04 - Regulus

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Lembrem de votar se vocês estiverem gostando ❤❤❤



    Há algum tempo eu estava deitado e não conseguia dormir, pensando. Pego o celular para checar o horário - 2h47 da manhã.

"Você sumiu." É a última coisa escrita no documento.

"Claro, é o que fantasmas fazem."

     A resposta não veio, talvez pelo horário, talvez porque documentos alterados não geram notificações igual aos aplicativos de mensagens. Aproveitei a oportunidade para divagar.

"Querido fantasma, você já teve problemas para entender o que as outras pessoas sentem? Acho que sim, tendo em vista que estamos conversando somente e apenas porque você não se preocupou em invadir a minha privacidade. Mas enfim. Meu irmão tem um amigo muito estranho, e eu realmente não sei se esse amigo simplesmente me odeia ou tem alguma obsessão doentia por mim.
     'Vou resumir. Quando estudávamos juntos eu sempre tentava falar com ele, sobre aulas ou esportes e etc, eu até fui no cinema uma vez com meu irmão só porque o amigo ia. Mas o maldito sempre me ignorou. Então agora, alguns anos depois, ele me persegue quase como uma assombração. Tenta comprar meu silêncio com coisas que eu gosto, chamar minha atenção, reclamar quando fico muito quieto... Isso é insuportável. Uma implicância triste, logo comigo - um ser tão apaziguado."

     Fiquei re-lendo, tentando me entender. Para minha surpresa, uma resposta começou a surgir.

"Primeiro, uau, fui promovido para querido, seu diário vai ficar com ciúmes. Agora, uma resposta não tão longa para sua reclamação..."

     Escrevi rápido: "nãoéumareclamação"

"Não me interrompa. Continuando, eu sou ótimo entendendo o que as pessoas sentem, a invasão de privacidade foi uma triste tentativa de te ajudar.
    'E, bem, pelo que ali eu acho que: ele gosta de você. E você deve ter tido um crush nele nessa outra época."

     Ri alto.

"1- Então ele não me odeia? 2- Eu sou hétero."

"1- Ele quer te beijar. 2- Tem certeza?"

"Sim, eu tenho, e acabei de lembrar o porquê de compartilhar meus pensamentos com um documento inanimado e não com pessoas." Continuei rindo.

"Continua sendo um documento inanimado, eu sou só o fantasma possuindo ele."

"Droga, você é bom." Admiti.

"Nisso e muito mais 😏"

"Cara! Qual é o seu problema" Ri mais uma vez e desliguei o celular sem me importar com a resposta.

     Que grande questão essa, heterossexualidade. Ou só sexualidade.

     Quando eu parei para pensar sobre isso? Nunca. Por falta de interesse, principalmente. Jamais me importei em realmente procurar saber se prefiro garotas ou garotos, ou o que mais existir. Só presumo que sou um produto com software pré definido - é o que aprendi em casa e na escola, não é? Garotos + garotas = filhos.
     E, se a função biológica do ser humano - e de todos os outros animais - é simplesmente reproduzir. Cá está.

     Além de que, mesmo tendo beijado uma ou duas meninas, nunca senti o que todos parecem achar tão incrível sobre beijar. Talvez eu só não tenha sido feito para isso.

     E, pensar na outra possibilidade, na de que, talvez - quem sabe - meu eu de quinze anos tenha bloqueado a ideia de gostar de garotos quando Sírius começou a namorar um, é impensável. Porque, quando pensada, chega perto demais de uma possibilidade.
     Não que em qualquer momento eu tenha tido algum ressentimento com meu irmão por causa disso. Afinal de contas, eu sou um simpatizante - meus melhores amigos são bem gays. Ser gay não é o problema.

Ghosting; StarchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora