um Deus barrado pelo destino

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De repente um trovão; aquilo assustou Yibo, o fazendo esconder o rosto nas mãos por alguns segundos até relaxar novamente.

— Tem medo? — Xiao indagou.

— Um pouco. — sussurrou.

Eles haviam pedido um café quente para passar o frio e um doce cada.

— Por quê?

— Quando minha mãe era viva, eu morava com ela e meu padrasto. Ele era... Bravo e violento. — o pedido chegou e eles ficaram quietos, logo em seguida a senhora que lhes atendeu voltou para a cozinha. — Barulhos repentinos me assustam, porque me lembram dele e penso que posso acabar me machucando.

— Sinto muito. — era sincero, o Wang apenas sorriu minimamente e começou a tomar seu café.

— Eu me perguntava sobre tudo quando era criança. Minha mãe dizia que eu era muito inteligente pra minha idade, minhas perguntas eram difíceis. E depois que ela morreu, eu comecei a me perguntar sobre o universo, sobre você. — contou. — Porque quando ele era violento eu pedia por ajuda na minha cabeça, de qualquer pessoa. E quando ela morreu, eu também pedi. Eu acho que implorei. Mas ninguém nem nada veio, eu sempre fiquei sozinho e com medo. É por isso que... Te acho cruel e sádico.

— Tem toda a razão de pensar assim. — abaixou o olhar para o café, se sentindo culpado. — Eu não tenho controle de tudo, o destino tem mais controle que eu.

— Hm... — assentiu minimamente.

— Porque se eu tivesse, eu atenderia alguns desejos. Eu os escuto e alguns são mais altos que os outros. Eu queria poder atender esses desejos altos. — confessou, vendo apenas o jovem tomar o café. — Quando algo é dito e é verdadeiro, é como os desejos, quanto mais verdadeiro, mais alto. Foi por isso escutei o que você disse e vim atrás. Não posso fazer nada sobre os desejos, mas sobre as falas e pensamentos... Eu posso.

— Agora faz sentido. Mas eu não entendo.

— O quê? — estava bastante interessado no que vinha à seguir.

— Qual o sentido de ser um Deus e não ter todo o controle? No final das contas é o destino que é o Deus.

— Eu acho que estou lhe contando coisas demais. — riu consigo mesmo. — Mas tudo bem, não vou muito longe e depois vou embora.

— Vai me deixar? — parecia realmente magoado com aquela ideia.

— ... — Zhan franziu o cenho imediatamente.

— Me deixar aqui com as lembranças. — reformulou a frase, não queria demonstrar que estava gostado da companhia de Deus.

— Isso vai se resolver de alguma forma mais tarde. — deu de ombros e retomou ao pensamento anterior. — Bom, respondendo sua pergunta de antes, lembra do que Zhuocheng disse? Eu sou Deus deste universo, mas não de todos eles. Cada Deus mereceu ter um universo para cuidar e fazer com que outros evoluíssem. E eu cuido deste universo para vocês humanos evoluírem. Mas é como se eu fosse um... Corpo? — tentou encontrar uma analogia ideal. — Eu tenho meu corpo e em grande parte sou dono dele, como vocês humanos, entende? Só que às vezes, mesmo com muito poder, inteligência e autoconhecimento, não posso controlar tudo. Não posso fazer uma doença terminal se curar sem mais nem menos, faz sentido?

— Faz. — assentiu. — Então se nós humanos machucamos o universo, estamos te machucando?

— Sim. — não hesitou em responder.

— Você tá mais pra "mãe Natureza" do que um Deus.

— Chame-me como preferir, no fim das contas a ideia é a mesma. — sorriu. — Mas não se engane, eu não sou esse Deus dessas religiões, um ser somente de luz e totalmente alheio às maldades e sombra. Eu sou um ser equilibrado, eu tenho os dois em mim, o bem e o mal, como vocês humanos têm. Afinal, está na Bíblia, eu os fiz à minha imagem e semelhança.

— Eu realmente não gosto dessa religião, não tive boas experiências... Com esse tipo de gente. — sussurrou ao finalizar o café e começou a comer o doce, era um pão de kasutera, uma receita japonesa de um tipo de bolo extremamente fofo e macio. Yibo amava, era sua comida favorita.

— Não se preocupe com isso. — sorriu gentilmente e tocou a mão dele brevemente. — Se lhe incomodam, então ignore-os. Sabe que o correto é não dar muita atenção e respeitar, de longe. Não deve concordar com eles, mas do que adianta rebater e implicar se eles não darão ouvidos. Isso é problema deles mais tarde.

— Eu sei. — também sorriu, era inevitável. Sentia-se confortável conversando com ele. — Pelo menos eu não tô maluco.

— Longe disso. Você é um dos humanos mais sãos. — olhou a hora no relógio de pulso, já eram por volta das quatro da tarde e a chuva não havia parado. — Está perdendo horário de trabalho, sinto muito por isso.

— Eles acham que você é um cliente, não vai dar em nada. — abanou o ar como se espantasse um inseto.

— Oh. — Zhan apontou. — Sujou aqui. — indicou o canto da boca dele.

— Hm? — passou a mão pelos lábios do lado oposto. Zhan riu e pegou um papel para limpar para ele. Por alguns instantes Yibo parou de pensar. Ele era lindo e seu coração acelerou.

Xiao Zhan afastou-se e percebeu o estado do garoto. Então aquela epifania de mais cedo voltou, sua respiração ficou levemente pesada e mais um trovão pôde ser escutado.

— Eu preciso voltar. — o mais velho disse.

— Por que tá preocupado? — o Wang segurava firme a manga da blusa por causa do medo, mas estava começando a se preocupar com Xiao Zhan.

— Eu já fui humano.

— Como assim?! — o garoto arregalou os olhos.

GOD || YiZhanOnde histórias criam vida. Descubra agora