CAP 12

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These Boots Are Made for Walkin'
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Nossos hobbies ficam cansativos quando se tornam uma obrigação, tenho reparado nisso ultimamente. Era fácil escrever música na maior parte do tempo. Era fácil porque eu não tinha uma data de entrega, não tinha ninguém para agradar além de mim mesmo. Não havia pressão.

Não é assim que deveria funcionar, não é? Arte não é como um texto comercial. Não é como uma propaganda ou texto científico. Arte só... acontece.

Como daquela vez que eu estava observando o sol às cinco da manhã de uma segunda-feira e me veio à cabeça o romance entre ele e a lua que tantos falam. Eu não pensei em palavras rebuscadas. Não achei que precisasse delas quando eu tinha um astro e um satélite em minhas mãos para fazer deles o que minha mente quisesse.

Quando me deparei com o primeiro trabalho que a faculdade me exigiu eu petrifiquei. Eu tinha uma data limite que ultrapassava os meus limites. De onde eu tiraria uma grande ideia para escrever sobre algo até então desconhecido por mim, como o amor.

Depois de vinte e cinco folhas de papel e a minha ameaça iminente ao futuro da terra, decidi sair de casa e procurar amor na rua. Talvez eu encontrasse algo.

Lembrei de todas as vezes que as palavras apenas se enfileiravam uma a frente da outra, e então na linha de baixo. E de uma hora para a outra eu tinha uma música pronta. E não era como se eu tivesse procurado por isso. Foi só um pensamento bobo que passou pela minha cabeça e virou algo que pudesse ser cantado.

Como um louco, comecei a observar os casais que entravam na Nora's House. Tentei procurar respostas nos olhares que lançavam um ao outro, nos toques sutis, a forma que se comportavam. Não encontrei nada além de mais dúvidas. E talvez, só talvez, eu tivesse ficado com um pouco de inveja.

Reflexivo, encostei-me no balcão, batucando a caneta no caderno quase sem páginas. O que eu não estava entendendo, afinal?

O amor era tão difícil assim mesmo? Eu vi trocas de olhares tão óbvias, por que não era óbvio para mim também?

— Tio Harry — franzi o senho ao ouvir uma voz infantil.  — Nono está chamando você para comer conosco no jardim.

Na mesma velocidade que uma cabeleira ruiva surgiu a minha frente, sumiu. Eu ainda tive tempo de ver suas bochechas vermelhas e sorriso tímido.

Meu coração se aquiesceu de forma inexplicável. Mad tinha nove aninhos recém feitos e corria daquela forma danada de criança que está sempre buscando aventura, e isso sempre queria dizer um joelho ralado ou cortes nas mãos.

— Hey, Mad — chamei e isso a fez parar e se virar para mim, jogando os cabelos rebeldes para o lado. — Do que me chamou?

— Nono me contou que você era um pouquinho da família agora. Ela disse que você não tem papai e que sua mamãe mora longe, mas nós... — ela pausou, os olhinhos brilhando como uma luz no fim do túnel. — Talvez nós pudéssemos ser sua família. Se quiser.

— Pode me chamar daquele jeito de novo?

— Tio Harry?

— Ai meu Deus — coloquei a mão no rosto para tentar não chorar. — Eu quero ser o tio Harry — a chamei para um abraço.

— Tio Hazza está oficialmente convidado para o Jardim dos Horan.

Fiquei de pé e peguei Mad no colo.

— Então teremos que ser rápidos antes que os portais se fechem, hum?

Ela abriu os braços como um avião, já sabendo que eu a faria "voar" até o nosso destino.

Até Que A Música Nos Separe • LSOnde histórias criam vida. Descubra agora