Nona Lembrança

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Ele encheu o pulmão de ar

"Eu achava o amor um desperdício, uma frivolidade estúpida. Uma ideia. Um desejo ridículo daqueles escritos em livros e passados nas telas de cinema, compartilhado continuamente por almas românticas. Eu pensava na minha vida na pura promiscuidade, casos de segundos e noites longas atrás do balcão do bar"

Ele levantou o copo na nossa direção com um sorriso maroto nos lábios, nos fazendo rir.

"Ouvia pessoas sentadas nas cadeiras, agarradas à copos, falarem como eram capazes de derrubar o mundo e atravessar mares gigantescos pelo amor, por essa paixão enlouquecedora. Eu apenas sorria servindo mais um pouco de bebida. Aí apareceu no balcão um ruivinho, sobrevivente, com uma obsessão estranha por Chopp de morango com laranja, e tudo o que eu pensava caiu por terra"

Nossos olhares se encontram e ofereço o meu melhor sorriso escondido atrás do copo com a bebida que acabou de citar.

"Não sei falar tão bonito quanto o meu namorado, noivo e atual esposo e muito menos escrever, por isso nem tentei. Mas o que posso dizer a todos os presentes nessa singela comemoração, é que Teo é como uma boa garrafa de Everclear, a última no mundo pertencente somente a mim. Que a cada gole me entorpece por completo, me tira sorrisos bobos, me provoca uma alegria incontrolável e que esquenta meu corpo a ponto de pegar fogo. Eu não o dividiria com ninguém e aproveito em adoração todos os efeitos sobre mim"

Ele levanta mais uma vez o copo tomando a bebida em um gole só, fazendo careta. Reviro os olhos tentando parecer chateado por ter me comparado com uma bebida.

"Enfim, obrigada por essa noite, pelas que vieram e as que virão daqui para frente ao seu lado, Teo. Eu te amo. Amo te amar e amo o quão idiota me rendi ao amor e me viciei no seu sabor, ruivo"

Levanto da cadeira bem na sua frente e subo no palco, pulando em cima do Hugo e envolvendo meus braços ao redor do seu pescoço, o beijando do tipo que nos deixa sem ar.

- Eu nunca vou te perdoar por ter, no seu discurso de casamento, me comparado com bebida.

- Ahhh para de ser besta, suas bochechas vermelhas entregam sua mentira - ele esfrega a ponta do nariz no meu

- Cala a boca, é por causa do chopp.

- De morango com laranja?

- Sim de morango com laranja.

Rimos e nos abraçamos, com ele me levantando facilmente do chão.

Alguém pigarreia

- Então, eu acho que já aturei cenas água com açúcar suficientes por uma noite - Olhamos para Ian apoiado no balcão junto com as poucas pessoas que chamamos para comemorar o nosso casamento - e estou me esforçando o máximo para não esculhambar vocês, então podemos comer logo bolo?

Hugo mostra o dedo do meio para ele e eu a língua. Só descemos do palco depois de oferecer, especialmente ao nosso amigo, o beijo mais obsceno das nossas vidas, com seus xingamentos ao fundo.

Chopp de Morango com LaranjaOnde histórias criam vida. Descubra agora