13. Estranho sentimento

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☆ Capítulo 13 | O Canto das Estrelas ☆

Naquele ano, Lucas teve que enfrentar poucas mudanças na escola. Com exceção dos novatos, os colegas eram os mesmos. Os professores também não haviam mudado; o que significava que Vânia continuaria dando aula para a sua turma. O menino não sabia se sobreviveria tendo aulas de Português com aquela mulher por mais um ano inteiro. Quase ficou de recuperação no ano anterior; se não fosse pelas aulas particulares de Ben e as avaliações escritas e trabalhos que tivera que fazer para substituir as provas orais. A professora havia parado de pressionar Lucas — quem sabe por recomendação dos coordenadores — mas não tinha piedade quando dava deveres de casas e atividades extras.

Em relação ao seu colega implicante, Lucas nunca sabia quando voltaria a importuná-lo. Havia dias que Mateus não parecia ligar para a existência dele; outras vezes, tirava o dia para irritá-lo. Um dia o menino fingia ser amigável, cumprimentando-o. No outro, fazia piadas sobre a sua mudez e o seu cabelo. Lucas chegou a pedir à mãe para que o levasse ao cabeleireiro para cortá-lo um pouco, de forma que ficasse um pouco menos longo e mais másculo. Mas aquilo não adiantou nada — Mateus sempre dava um jeito de achar algum defeito nele.

Agora, Lucas estava oficialmente no 7º ano do ensino fundamental II. A sala era diferente, mas a maioria dos colegas eram os mesmos. Quatro novatos, apenas — dois garotos e duas garotas. Um dos meninos logo se enturmou com o grupo de Mateus e os outros colegas. O outro, mais sério e com um ar tímido, sentou-se na frente e falava pouco com quem viesse conhecê-lo. Uma das meninas novas sentou-se na frente de Lucas — e, para o seu azar, não era tímida e calada quanto o outro novato. Queria, a todo custo, conhecer e conversar com o seu novo colega e vizinho de carteira.

— Ele não fala, Júlia — uma das veteranas avisou-a de imediato.

— Como assim? — a menina inclinou a cabeça, observando Lucas. — Você é mudo?

Lá vamos nós, pensou Lucas. Respirando fundo, ele maneou a cabeça em sinal negativo. Júlia era loura, com olhos cor de avelã e muito pálida. Usava óculos de grau com armação roxa e brincos de coruja.

— Ele não é mudo, só não gosta de falar — a outra garota respondeu por ele.

— Ah. Por que você não gosta de falar, Lucas? Eu não consigo não falar! Eu adoro conversar — ela sorriu gentilmente. — Mas não tem problema, a gente pode conversar pelo caderno!

Lucas deu um sorrisinho. A outra novata se dirigiu à Júlia, que quase derrubou sua garrafa verde-limão no chão. O menino baixou a cabeça, temendo que ela o cumprimentasse também, mas isso não aconteceu. Discretamente, ele fitou os cabelos castanhos escuros da menina, presos em uma trança. Ela pediu um apontador emprestado à Júlia — que derrubou todos os lápis de seu estojo ao procurar o objeto.

A outra novata, mais alta do que as outras meninas da sala, voltou para a sua carteira. Lucas observou-a de costas; para seus cabelos trançados e o modo como apontava o lápis. De repente, desejou que ela tivesse se sentado no lugar de Júlia, bem diante de Lucas. Estranhou aquele desejo, mas logo soube o motivo: queria não ser alvo de perguntas e tagarelices da loura de óculos roxos. Preferia alguém que o ignorasse, que não insistisse em conversas sem respostas verbais.

No entanto, fora Júlia que passou a convidá-lo para os grupos de estudo e trabalho — inclusive, para que ele lanchasse no recreio junto com ela e outros colegas. Lucas aceitou, mesmo sentindo-se desconfortável de início. O grupo era composto por quatro meninas e dois meninos — no caso, o próprio Lucas e o garoto novato. A princípio, a garota alta de cabelos escuros — cujo nome, Yasmin, ficou impregnado na mente de Lucas — estava no grupo deles, mas logo se juntou aos mais populares e extrovertidos da sala.

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