12 - Dorcas

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     Às vezes eu me pergunto como é possível amar e odiar alguém tanto assim. Mas talvez, eu espero, quase todas as pessoas tem alguma amizade assim. Não acho que seja culpa minha não entender, ou que seja culpa minha me estressar por como ele ainda respeita um nome e família que fez tanto mal à ele e ao irmão.

     Eu e Barty já tivemos essa conversa. Claro que tivemos: "Dorcas, não é só porque nós odiamos nossos pais por serem controladores que todos precisam odiar seus pais controladores."
     Só que me incomoda. Como não incomodaria?

     Imagine conhecer alguém desde os dez anos de idade e ver essa pessoa dentro de uma caixa - imagine amar essa pessoa e ver ela ser subjugada por pequenas chantagens por toda a vida - imagine ver essa pessoa sofrer pelo irmão - imagine ver essa pessoa se libertar - e, por fim, imagine ver essa pessoa liberta ainda respeitando o nome de uma família que não o fez nenhum bem em seus 18 anos de existência.

     Respiro fundo e tiro o celular do bolso, Marlene me mandou uma mensagem avisando que está me esperando perto da arquibancada. Avisando Pandora, saio do carro e vou encontrar com minha... Com McKinnon.
     Sim, obviamente, se ela está na minha formatura significa que eu contei para ela sobre não estar na faculdade, e sendo sincera, foi bem tranquilo. Não que eu esperasse algum escândalo, só estava preocupada com a ideia de perder ela.

     Passo pela estrutura de metal e vejo a loura sentada balançando os pés.

"Marls!" Chamo e nos encontramos no meio do caminho.

"Eu já estava pensando em dar algumas voltas ao redor do campo." Ela ri enquanto me abraça.

"Com esse salto? Eu pagaria pra ver."

"Você não tem ideia do que eu sou capaz, Meadowes."

"Aposto que não." Pego uma mecha de seu cabelo e coloco atrás de sua orelha, abrindo espaço para eu beijá-la.

     Acho que chegamos àquele ponto estranho de certos relacionamentos, sem saber se estamos namorando, se ela ainda está saindo com mais alguém, se é algo oficial ou não.
     O fato é que, depois de ver Potter na pequena festa de Regulus, e todas as vezes seguintes, tive certeza de que foi ele quem buscou Marlene no dia do museu. E, alguns encontros depois, ela admitiu que estava tendo um lance com um amigo, mas que tinham parado depois daquela vez - e me disse que eles eram muito próximos e continuam sendo amigos.

      Tudo bem.

     Tudo bem serem amigos. Entretanto, ainda existem alguns problemas, ela não sabe que eu o conheço, e eu sei que o tal Potter não me cai bem.
Quer dizer, ele já desrespeitou os limites de Regulus antes, ainda que não soubesse que era ele. Nada o impede de fazer isso de novo.

"Então, vamos conhecer o Senhor e Senhora Meadowes?"

"É, acho que vamos." Respondo um pouco nervosa, talvez essa não tenha sido a minha melhor ideia.

     De mãos dadas, andamos devagar até as mesas distribuídas no campo ao outro lado. Falamos sobre coisas como planos para o semestre que vem e me sinto mal por estar sempre escondendo alguma coisa, como o fato de não estar aqui depois das férias de verão.

     Olho ao redor e não me surpreendo por não ver nenhum de meus amigos por perto - é claro que precisavam escolher uma das mesas na área especial, sobre um pequeno palanque para melhor visualização dos formandos.

"Olha só, essa não é a loura que estamos acostumados a ver! Prazer, Pietro Meadowes, e minha esposa, Angeline." Meu pai se levanta para cumprimentá-la e deixar um beijo em minha bochecha. Marlene tenta não transparecer, mas vejo os pequenos traços da nova descoberta em seu rosto. Sinceramente, talvez eu não seja muito boa me comunicando, mas ela não pode negar que de alguma forma eu contei que sou adotada.

Ghosting; StarchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora