O final de semana passou rápido. Eu silenciosa por fora, mas barulhenta demais dentro da minha cabeça, porque muita merda passava pela minha mente. Ainda bem que acabou antes mesmo de começar. Imagina o que ele poderia fazer comigo, se descobrisse que eu transei com o irmão dele? Meu Deus, eu não quero nem imaginar.
Eu não contei para o Rodrigo, sei lá, medo dele ir tirar pergunta e os dois acabarem brigando. Nunca imaginei que o Bruno fosse esse tipo de homem, ele não dava indícios deste comportamento. Mas é isso, a surpresa sempre vem de onde menos esperamos. Ainda bem que a UFBA estava em greve, eu não precisaria vê-lo por um bom tempo.
Sempre imaginei que se um dia eu estivesse de frente com um homem agressivo, eu iria revidar, iria bater nele também. Mas a verdade é que a gente só sabe como vai reagir quando passamos pela situação. Não dá para julgar aquela mulher que sofre de violência doméstica, se na hora da situação, você se vê indefesa e age da mesma maneira. Com medo. E eu já presenciei muita merda do meu pai com a minha mãe quando mais nova, dentro de casa por causa de alcoolismo. Não sei o que ele poderia ter feito comigo, se o Lucas não entrasse naquela hora, e me sinto estranha ao imaginar as possibilidades. Ele mudou o olhar em segundos, parecia outra pessoa. Sonso. Dissimulado. Sínico.
O final de semana passou rápido, com mainha em casa eu tratei de passar base nos pulsos para não mostrar as marcas que ficaram. E o Lucas cumpriu com a palavra dele, não contou para ela sobre o ocorrido, mas trouxe a Bárbara para me dar um apoio e foi ótimo passar o final de semana com ela. Me distraí a beça, fomos até na praia de ondina espairecer. Acho que encontrei uma boa amiga.
Segunda-feira. Seis horas em ponto eu estava de pé. Rezei quando levantei e arrumei o meu quarto. Fiz uma comida e coloquei uns dois mistos com suco para o lanche da tarde, era o meu primeiro dia de trabalho e eu estava ansiosa. Como eu acabei não visitando a Dona Lu no sábado, decidir que iria hoje pela manhã, e de lá iria para a academia. Coloquei tudo na mochila que precisaria para me arrumar mais tarde, peguei a lancheira e sair de casa era umas nove e pouca. Tinha mensagem de bom dia do Rodrigo, me desejando sorte mais tarde, sorri; E outra da minha mãe, avisando que conseguiu um bico como cuidadora em um hospital e não voltaria para casa hoje, só amanhã, e também me desejando boa sorte. O Lucas já tinha saído antes com a Bárbara, e quando fui fechando a porta para trancar, tia Lica me chamou, me deu um abraço tão gostoso, que não dava vontade de sair. É desse tipo de afeto que a gente precisa para seguir com a vida.
O ônibus estava com todos os assentos ocupados, na terceira parada entrou um rapaz da igreja, que vendia fones de ouvido descartáveis. Ele entregou um para cada e começou a dar um sermão e citou o Salmo 23 da bíblia, eu ouvi tudo quietinha e respondi assim como outras pessoas com um amém. Eu não comprei o fone, mas o rapaz me deu um sorriso confortante e disse Jesus te abençoe jovem.
Eu desci do ônibus algumas paradas depois, cheguei a casa da Dona Lu que me recebeu com muito carinho como sempre.
Dona Lu: Eu estava separando as folhas para o seu banho agora mesmo minha filha. Você já tomou café? Acabei de fazer um chá de capim santo, vou pegar um pouco.
Eu aceitei de bom grado. O chá cheirava a casa toda e estava uma delícia.
Não precisei dizer uma só palavra sobre o que aconteceu com o Bruno, a dona Lu, ela me abraçou forte, afagou meus cabelos e sussurrou no meu ouvido: você tem um anjo da guarda forte, menina, não precisa temer nada nem a ninguém. Eu respirei fundo e sabia que ela sabia. Não sei como, mas sabia.
Terminamos o nosso chá, e ela disse que antes do meu banho eu teria que passaria por uma limpeza branca simples, devido às influências dos últimos acontecimentos em minha vida, que ela sabia que foram muitos. Confirmei com a cabeça, mas não disse palavras. Eu não fazia ideia do que seria uma limpeza branca.
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Eu, Adara
RomanceQuando fui chuva, cai. Quando fui água, fluir. Quando me perdi, te encontrei.