°•Black like the night, talk and forget•°

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A sensação prazerosa que o álcool exercia sobre o corpo de Chuuya desapareceu quando Dazai se sentou ao seu lado, sendo substituída por um receio repentino e uma leve repulsa.

Os silvos do sopro do vento colidiam nas grandes janelas do restaurante, pelas quais via-se o abismo cavado pelo oceano, sob a luz aguada da lua prata no céu negro, obscurecido.

Ryūnosuke pregou um olhar surpreso no recém-chegado, mas permaneceu quieto. Não queria se intrometer na discussão que estava por vir.

Chuuya fez menção de se levantar para ir embora, porém um rápido e forte puxão do moreno o fez voltar à sua posição inicial sobre a alta banqueta do bar.

-Fique e beba um pouco comigo... -um sorriso maroto iluminou-se no rosto do moreno. -Garoto, me arrume o melhor e mais caro whisky que tiver, por favor.

Akutagawa obedeceu ao pedido, servindo a Dazai um copo cheio até a metade com a bebida avermelhada e alguns cubos de gelo.

-Seu objetivo agora é me perturbar? -Indagou Chuuya, tentando disfarçar o desespero em encher outra vez a taça, se afogar no vinho e perceber que o moreno não passava de uma ilusão de seus pesadelos.

Chuuya não queria ter de suportar a presença daquele arrogante da capital. Contudo, se quisesse uma repotagem sobre um idiota, precisaria correr atrás de um idiota. Ao ver que o moreno se empolgava com a ideia de ficar ali para encher a cara sem compromisso, um sorriso disfarçou-se no rosto do ruivo.

Tinha uma chance. E iria se aproveitar disso.

-Para ser sincero, essa cidadezinha mequetrefe não me agradou lá o quanto eu esperava... o povo é meio quieto, mas você é bem petulante. Gostei disso. -Em um só gole, Osamu virou o conteúdo de seu copo, sentindo o líquido arder em sua garganta. Indicou para que Ryūnosuke enchesse novamente.

-Os cidadãos de Whitby não vão soltar fogos de artifício ou te dar uma faixa de miss toda a vez que se aproximar deles. Você é um cara com uma vida mais extraordinária do que a deles, e só por isso causa curiosidade. É, somos apenas curiosos. -O ruivo deslizou os dedos sobre a bancada, fingindo "limpar" a superfície lustrosa, apenas para evitar contato visual com o moreno. -Meu trabalho é satisfazer a curiosidade das pessoas.

Dazai prestava atenção a cada palavra de Nakahara, no fundo divertindo-se com a agressividade na sarcástica e embriagada voz dele.

-Que pena- suspirou, ironicamente- achei que iriam fazer uma estátua na praça em minha homenagem... por qual motivo pensa que pessoas como eu passam períodos assim em cidades pequenas? -O jornalista não teve tempo para responder por si. -Discrição.

-Ah... entendo... -o outro bocejou. Akutagawa já estava se irritando com os dois, deixando garrafas novas sobre o balcão para o caso de precisarem encher os copos repetidas vezes. Após isso, saiu detrás da bancada e foi-se para os fundos do restaurante, murmurando uma desculpa qualquer.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Os sussurros do vento eram ouvidos com suavidade pela noite afora.

-A única coisa que ainda não entendo- continuou Chuuya, fingindo desentendimento- é o que quer comigo.

-Você é da imprensa. Publicidade e alguns novos fãs não vão me fazer mal. -Desta vez, o copo de Dazai foi enchido por este até a borda, e virado novamente em um só segundo. Ele riu, visivelmente já recebendo os primeiros efeitos do álcool em seu organismo. -Sabe, Chuuya... ser artista não é tão bacana quanto as pessoas pensam. No começo você tem um sonho, depois cai na real que não vai poder viver da sua arte. Os que têm sorte, como eu tive, são reconhecidos e ganham oportunidades, mas é raro...

The Colours of Our Hearts ~•Soukoku Old AU•~♡Onde histórias criam vida. Descubra agora