Oitava lembrança

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Dou alguns pulinhos sobre a superfície de madeira, contente quase com uma alegria infantil. Rodopio e salto pelo pequeno palco do nosso bar, que foi instalado hoje pela manhã e só agora consegui passar e dar uma olhada. A reforma está quase acabando e com isso se aproximando da data que planejamos para o nosso casamento.

Hugo está ocupado vistoriando as outras partes que eu não tenho nenhum interesse, nas minhas costas ficaram somente as responsabilidade com a decoração.

- Querido, para um pouquinho, vem aqui no palco comigo...

Ele resmunga alguma coisa abaixado atrás do balcão do bar.

- Hugo por Deus, o que está procurando? Tenho certeza que não deixaram nenhuma bebida de presente para você.

- Era o mínimo, porque temos um problema enorme - ele me olha como se estivesse prestes a chorar.

Desço apressado do palco baixo, tropeçando e me aproximo, ficando ao seu lado olhando para o mesmo lugar sem conseguir enxergar algo.

- O que deveria ter aqui? Parece completamente adequado - estreito os olhos pensando que pode ter algo escondido.

- Não é óbvio? Como você quer se casar comigo se não percebe isso? - Hugo me encara indignado - está faltando a minha gaveta para os paninhos...

- Sua gaveta para o que? Ah vá a merda! - me afasto batendo os pés no chão irritado - Nossa como eu te odeio.

- Você não me odeia

Consigo sentir um pouco de graça na sua voz, o que forma uma veia na minha testa de irritação.

 - Realmente, eu te detesto.

Escuto seus passos um pouco mais próximos.

- Me detesta mesmo se eu disser que quero te beijar?

- Isso é jogar muito baixo, tsk - viro para ele, com os braços cruzados - além de que não tem nada relacionado com eu precisar gostar de você para te beijar.

- Como em um corpo tão pequeno pode caber tanto drama?

Reviro os olhos e volto a me aproximar do palco

- Ainda bem que o seu tamanho combina com o da sua idiotice.

Ele gargalha e eu bufo irritado.

- Tá bom, deixa de choro e vamos dançar um pouco.

Subo na elevação de madeira média que funciona como o palco do nosso bar e coloco as mãos na cintura, acompanhando com os olhos enquanto meu noivo parece escolher alguma música no celular.

- Essa daqui mesmo... - ele sorri. Consigo ouvir, à medida que aumenta o volume, a introdução da música com uma sanfona marcante.

- Forró? - rio - Toda vez eu me surpreende como você não combina com esse estilo.

Hugo deixa o celular na mesa mais próxima e sobe na estrutura, me puxando pela cintura com firmeza e colando nossos corpos. As mãos deslizam desde os meus ombros até entrelaçar nossos dedos.

- Forró é meu xodó desde que me entendo por gente, seria ofensivo ser nordestino e não gostar de um bom forró...

"Quanto custa" de Dorgival Dantas ocupa todo o bar. Começo a cantarolar baixinho. Alguns meses depois que nós conhecemos ele a dedicou para mim na nossa primeira dança. Hugo canta me encarando apaixonadamente, como se realmente me fizesse perguntas.

"Quanto custa, um beijo seu, fala para mim, quanto custa?"

Ele me aperta mais, e passamos a ocupar cada pedacinho do palco.

"Para ter você perto de mim? Quanto custa?

Ele me faz girar e depois voltar para os seus braços.

"Para você ficar comigo e mais ninguém"

"Para ter você constantemente nos meus braços" - ele canta.

- Essa parte ainda não chegou, Hugo - o repreendo entre meu sorriso mais bobo.

- Sei, mas você sabe me dizer quanto custa, ruivo?

Ele se baixa, a canção chegando na parte que cantou a pouco. Nossos lábios estão a centímetros e eu deslizo meus dedos pelo seu rosto.

- O seu melhor beijo...

E a distância acaba, enquanto a música ainda toca por mais alguns minutos

Chopp de Morango com LaranjaOnde histórias criam vida. Descubra agora