11 - Regulus

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"Eu senti tanto a sua falta, meu amor." As palavras me abraçaram, eu realmente pude sentir como se eu estivesse ali com ela e seus braços magros estivessem envolvendo meu corpo com força.

     Consigo lembrar de que doía um pouco, seus ossos praticamente se chocavam direto à minha pele, pela sua magreza.
     Me sinto um pouco idiota por reagir do jeito que reajo, pelas sensações e saudades que me inundam - eu gostaria de poder dizer algo como "então por que você não apareceu antes?" eu sinto a amargura dessas palavras dentro de mim. Entretanto, o doce sabor da nostalgia e as ondas quentes que partem do meu coração impulsionam-me a falar outra coisa.

"Eu também, mãe, você não tem ideia do quanto."

"Sírius tem te tratado bem? Você está bem?" Sua voz cheia de preocupação se derrama por dentro dos meus ouvidos - sagrados fones de alta qualidade.

"Sim, Sírius tem sido ótimo e eu estou bem. Como vão as coisas aí em casa?"

"Grimmauld Place é muito vazia sem vocês, o silêncio faz com que eu tenha que pedir para Kreacher fechar a porta do escritório do seu pai todos os dias - conseguimos ouvir ele tocando na sala." Ela suspira, parecendo triste. "Órion nunca mais tocou nada de muito animado - todos os dias temos Clair de Lune do Debussy, ou Gymnopédies No.1. Claro, é lindo, mas ecoa no nosso vazio interior."

     O silêncio se instala. A euforia do reencontro, ainda que por telefone, começa a se dissipar lentamente, abrindo espaço para lembranças mais recentes. Eu aposto que sim, a casa deve estar vazia e sem vida, só que de certa forma essa escolha foi deles.

"Você já mandou suas inscrições para a universidade? Decidiu para onde quer ir? Lembro que ano passado você estava bem dividido entre seguir Lovegood ou Meadowes."

     Mordo o interior da minha bochecha. Sim, aí está, Walburga Black.

"Vou ficar em Londres, o dinheiro do tio Alphard não dura muito mais se for pra me mandar pra longe e bancar minha vida no exterior."

"Ah, sim, entendo." Sua voz é condescendente, isso me irrita. "Uma pena, você estava tão animado mesmo sem saber o que queria fazer." Escuto o estalo de língua típico que ela reserva apenas para a família em portas fechadas. "Mas e agora, você já sabe o que quer fazer?"

"Estava pensando sobre Literatura Inglesa. Felizmente, mãe, o melhor lugar para estudar Literatura Inglesa é na Inglaterra." Retruco já com o tom passivo-agressivo das discussões que costumávamos ter, tenho quase certeza de que ela pode visualizar meu nariz franzindo como quem diz: 'não é óbvio?'

"Eu vejo... Faz bastante sentido, você sempre foi um garoto de livros como e seu pai, e Sírius, bem... Sírius sempre teve meu temperamento, é quase uma pena dizer que você puxou seu pai tanto quanto seu irmão a mim. Mas é o que dizem, pólos iguais se repelem."

"E os opostos se atraem. Por isso estou bem aqui e você está bem aí."

"Com certeza, mas perceba, sou tão seu oposto quanto ele. Por isso sentimos tanta a falta um do outro." Outro longo suspiro vem, como se ela quisesse parecer cansada. "Vocês já pensaram sobre voltar para casa? Nós ficaria-"

"Foi você quem expulsou Sírius de casa." Corto, categórico, a voz monótona.

"As coisas mudam - as pessoas mudam."

"E o que mudou?"

"Nós mudamos."

"Mãe eu-"

"Sim, você não acredita ou não pensa que seja possível. Nós sabemos disso, por isso liguei, para avisar que eu e seu pai estaremos indo à sua formatura amanhã - afinal de contas, ainda somos nós que pagamos todos os seus anos de colegial." Ela enfatiza, e, realmente, eu não sabia disso. Não que faça alguma diferença. "Esperamos poder conversar com você, e com seu irmão se ele estiver disposto a isso."

Ghosting; StarchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora