02 - Regulus

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     Nunca foi sorte, sempre foi Dorcas Meadowes!

     Já fazem algumas semanas que eu preciso de um dinheiro a mais, o que seria muito fácil de resolver se eu estivesse em casa. Acho que esse é um dos maiores problemas de ter ido embora, morar com Sírius significa ter que pedir coisas para ele, e eu definitivamente não me sinto confortável com a ideia de pedir dinheiro. Afinal, a herança do tio Alphard ficou inteiramente para ele, soa errado me beneficiar tanto.

     Nossa ideia surgiu em uma sexta-feira qualquer, Sírius foi para a casa de Remus e os meus vieram para cá.

"Eu tenho certeza que ele te daria os livros sem pensar duas vezes." Pandora disse enquanto olhava pela janela, ver as pessoas passando é uma das atividades favoritas dela.

"Eu definitivamente não gastaria trezentas libras nisso por ninguém." Barty riu, mas Evan que estava sentado em seu colo na poltrona o olhou ofendido, fazendo-o continuar: "Por você, sim, claro! Por Evan eu gastaria." Ele se corrigiu.

"A questão não é ele me dar o dinheiro ou os livros. A questão é que eu não quero pedir, é chato, humilhante... dependente demais." Coloquei minha frustração para fora.

"E porque você não vende isso daqui?" Dorcas perguntou mexendo em um armário onde eu guardo minhas coisas velhas ou inúteis.

     Meu olhar seguiu para as mãos dela, que segurava meu antigo notebook. Não tão antigo. De quando eu morava com meus pais - Sírius me deu um novo quando me mudei. Uma espécie de oferta de paz + presente de boas vindas combinados.

     Franzi a testa.

"Como?"

     Quer dizer, eu deveria sair na rua e oferecer, ou então colar cartazes por aí?

"Existem sites hoje em dia... Olhando bem, deve dar uns cinco terços do que você precisa."

"Porque você não fala fora da linguagem matemática?" Barty reclamou, enquanto eu fazia o cálculo mentalmente.

"Porque você não aprende matemática?" Retrucou antes de voltar a falar comigo. "De qualquer jeito, posso vender pra você, se quiser."

"Você é a minha heroína!"

     E agora eu estou andando impaciente de um lado para o outro na sala de Pandora, esperando Dorcas chegar. É impossível não ficar ansioso, eu encontrei uma coleção inteira de primeiras edições do Oscar Wilde de bandeja e em bom estado, trezentas libras não são nada. Deus abençoe os jovens que recebem livros de herança sem saber o real valor deles.

"Reg, você já pensou que andar de um lado pro outro só vai abrir um buraco no meu chão? Senta aqui e me ajuda." Lovegood pediu, ela está pintando um novo quadro para pendurar em seu quarto. Algo como um mapa do céu. É lindo, mas me deixa melancólico.

     Lembrar de casa sempre é algo complicado. Coisas ruins aconteceram lá, talvez ainda aconteçam - coisas ruins foram feitas contra o meu irmão e eu não fui capaz de defender ele. Coisas ruins poderiam acontecer comigo se eu ficasse lá.
     Olhando para trás, eu sinto falta de casa, de Kreacher, da imensa biblioteca. Sinto falta do meu pai tocando piano sempre que minha mãe o aborrecia - ou seja, o tempo inteiro, todos os dias. Talvez eu sinta falta até mesmo da minha mãe.
     Por que, apesar de tudo, era confortável ter uma rotina rígida e milimetrada - era confortável saber o que eu podia ou não fazer, o que eu deveria fazer, onde eu deveria estar e afins. Nas primeiras semanas foi bem estranho estar morando com Sírius, eu poderia fazer o que quisesse, estar onde eu quisesse... Estaria tudo bem se, por exemplo, eu trouxesse um gato da rua e decidisse que era nosso.
     Literalmente.

Ghosting; StarchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora