As gotas pesadas de chuva caem em mim sem aviso – em menos de 5 segundos tanto eu quanto a cadeira vazia em minha frente estamos encharcadas. Mas Londres sempre foi assim, certo? Imprevisível e volátil quanto às suas tempestades.
Me inclino para fechar a janela e tomo um último gole do meu chá, não me importo em sentar de novo – desisto de esperar. Vou até a cozinha e jogo o bule junto com o líquido dentro no lixo.
Existe algo muito ruim sobre ser decepcionada constantemente, algo muito ruim sobre pequenos passos seguidos de grandes baques – simplesmente cansativo. Algo que me faz acreditar que a desistência pode ser algo digno, de alguma forma.
Porque, apesar das palavras afetuosas e das promessas, Dorcas não veio, mesmo prometendo que viria.Talvez ela seja uma maldita criança. Talvez seja uma princesa indefesa.
Mas eu não sou nenhum tipo de heroína.
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A música infernal do telefone tocou mais uma vez, dessa vez longe demais para jogar o celular para o outro lado do quarto. Antes de desligar o celular, percebo que com essa fazem sete ligações perdidas de Potter.
"Maldito James." Resmungo antes de desbloquear a tela e digitar o número, mas antes que eu possa apertar o botão verde, o celular toca novamente e eu atendo de imediato.
"Potter?" Minha voz embargada ressoa e volta para mim do outro lado da linha.
"Marls, eu-" Escuto uma fungada forte. "Eu achei que você não ia atender."
"O que aconteceu?" No vivo a voz, minha camisola já está no chão e abotoei minha calça.
"Regulus, eu acho que, Regulus terminou comigo."
Suspiro profundamente, obviamente era só o que faltava. Quem sabe Regulus e Dorcas fugiram juntos para o inferno...
"Chego aí em oito minutos."
"A porta tá destrancada."
Já no elevador, desligo e me encosto contra a parede, esperando chegar ao térreo. Apesar de parecer rouco, pelo menos James não chorava.
Ao chegar, ele me explicou cada detalhe estranho da briga inteira. De como Regulus apareceu no apartamento dele tremendo e chateado, de como as coisas escalaram assim que o mais novo viu o computador de James aberto e leu um pouco do que estava escrito – James explicou as acusações, sobre ele saber de algo esse tempo todo, de Regulus ser algum tipo de piada para ele.
E James explicou sobre como ele foi embora, deixando-o estático.Uma hora depois, ele teria ligado para Sirius e escutado palavras ainda piores: "Nem sequer pense em aparecer por aqui."
Segundo Potter, foi quando tudo realmente desabou e ele começou a me ligar mas eu não atendia de jeito nenhum – e o quão desesperador foi pensar que eu também não queria mais saber dele.
Passando a mão no cabelo bagunçado e sem me importar com o peso da grande cabeça no meu colo, abri o contato de Sirius e esperei até que ele atendesse.
"O que foi, McKinnon?" A voz ríspida atendeu, me fazendo franzir a testa imediatamente.
"O que foi, McKinnon? Que porra é essa, Black?"
"Marlene, eu sinceramente não estou com tempo nem paciência-"
"Nem eu tendo que suportar o peso de um homem que tem duas vezes o meu tamanho chorando no meu ombro." Rebato, tão rude quanto ele.
Um suspiro escapa do outro lado, mas o tom não se atenua.
"Talvez ele devesse correr para o colo da mãe, não o seu."
Sinto o sangue subir e esquentar meu rosto.
"Merda, Black." Desligo. Minha cabeça bate contra o encosto do sofá.
Tentando pensar em alguma coisa, olho para meu reflexo no vidro da janela. Algo como uma sombra – é engraçado como, às vezes, nos tornamos fantasmas em nossas próprias vidas.
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Os dias passam e tudo continua embaçado. Dorcas continua sumida, James continua abalado sobrevivendo aos poucos com o apoio meu, de Lily, e Remus. E claro, o senhor Black não se deu o trabalho de aparecer para nenhum de nós além de Lupin, que justificou dizendo que Sirius também ouviu muito de Regulus naquele dia.
Não que isso justificasse qualquer coisa.
Não que isso significasse ou mudasse qualquer coisa, porque logo as férias chegavam ao fim e de alguma forma tudo tinha mudado e passado tão ridiculamente rápido. No meio desse furacão, apenas Lily e Mary continuavam as mesmas – James a contra gosto continuava com o tratamento experimental já quitado, e eu me afundava na biblioteca, às vezes dormindo entre os livros.
Apenas assombrando o prédio antigo e me perguntando se em algum momento Meadowes passaria pela porta e perguntaria sobre algum livro idiota de física.Contudo, ela não apareceu. E James continuou alternando entre seu quarto e consultório. E Sirius parecia ainda pior do que no dia em que saiu de casa.
De alguma forma, nossa energia foi drenada, apenas nossos corpos pareciam ter restado.E é engraçado como, às vezes, nos tornamos fantasmas em nossas próprias vidas – desaparecendo pouco a pouco, até restar apenas uma vaga lembrança do que fomos.
829 palavras
Exatamente ao mesmo tempo que o 3º episódio de Percy Jackson.
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Ghosting; Starchaser
Fiksi PenggemarJames sempre teve o péssimo hábito de quebrar as coisas - então quando queima seu laptop mais novo, decide que não vai pedir um novo para Monty e Effie. Ao invés disso, Lily o ajuda a comprar um usado, contudo, o último dono parece ter esquecido de...