Dancing In The Street
⇄ ◃◃ ⅠⅠ ▹▹ ↻Observar o nascer do Sol é um dos poucos prazeres gratuitos que temos fácil acesso. O momento exato, a hora mais escura da noite e em um piscar de olhos aquele globo de fogo está brilhando inocentemente aos nossos olhos, como se não pudesse nos dar e tirar vida ao bel-prazer.
Imagine, só por um breve instante, que os homens de terno desviassem suas atenções das telas reluzentes de seus notebooks caros para a luz natural e bela no céu. Imagine, se eles soubessem que pagaríamos por um respingo de atenção do astro dourado?
De repente, esperando ansiosamente na beira do cais, esperando, esperando... O dia nunca chegaria? O que aconteceu, afinal de contas? Passava das sete, não era possível ver o sol... Não havia nada ali. O jornal local estava cheio de respostas, mas não respondia nada, realmente.
"Em breve!
Frascos de Luz Solar estarão nas prateleiras de todas as lojas astrológicas do mundo! Não perca tempo, adquira já o seu na pré-venda pelo telefone +1 407 028-1998"
Encarei o pequeno vidro transparente, com 10 ml de luz alaranjada. Sacudi de um lado para o outro e finalmente tirei a tampinha de madeira. Era quente e radiante, mas não tinha aquela sensação de coração quentinho de quando eu admirava-o surgindo no horizonte.
Cada um dos meus amigos tinha um pouco de sol em um potinho como o meu. Brilhos nos olhos e a sensação de ter algo tão divino quanto um pedaço de céu nas mãos cercava todos, quase todos...
Não havia nada para se comemorar, verdadeiramente. Existiam aqueles que não poderiam, nem que quisessem muito ter acesso a tal luxo. Perguntava-me como tiveram coragem de tirar uma das poucas coisas que nos igualava como seres humanos. A sentença "O sol nasce para todos", já não fazia tanto sentido.
Na calada da noite eu observava a Lua, cabisbaixa porque seu maior desejo estava sendo dividido em partes pequenas e vendido por aí. Me apeguei ao hábito de cativar a linda Selene¹, quando ela vinha fazer sua curta passagem pela janela do meu quarto.
Coloquei o potinho ao meu lado e imaginei que seria uma felicidade para ambos. Apolo e Selene estavam se vendo antes do eclipse, se viam todos as noites. Era uma vantagem, certo? Selene agora tinha um pouco do seu Astro em cada esquina.
Então por que ela brilhava menos noite após noite?
Sua resposta penetrou lentamente através das enormes paredes do grande castelo de Morfeu².
"Meu amor pelo Sol é infinitamente maior do que a minha vontade de ter sua presença física aos pedaços. Poderia vê-lo uma vez a cada mil anos, mas o veria inteiro. Ele voltaria inteiro para mim."
Meu egoísmo humano gritou em fúria. Não poderíamos viver sem a Lua.
"Pelo menos temos você, Selene, para todos, todas as noites."
Temos a lua, temos a lua... meu inconsciente repetia como uma oração.
"Até resolverem me distribuir em embalagens econômicas e humilhar a minha existência. Assim como fizeram como o pobre Sol."
"Eu sinto muito..."
"Não se preocupe pequeno. As crianças não têm culpa. Não podemos lutar contra isso. Talvez perdendo o meu brilho, eu perca o valor. O que veriam demais em uma pedra cinza e gelada? Eu dependia do meu Doce Apolo. Eles não pensaram nisso, não é? Um grande 'suicídio culposo'. Vocês estão fadados ao fim, garoto. Mesmo que devolvam meu Astro para seu lugar de origem, ninguém nunca é o mesmo depois de tantas mutilações. É astronomia."
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Até Que A Música Nos Separe • LS
FanfictionCom uma mãe extremamente narcisista e a morte de seu pai, o garoto de cabelos cacheados teve certeza de que tudo que ele almejava estava em Los Angeles, e era para lá que ele iria. Uma curiosidade sobre Harry, é que ele vê o mundo de um jeitinho dif...