Capítulo 38 - Sangyu International Bilingual Academy (8)

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O violoncelo estava encostado silenciosamente na parede, o ar noturno caindo levemente da janela como flocos de neve finos na madeira um tanto opaca e nas cordas empoeiradas, como se estivesse olhando silenciosamente para Chu Yang no meio da sala de aula.

Era como se uma mão coçasse a cabeça de Chu Yang, incitando-o a correr, pegar o arco encharcado, pegar o instrumento que pertencia a ele. Esta era sua única chance, sua chance de sobreviver.

Ele se lembrou do poder da música que seu outro eu havia tocado no Hospital Fuzi. Se aquele eu pôde fazer isso, ele também poderia. Ele não tinha certeza de como transformar o som em uma arma, mas uma voz no fundo de sua mente lhe disse que se ele pegasse o arco, isso aconteceria naturalmente.

Mas ele jurou nunca mais tocar no violoncelo...... Desde o momento em que leu uma manchete sensacionalista após a outra na internet, das famílias dos mortos bloqueando sua porta chorando e xingando-o, desde o momento em que ele se sentou congelado no chão segurando o corpo de Song Shuliang, ele sabia que não poderia continuar... ...

Fazia apenas dois anos, mas a coceira profunda em seu corpo, a coceira que parecia vir de sua alma, estava sempre incitando-o, o tempo todo. Ele precisava do violoncelo, precisava da música, precisava continuar a compor, sem ela sua vida seria um ruído branco sem sentido, como um cadáver ambulante, um tronco podre, um galho seco. E agora, agora que alguma coisa lá fora batia na porta, ele não queria ficar como o emaranhado de braços e pernas, como a mulher pendurada no teto, como uma craca na parede, ou um galho no jardim .....

Houve outro estrondo, metade do painel da porta havia rachado e com mais um golpe, eles iriam entrar.

A mente de Chu Yang ficou em branco e quando percebeu, ele estava sentado em uma cadeira úmida, segurando o violoncelo que cheirava a sangue em seus braços e um longo arco em sua mão direita. Pelas lentes dos óculos estilhaçados, ele viu a porta se partir em duas e voar para o chão, a criatura gigantesca meio sapo, meio humano preencheu a entrada, seu par de olhos amarelos como duas velas acesas na escuridão.

Ao dar o primeiro passo à frente, Chu Yang puxou os primeiros compassos do ritmo.

Não era qualquer peça musical que ele havia composto antes, mas uma melodia que estava girando em sua cabeça o tempo todo, assombrando-o na calada da noite, mas ele nunca teve coragem de escrever. Cada noite sem dormir, ele mantinha os olhos bem abertos na escuridão, sua miopia de quatro graus embaçando sua visão, como se pudesse ver as notas fluindo. As pontas dos dedos esquerdos se moviam levemente, como se pressionassem um vibrato, a mão direita balançava ritmicamente de um lado para o outro e a música murmurava em sua mente como um rosto lindo e hediondo, espalhando seu sorriso fatal no abismo.

Através da música, ele viu um vasto deserto, com centenas de milhões de anos. Cada grão de areia era do distante nascimento do universo, desde o começo antes de tudo ser separado. Havia um reino próspero e poderoso neste deserto, onde pedregulhos brancos como a neve foram empilhados em paredes altas e edifícios magníficos foram empilhados juntos como os rabiscos e linhas finas em uma placa de circuito. Os edifícios eram tão fantásticos que não pertenciam a nenhum estilo existente, e os estranhos ângulos e curvas pareciam desafiar as leis da física tão completamente como se não devessem ter sido construídos. O vento era sempre forte ali, soprando música bizarra e melodiosa pelas estranhas pontes e chaminés. Era uma terra de música e podia-se ouvir o vento tocando música em todos os lugares, às vezes leve, às vezes triste, às vezes grandiosa, às vezes aterrorizante.

No mais magnífico palácio dourado, uma grande festa acontecia. Todos os nobres da cidade e até alguns plebeus convidados estavam reunidos aqui, todos vestidos de ouro. Eles pareciam muito diferentes dos humanos, com muitos braços e pernas, muitos tentáculos e seus corpos tão macios que podiam se torcer e se transformar em muitas formas diferentes. Eles se enroscavam na pista de dança, às vezes em grandes grupos, às vezes dispersos. Era uma dança de horror demoníaco e a música que os acompanhava era igualmente aguda e penetrante, intrometendo as mentes das pessoas.

Haunted Places Live (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora