01 - James

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   Eu tenho o péssimo hábito de quebrar coisas, ou as vezes, só perdê-las. Mas é a segunda vez neste semestre que eu quebro um computador. 
     Claro, é por causa disso que eu não tinha um computador portátil desde o oitavo ano, quando meu pai acreditou que seria uma boa fonte de informação prática para os trabalhos escolares. Não que tenha sido minha culpa. Sírius foi quem roubou um livro de Remus e bateu na mesa enquanto fugia. A garrafa de água simplesmente virou e deixou o nosso quarto em um silêncio mortal.

     Assim, meus pais decidiram que um celular seria o suficiente para o colégio. Então só ganhei um notebook novo quando entrei na universidade - obviamente, eu deveria estar pronto. Só que, um pouco depois das minhas primeiras provas - dessa vez por culpa própria - eu o derrubei no chão.

     Em minha defesa, eu só estava muito animado com a nota de sociologia e queria comemorar o quanto antes. Por isso não prestei atenção quando puxei a mochila do carro, e nem quando guardei ela lá, já que estava aberta e antes de que ela chegasse ao meu ombro, tudo tinha caído no estacionamento - algumas coisas rolaram para debaixo do vermelho brilhante da caminhonete. Mas meus olhos não saíram do aparelho espatifado contra o concreto.

     Dessa última vez, foi um pouco pior. Porque eu só estava sentado na biblioteca, digitando tranquilamente meu trabalho de História e Teorias da Arquitetura' quando simplesmente puf!
     
Só desligou como se a bateria estivesse zerada - o que era impossível, já que foi praticamente no mesmo instante em que coloquei para carregar. E agora já fazem algumas semanas que eu tento descobrir o que aconteceu. Troquei o carregador, comprei uma bateria nova... Mas nada.
     Realmente demorou um pouco até eu me render e ir em um técnico descobrir o que exatamente aconteceu com meu pobre computador.

"Aqui dentro está tudo torrado." O homem magro a minha frente disse com seriedade.

"Mas o que eu fiz de errado? Tem conserto?"

"Você ligou ele em uma tomada de 220 volts, não tem como desqueimar."

     Me choquei com o fato de ainda existirem computadores com voltagem tão baixa. E isso deveria estar visível já que o atendente parecia ainda mais decepcionado com a minha ignorância.
     Recebi avisos para checar da próxima vez que comprasse um aparelho eletrônico, e não ligá-lo na tomada antes de ter certeza de que a voltagem era compatível. Foi o máximo que consegui ali. 

     Sem coragem de pedir um notebook novo para os meus pais, e sem querer assustá-los com a minha incompetência na área de informática, cheguei ao apartamento completamente derrotado. Suspirei profundamente enquanto tomava uma xícara de café, ou pelo menos tentava.
     Dado o horário, não demorou muito para Lily chegar e me avistar logo da porta de entrada. Primeiro me encarou com estranheza, em nossos quase oito anos de amizade, ela nunca me viu tomando café por livre e espontânea vontade. Em seguida, ela se apoiou na pequena bancada que separava a cozinha da sala e sorriu perversamente - provavelmente adivinhou que era algo a ver com o assunto do mês.

"Você vai falar com eles ou vai dar um jeito de viver como um réu mortal?" Perguntou roubando minha xícara.

"Eu não sei." Suspirei mais uma vez. "Preciso terminar o trabalho, se não Binns vai me reprovar... Mas eu não quero ir atrás deles com isso de novo."

"Monty não te aguenta mais." Ela observou me provocando, eu sorri fraco antes de responder um pouco menos divertido do que a ruiva.

"Aposto que não aguenta mesmo."

"Olha, acho que consigo te ajudar." E então tirou da bolsa o computador próprio, me deixando um pouco confuso com o que viria a seguir.

     Ela se sentou na pequena mesa da cozinha e pesquisou algo por alguns minutos antes de exclamar um "Ha!". Virou a tela para mim, que recuperei o café e me ocupei em mexê-lo no meio tempo.

Ghosting; StarchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora