O sorriso de Sirius Black, a animação e a sacola de fast-food caíram no chão ao mesmo tempo.
As mãos, antes suadas de ansiedade para contar a James a novidade, congelaram ao abrir a porta e ver seu melhor amigo quase acertando a cara do irmão mais novo com um dos socos mais fortes que ele já tinha visto na vida – e ele já tinha visto muitos.
"Mas que porra é essa?" A voz saiu em um tom baixo e mortal, sem esperar resposta. Ele agarrou James com uma força que ele mesmo mal sabia que tinha, puxando-o para longe de Regulus.
"Sírius, dá um tempo! A gente tá tendo uma conversa séria aqui!" James rebateu, empurrando Sirius de lado, tentando voltar para frente de Regulus, que permanecia imóvel, os olhos vidrados, perdidos em algum lugar que nenhum dos dois podia alcançar.
"Um tempo? Isso aqui é uma conversa?" Sirius segurou o braço de James com força, o olhar fixo na mão dele, ainda tremendo de adrenalina. "Olha pra porra da sua mão, Potter. Isso é uma conversa?"
James se desvencilhou com um puxão, mas não voltou a se aproximar de Regulus. A tensão no ar era densa como metal prestes a quebrar.
O que começou como um confronto de palavras logo se tornou um turbilhão de empurrões. Sirius sabia que James nunca, jamais, teria coragem de machucar fisicamente nenhum dos Black de verdade. Mas naquele momento, Sirius não conseguia pensar nisso. Só havia raiva, misturada com mágoa, misturada com o peso de uma vida inteira de desgraças."Pads, eu só me irritei! Não foi nada demais, mas eu preciso resolver isso!" James insistiu, ainda nervoso, tentando conter a situação.
"Não foi nada demais?!" Sirius se virou bruscamente para Regulus, os olhos fervendo de fúria contida. "Olha pro estado dele, Potter! Ele tá catatônico! Você acha que isso é só um soco na parede? Isso é a merda de um aviso, e você nem percebeu."
James se aproximou, mais calmo, tentando apaziguar. "Ele vai embora, Sirius. Ele te contou isso? Que vai embora do país? Ele te contou que tem visto seus pais?"
A face de Sirius escureceu num segundo. "Você tá louco. Claro que ele não viu essa gente. Ele saiu de lá. Isso nem faz sentido."
"Não tô mentindo pra você," James murmurou, o tom cansado e cheio de frustração. "Eu não sei desde quando isso tá acontecendo, mas na formatura... eu os conheci. Pessoalmente."
Sirius recuou um passo, o estômago revirando. "Você... conheceu eles? Como namorado?" Sua voz vacilou, mas a incredulidade e o ódio encheram seus olhos. Como eles puderam aceitar Regulus, mas não a mim?
"Não, não foi assim," James explicou rapidamente. "Ele não disse nada sobre a gente, mas acho que tem a ver com o tal tratamento pros meus olhos. Desde a formatura, bateu na minha cabeça que talvez quem esteja bancando tudo isso seja sua mãe."
Nojo. Sirius sentiu o gosto amargo na boca.
"E você... continuou aceitando?" Ele cuspiu as palavras, incrédulo, sua voz quase rouca de desgosto. "Sem se importar com o que isso significa pra Regulus? Pra mim?" Ele deu um passo para frente, a raiva crescendo como um incêndio descontrolado. "Eu vou te ajudar a pensar agora, Potter: ele vai embora porque eu não vou tentar segurar ele dessa vez, não vou pedir e ajudar ele a pensar. Ele vai embora por sua culpa. E eu também."
"Sirius, espera!" James segurou o braço dele com força, real dessa vez, um desespero crescendo nos olhos castanhos. "A gente pode resolver isso! Conversar com Regulus, acertar as coisas. Ninguém precisa ir embora!"
Os olhos de Sirius faiscaram, o corpo todo tenso. "Me solta." A dor leve do aperto em seu braço já não era mais tão leve.
"Por favor." James implorou, a voz quebrando.
"Se você não me soltar, Potter, eu juro que vou te machucar de volta."
James hesitou por um longo segundo, os olhos marejados, antes de finalmente soltar o braço de Sirius.
"Pads..."
Mas já era tarde. Sirius Black foi embora sem olhar para trás.
Alguns minutos depois, Regulus fez o mesmo.
Tão diferentes, mas tão iguais. Era isso que atormentava James. Lágrimas de ódio e frustração escorreram pelo rosto. Ele odiava o fato de que eles eram tão diferentes, e ao mesmo tempo tão malditamente iguais. Por que nenhum dos dois podia ficar e ajudar a consertar essa bagunça?
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"Regulus,
Eu nunca entendi o jeito que sua cabeça funciona. E quer saber? Isso me irrita pra caralho. Você sempre foi como um quebra-cabeça faltando peças — eu olho, eu tento, e nada faz sentido. Não estou falando só do seu gosto esquisito pra música ou essa obsessão por livros velhos que cheiram a mofo. Isso é o de menos. Estou falando do jeito que você se agarra a tudo que te destrói, como se não tivesse escolha.
E o pior é que talvez você realmente ache que não tem escolha.
Eu poderia tentar te mostrar o que eu vejo, tentar te enfiar no corpo de outra pessoa por um dia. Talvez assim você acordasse. Talvez, só assim, você conseguisse perceber o quanto se sabota. Mas sabe o que me assusta de verdade? A ideia de que você veria tudo isso... e não mudaria nada. Que, no fundo, você acha que merece essa porra toda.
A verdade é que, de todas as pessoas que eu conheci, você é o mais difícil. Você me fascina e me frustra ao mesmo tempo. Você me faz querer te sacudir até você acordar, e, ao mesmo tempo, me faz querer proteger o idiota que você é.Eu escrevi esse maldito pedaço de papel tantas vezes que perdi a conta. Rasguei cada uma das versões anteriores, porque parecia que eu estava me humilhando cada vez que tentava ser bonzinho. E, pra ser honesto, eu cansei disso. Cansei de ser o irmão que espera. Cansei de ter esperança por você.
Quando você era uma criança, eu ainda acreditava. Acreditava que você ia perceber, cedo ou tarde, que a merda em que estávamos metidos não era pra gente. Eu acreditava que, de alguma forma, você ia querer mais do que aquilo. Eu acreditei, Reg. Mas agora, vendo tudo isso, acho que estava errado. Acho que, no fundo, você não quer. Você quer essa porra de prisão dourada, e sabe o que é pior? Eu nem sei por quê.Eu queria te entender. Juro que queria. Mas não consigo. Porque você escolheu voltar pra lá, pra tudo aquilo que te sufoca. Você escolheu o nada. E isso me destrói.
Você acha que tem algo lá pra você? Eu tentei te dar uma nova vida, uma vida diferente. A gente tentou. Eu, Potter, seus amigos... Mas você sempre volta pra isso. E eu fico me perguntando: o que diabos você está tentando provar? Pra eles? Pra mim? Pra você mesmo?
Eu queria acreditar que você é mais do que isso, que você é mais do que o fantasma que você se sente. Mas talvez você esteja certo. Talvez seja isso que você é. Talvez essa coisa de fantasma virar gente realmente não exista. Só que eu sei como você se sente, porque eu já fui o fantasma de Grimmauld Place também, e é um inferno se sentir tão transparente e irrelevante.
Eu sinto muito por isso.
Sinto muito por não sermos o suficiente, e sinto muito por não entender quem ou o que seria. Mas, Regulus, fantasmas assombram lugares por séculos - não são criaturas que desistem. Eu espero que você seja um bom fantasma e não desista, ou então que simplesmente deixe de ser."
1.251 palavras
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Ghosting; Starchaser
FanfictionJames sempre teve o péssimo hábito de quebrar as coisas - então quando queima seu laptop mais novo, decide que não vai pedir um novo para Monty e Effie. Ao invés disso, Lily o ajuda a comprar um usado, contudo, o último dono parece ter esquecido de...