- Desde quando você fuma?
Levanto o rosto com o cigarro entre os lábios, as mãos encolhidas entre as minhas pernas por causa do frio. Hugo me olha de cima, em pé ao meu lado, completamente envolto por um casaco de frio.
Ele é um cara grande, muito grande. Adoro caras grandes.
- Não sei, quando as coisas começaram a dar errado na minha vida - levanto um dedo o impedindo de falar, se pretendia - e nem vale perguntar, também não sei quando tudo começou a desandar.
- Tudo bem, não ia perguntar. Toma!
Ele joga um casaco que tinha pendurado no antebraço sobre a minha cabeça. Solto a fumaça e pego a peça de roupa o olhando desconfiado. Não é dele, é pequeno demais, mas grande demais para mim.
- Onde você arranjou?
- Um bêbado deveria ter deixado em uma das cadeiras, então eu peguei - levanto uma das sobrancelhas, tragando mais uma vez - mas eles nunca se lembram onde perderam e não vem atrás.
- Isso é roubar
Ele balança o indicador na minha frente, negando.
- Achado não é roubado, lembra ruivinho.
- Tsk, que tipo de homem estou me envolvendo? - ironizo e visto o casaco, porque estou realmente congelando.
- Tenho certeza que é melhor do que os que você já conheceu.
Ele sorri, tirando o cigarro dos meus lábios e puxando um pouco da fumaça. Ele fica lindo até assim. Hugo é bonito de um jeito diferente, como se mexesse com a química do meu cérebro e relaxasse todos os meus sentidos. Colocar meus olhos sobre ele é praticamente perder a sensação do meu próprio corpo.
E eu acabei de o conhecer.
- Então, e o meu beijo?
Minhas mãos estão enfiadas nos bolsos grandes e forrados. Ele se aproxima, mais, mais um pouco, mais do que a outra vez e se abaixa porque é bem mais alto que eu.
- Terá, mas não aqui, não nesse lugar escuro e sujo com cheiro de urina e álcool. Não vou fazer que nem os outros caras.
Ele segura meu queixo com delicadeza o levantando, nossos olhos se encontram e sei que ele está sorrindo, já percebi o brilho diferente que os invade neste momento. Seus cílios longos, bonitos, de um castanho mais claro que os seus cabelos, o único traço feminino no conjunto que é o seu rosto grosseiro.
Quero beijá-lo como nunca senti necessidade por ninguém.
Devolve o cigarro pela metade para os meus lábios e beija a minha bochecha antes de se afastar.
- Vem, vamos.
- Para onde? - pergunto, deixando ser arrastado.
Notei que não há nada que me faça resistir ou recuar dele.
- Vamos para a minha casa, ou prefere o seu apartamento?
- Não, gosto da palavra "casa".
- Tudo bem - ele ri, despreocupado, segurando com mais força a minha mão e a enfiando no bolso do seu casaco, entrelaçando nossos dedos. - mas antes vamos passar no 24h aqui perto, tudo bem para você?
- Tudo, mas você podia andar mais devagar? Seus passos são grandes.
Ele me observa e sinto que no momento esse casaco não esquentaria como o seu olhar é capaz de fazer.
- Sem problemas, ruivinho.
A porta era velha, desgastada, arranhada, o marrom já ganhava um tom de cinza esverdeado e em outros pontos podia ver o que parecia ser sua cor original.
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Chopp de Morango com Laranja
Romantizm"The club isn't the best place to find a lover So the bar is where I go". Menos este bar. E não que Teo estivesse procurando um amor, pelo menos não depois do que aconteceu. Mas as coisas são imprevisíveis ou apenas o universo é brincalhão, ele não...