°•Blue like the ocean and the sky far away•°

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Frustrado, Dazai pegou o lápis de carvão e o caderno uma última vez, olhando nervosamente para todos os elementos ao redor.

Sentado no parapeito da pequena janela de seu quarto, o moreno observava a vista que se desenhava diante de seus olhos, a baía, o mar, o sopro do vento que atiçava a vegetação do penhasco, a rua deserta. Porém nada daquilo fazia sentido no papel.

Não, ele não conseguia esboçar um traço sequer.

Era como se uma muralha imensa estivesse bloqueando sua capacidade de fazê-lo.

Tocou o papel com a ponta do lápis. Queria ter toda aquela mistura de detalhes e a riqueza daquela bela paisagem.

Não. Nada.

Queria rabiscar, contornar, sombrear o quadro magnífico de sua janela com a baía ao fundo.

A única coisa que conseguiu foi apertar o lápis com tanta força sobre o caderno que marcou pelo menos três folhas abaixo daquela. Riscava, riscava e não se sentia satisfeito com a menor das linhas.

Aquilo lhe dava agonia.

Seu estômago pareceu embrulhar. Com a vista já cansada, Dazai se voltou para o quarto e lançou o caderno dentro da mala.

Estirou-se na cama. Não queria comer, nem dormir.

Queria fazer arte. Afinal, ele era um artista.

Suas mãos coçavam de vontade de pegar uma tela, um pincel, e jogar todas as suas tintas no quadro. Ver os diferentes tons em sua frente tomarem forma. Visualizou mentalmente uma das simpáticas sequências de casinhas próximas da praça, o céu estrelado acima e as luzes dos lampiões da rua. Parecia lindo.

Quando se deu conta, Dazai já havia se levantado e colocado o cavalete em pé no chão, e sobre ele uma tela em branco. Manteve a visão da pintura que desejava em sua mente.

Ao levar a mão até os pincéis, travou.

Por onde iria começar? Que pergunta tola. Era um profissional. Então por que nada parecia fazer-lhe sentido quando tentava...?

Simples: absolutamente nada ao redor conseguia oferecer uma inspiração, uma motivação que valesse a pena. Tudo era lindo lá; contudo, a beleza de uma cidadezinha como aquela não era suficiente para guiar a tão admirada criatividade de Dazai Osamu. Talvez por seu orgulho. Talvez ele estivesse se autosabotando e era arrogante demais para admitir isso, enquanto a inspiração o rodeava em todos os cantos.

Rindo da cara dele. Era isso que aquela cidade fazia com ele: ria.

O moreno chutou o cavalete, fazendo os materiais de pintura voarem pelo quarto e se espatifarem no chão. Uma de suas tintas a óleo se abriu e manchou o carpete. O azul. Seu tom favorito de azul, celestial e puro. Dazai observou, absorto, a mancha de tinta. Ignorou a bagunça, pegou um casaco leve e saiu a passos firmes dali, pisando com agressividade nos degraus da escada de ferro.

Precisava sair dali. Ir para longe. Buscou no fundo de sua consciência algo com que se distrair. Roupas, isso. Preciso de roupas novas.

Kunikida não o viu deixar o chalé, e Osamu ficou de certa forma aliviado. Cruzou o pequeno jardim com pressa, acelerando ainda mais sua caminhada ao colocar os pés na rua estreita.

Inspirou profundamente a maresia, tendo a impressão de que por um pequeno segundo o ar da costa inglesa desse-lhe enjoo.

Seu olhar passava tão apressadamente como ele pelas ruas, captando as semelhanças da arquitetura europeia copiadas com perfeição em todos os chalés; a quantidade de flores era, em seu ponto de vista, um pouco exagerada, mas contribuía com os ares incomuns e despadronizados.

The Colours of Our Hearts ~•Soukoku Old AU•~♡Onde histórias criam vida. Descubra agora