aos poucos as coisas foram mudando, e está como está hoje. Muita pena e paetês, as pessoas só faltam colocar uma alegoria nas vestes dos Orixás, mas eles não querem nada disso.
Adara: Eu fiquei com medo de dizer a senhora que eu estava indo ao encontro de Dona Lu. Foi ela quem me fez essa limpeza, e eu me sinto muito bem viu mainha? É sério. Me sinto bem também, quando eu converso com o mar. Mas Dona Lu disse que eu era filha de Osun.
Mainha sorriu, fechou o álbum e pegou na minha mão.
Adalgisa: Eu sei. Dona Lu é uma pessoa maravilhosa, já me ajudou muito também. Ela é uma mulher abençoada. Mas minha filha, eu preciso te dizer que pense bem, se é candomblé mesmo que você quer para sua vida.
Adara: Eu sei, mainha, Tia Lica já conversou comigo também, a respeito disto. Que é uma religião séria e eu concordo. Acho tudo muito bonito, mas sei que preciso ir com calma.
Adalgisa: Não é à toa sua paz quando está com o mar. Sua avó era de Yemanjá. Porém, foi confirmada ekedy de Odé. Ela sempre me alertou que você poderia herdar a espiritualidade dela, e agora tudo está se concretizando como ela disse. Eu só quero que você tenha certeza, e saiba onde está se metendo.
Adara: Pode deixar mainha, eu vou me aproximar com calma. Procurar conhecer primeiro. Não pretendo me cuidar com ninguém, só com a Dona Lu mesmo. E ela disse que eu nem preciso fazer nada agora.
Adalgisa: Tudo bem, então. Assim me tranquilizo.
Adara: Sabe, eu achei que a senhora fosse brigar. Dizer que eu estava com demônio, ou sei lá.
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Eu, Adara
RomanceQuando fui chuva, cai. Quando fui água, fluir. Quando me perdi, te encontrei.