Às vezes eu tenho a falsa sensação de que posso me amar novamente. Então eu olho para trás e quase rio em desespero. Em qual momento eu me amei? Porque tudo que vejo são resquícios do que restou pela quantidade de vezes que eu tentei me autodestruir. E pedaços quebrados pelas vezes que tentei ser algo além do que os outros queriam que eu fosse. Sempre falhando. Como se todas as versões de mim não fossem toleráveis. Então, ser eu mesmo era o que restava. E o preço que paguei foi ser usado. Porque se mostrar de verdade é ser vulnerável, é estar indefeso, sem armas para uma possível guerra. E temos um livre arbítrio tão limitado. Me entrego aos pedaços e machuco um inocente, ou sou o inocente e aceito os pedaços?
◃◃ ⅠⅠ ▹▹
Louis tinha aquela alma elétrica que às vezes entrava em curto-circuito quando ele se empolgava demais sem um motivo aparente. Ele tinha ideias mirabolantes a todo momento, como se fosse impossível para alguém como ele não estar em movimento.
Impossível para alguém como eu não me contagiar.
Da mesma forma que era impossível acompanhar seus passos.
Mas teve aquela tarde específica. Uma tarde fria no condado de Mariposa. Na casa dos Tomlinsons. No terceiro quarto do andar de cima. Com uma frestinha de luz atravessando o tecido fino da cortina branca.
Meus olhos mais abertos do que nunca. Minha memória acesa, como uma fogueira feita com os melhores galhos achados naquela floresta escura que me tornei sem intenção alguma. Minha audição ativa, querendo desesperadamente captar cada som. Meu corpo tão disposto a não se mover para não interromper aquilo de algum jeito.
E tudo isso para assisti-lo dormir.
Porque era raro vê-lo tão quieto.
Impossível para alguém como ele não estar em movimento.
Era tão bonito. Eu tive vontade de chorar.
E tinha aquela mechinha de cabelo. Ela se tornou algo em algum momento.
Mas o que seria tão importante em um monte de fios de cabelo a ponto de me deixar tão tristemente animado?
Serei desonesto ao não responder.
No fundo eu sei a resposta, mas ela se nega a vir à tona, até mesmo para mim.
Eu me encontrei em um impasse, uma pequena discussão comigo mesmo. Olhos azuis são encantadores, entretanto, olhos azuis fechados e acompanhados de cílios cheios e paz indescritível também me hipnotizam.
Mas o que seria tão importante sobre olhos fechados? Seria atrás das pálpebras onde se esconderiam as almas? Porque não posso lê-lo agora.
Eu sei a resposta. Estou sendo desonesto.
E eu estive me perguntando...
Alguém já fez música com o som de uma respiração?
Mas o que eles veriam de tão importante em lábios entreabertos, um respirar lento e calmo? O que veriam?
— No que tanto pensa?
No que tanto penso?
Aquela coisa que chamam de estar apaixonado a ponto de não saber explicar. Ser aquele tipo de pessoa chata e melosa que diz: "Só se apaixonando para saber". É parecer meio maluco por encarar alguém por segundos seguidos de minutos inteiros e horas inacabadas, pensando em como sua existência mexe consigo. Do que chamam isso mesmo?
— Amor?
— Talvez...
— Babe? — saí do meu transe quando senti um toque conhecido — Está tudo bem? Está meio aéreo...

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Até Que A Música Nos Separe • LS
FanfictionCom uma mãe extremamente narcisista e a morte de seu pai, o garoto de cabelos cacheados teve certeza de que tudo que ele almejava estava em Los Angeles, e era para lá que ele iria. Uma curiosidade sobre Harry, é que ele vê o mundo de um jeitinho dif...