03 - James

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     Eu não deveria ter deixado aquela observação na redação, era óbvio que aquela garota tinha uma personalidade forte - desde o momento em que fizemos a troca do computador pelo dinheiro. Eu não deveria nem sequer ter lido.

     Claro, esperei algum tipo de resposta, mas minhas expectativas se voltavam mais para uma agradecimento - ou no pior dos casos, uma exclusão abrupta da conta. Seria justo. Saindo do carro de Sírius, abri o celular para ver se havia alguma resposta - e sim, havia.

"Não gostei."

     Não gostou. Como assim não gostou? O que significa não gostar? Do que ele não gostou? Por que ele não gostou? Lily leu e gostou, Remus leu e gostou, Sírius leu e gostou - todos leram e gostaram.
     Não gostar não faz sentido. O trabalho está impecável, e eu sei disso - eu só faço trabalhos escritos impecáveis, por isso tentei ajudar.

     E, como se meus neurônios já não estivessem queimando o suficiente, houve Regulus e sua saída dramática.

"Eu sou um idiota." Conclui, ajudando Sírius a tirar as coisas das sacolas.

"Claro que não, o problema é que vocês são muito parecidos - só que de um jeito diferente." Ele respondeu parando por um segundo para amarrar o cabelo que caia em seu rosto.

"Como assim?"

     Afinal, o que eu e Regulus podemos ter em comum? Regulus tende a ser uma criatura fechada e emburrada, um ser de poucas palavras - menos em seus pequenos surtos de energia os quais não presencio desde o colégio. Já eu, sou constantemente essa energia - além de que, me irritar é quase impossível, em contrapartida, irritação parece ser o estado constante do mais novo.

"Vocês dois são muito sensíveis." Deu de ombros. "Só que de um jeito diferente."

     Levantei as sobrancelhas, levemente assustado com esse pico de sabedoria simplista.

"Uau. E ele sabe que você sabe disso?"

"Não." Sírius sorriu de canto.

     Meia hora depois, Regulus voltou. Incentivado pelo anúncio do irmão mais velho que declarou que a torta salgada que fizemos estava no forno. Sinceramente, pensei em ir até a sala e ficar esperando Sírius voltar do banho lá, mas me sinto culpado por ter chateado Regulus.

"Me desculpa, eu não deveria ter dito que você me odeia."

"É só o que você pensa, eu suponho." Ele respondeu com a típica falta de humor.

"Mas te incomoda."

"Não te incomodaria se eu dissesse que acho que você me odeia?"

"Você acha isso?" Perguntei, preocupado.

"Acho." Ele respondeu lentamente, tirando o creme de leite de um dos armários.

     Senti uma leve pontada em algum lugar do meu peito.

"Ok, doeu." Reclamei, indo ajudar a alcançar o chocolate que fica guardado em uma prateleira mais alta. "Mas você acha mesmo?"

"Não, Potter." Sorriu cínico. "Eu acho que você me adora como um deus." E pegou a barra de chocolate da minha mão enquanto eu sentia meu rosto esquentar involuntariamente.

"É... Talvez seja um pouco exagerado." Ri um pouco nervoso.

     A cozinha ficou em silêncio por algum tempo, fiquei olhando Regulus organizar as vasilhas que usaria e ocasionalmente pegando uma em algum lugar mais alto. Quando me afastei e fiquei observando apoiado do outro lado da bancada, ele bufou levemente e olhou direto nos meus olhos, com um ar cansado. Tive vontade de perguntar se alguma coisa tinha acontecido, se estava tudo bem - mas não tive a oportunidade.

Ghosting; StarchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora