17. O peso do tempo

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☆ Capítulo 17 | O Canto das Estrelas ☆

Na última fileira de cadeiras do auditório, Lucas viu um Alberto sorridente estender o polegar em sua direção. O rapaz, junto com os outros formandos do ensino médio, estava sentado próximo ao palco e escondido dos olhares do público. Mais à frente, na plateia, Ben, Miriam, Pedro e Luan estavam sentados lado a lado. Enquanto escutava o discurso do diretor, o padrasto enxugava lágrimas alegres e olhava vez ou outra para seu filho adotivo, que consertava o capelo sobre a cabeça a cada cinco segundos. Não gostava nada da ideia de ter que subir ao palco, diante de tanta gente, para receber o diploma e cumprimentar professores e coordenadores. Pelo menos, ele não teria que falar nada; e estava suficientemente disfarçado com aquela enorme beca para passar despercebido.

Assim, quando seu nome foi anunciado pelo diretor, Lucas rapidamente subiu ao palco, cumprimentou a todos com um sorriso tímido e abraços rápidos, pegou o diploma e desceu as escadas do lado oposto. Lembrava-se do padrasto soltando um assobio exageradamente alto, ecoando pelo auditório da escola; e sua mãe gritando o seu nome e dizendo coisas melosas. Um pouco fora de si, Lucas voltou para o seu lugar e esperou tudo terminar. No final, os colegas comemoraram entre si, abraçando-se e tirando fotos. Deslocado, Lucas começou a procurar a sua família em meio à multidão que se formara. Então, seus olhos pararam diante de um rosto conhecido, que sorria orgulhosamente. Eliza já não era mais aquela jovem que o acolhera pela primeira vez naquela escola, e sim uma mulher. Com passos largos, se aproximou com os braços estendidos.

— Meus parabéns, Lucas! — a moça apertou-o nos braços. Um pouco sem graça, Lucas correspondeu. — Admito que esperei por um bilhete seu por todos esses anos, mas respeito o seu jeito. Desejo que seja muito feliz!

Lucas não esperava por aquelas palavras. Afastando-se da mulher, sorriu timidamente, expressando a gratidão que sentia. Sentiu que havia perdido uma grande oportunidade de uma amizade real; que poderia ajudá-lo em muitas coisas durante aqueles anos. Eliza era uma das poucas pessoas que não o pressionou, durante todo o período escolar, a falar com ela. Por algum motivo, aquela mulher o compreendia e gostava dele do jeito que ele era. Mas Lucas apartou-se de todos, ciente de que era um estorvo; longe de ser uma boa companhia.

Contudo, a mulher não parecia ter a mesma opinião sobre ele. Mais uma vez, o rapaz se surpreendeu com as suas palavras; deixando-o ainda mais atordoado.

— Há uma força em você, Lucas — Eliza continuou, pousando a mão delicadamente em seu ombro. — Sei que não acredita, mas eu sinto isso em você. Vencerá todos os obstáculos da vida, as quais todos possuem... E espero que continue pintando, pois tem muito talento!

Lucas baixou o rosto, sem conseguir deixar de sorrir. Há tempos ele não pintava, mas, quando era mais novo, gostava de participar dos projetos das aulas de arte e expor seus quadros nos eventos da escola. Eliza sempre o elogiava, assim como a professora de artes e alguns colegas. Uma coisa positiva que fazia, pelo menos. Assim que Eliza se despediu, não demorou muito para que Ben surgisse para abraçá-lo.

Envolto nos braços do padrasto, o rapaz sentiu o seu corpo flutuar a poucos centímetros do chão. Ben apresentava dificuldades para carregá-lo; como costumava fazer há alguns anos.

— Pesado pra caramba! — ele riu, consertando o capelo de Lucas. — Aposto que foi a deliciosa comida que fiz com todo amor durante todos esses anos, fazendo destes meninos três enormes e fortes cavalos.

Com um sorriso amoroso, Miriam aproximou-se e abraçou o filho. Pediu para que Pedro tirasse uma foto, e Lucas não recuou. Geralmente, não gostava muito de tirar fotos, mas a ocasião exigia-lhe uma exceção. Após ser devidamente parabenizado pela família — inclusive por Alberto, que tirara uma foto com o filho e foi embora, prometendo-lhe um almoço especial no próximo fim de semana. Como sempre, o pai encontrava-se cheio de trabalhos e dívidas — e, como ele mesmo dizia, perder tempo é perder dinheiro.

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