Louisa, incomumente tomada de uma estranha compaixão, emprestou seu motorista para levar Chuuya de volta à sua casa.
Depois de algumas palavras de um discurso cuidadoso, na tentativa de consolar um pouco o abalo psicológico de Chuuya, Alcott se dispôs a qualquer coisa, surpreendendo o ruivo pela gentileza.
Já era muito tarde. A chuva rugia por toda a cidade, desmanchando as nuvens do céu em águas furiosas caídas da profunda escuridão.
Sozinho, parado em meio à grande sala do casarão, Chuuya observava o ambiente ao seu redor, amedrontado. As cortinas escuras das grandes janelas pareciam estarem derramando-se ao longo do pé direito do cômodo, e a tempestade que fustigava os vidros reluzia em trovões sobre a praia visível além.
E de novo, Chuuya tremia. A maquiagem já estava um tanto borrada, e seus cabelos desfeitos.
Orgulho ferido. Coração sangrando. Ego mutilado.
Dentre muitas outras coisas que partiam Chuuya em milhares de pedaços.
Uma mágoa crescente se apoderava dele. Por que justo naquele momento Dazai precisava ter voltado?
O pior de todos os dias. Definitivamente.
Enquanto Nakahara desabava pela milésima vez em seu sofá, como fizera em tantos dias anteriores remoendo, repensando e sofrendo pela mesma coisa, dois lados conflitavam-se entre si dentro dele.
Primeiramente, Chuuya não era capaz de derrubar seu ego. Havia tanta raiva acumulada ali, naquele amor ferido, que era impossível se sentir mal pelo que acontecera. Arrependimentos estavam fora de cogitação. Tamanho era o remorso, a ira por tanto tempo ignorado enquanto os outros triunfavam diante dele, que não existiam motivos para apagar aquela revolta, para apaziguar aquele desejo de vingança...
Mas... do quê exatamente ele pretendia se vingar?
Segundamente, ele se sentia um total, completo e ridículo idiota.
Martirizava-se.
Tal qual a pessoa que percebera amar aquele artista, Chuuya, ainda que contra sua vontade, se arrependia.
Cometera uma atitude infantil e inútil. O que esperava vingar livrando-se do último porto seguro que ainda lhe restava?
Imbecil... por Deus, eu sou mesmo um babaca...
Sabe, creio que esse é um dos piores erros réprobos que os humanos têm em sua essência: cometem erros fatais e só depois os percebem.
Chuuya não era diferente. Afinal, no fundo, ele também era humano. Mas não tinha volta.
Entre permanecer firme em sua vontade, resguardar-se de um trauma, imacular-se de toda a tortura emocional que poderia vir com a tentativa de nova vida; ou então por fim colocar um limite em seu ego, perceber que apesar de tudo Dazai o amava de verdade, que as maldosas opiniões da sociedade de nada valiam, e entregar-se... ao que seu coração realmente desejava.
-AAH... chega... estou ficando maluco... -o ruivo murmurou consigo mesmo, convulsivamente.
De repente, em meio aos sons devoradores da chuva, alguém batia com força à porta.
Chuuya se ergueu num pulo, um brilho esperançoso no olhar como que esperando que fosse Dazai a estar ali.
O ruivo podia ouvir sua própria pulsação enquanto levava a mão à maçaneta. Afinal, quem seria o louco a se aventurar pelas ruas numa chuva daquelas?
Não era Dazai. Era Atsushi, sob o guarda-chuva de seu namorado, que o amparava com um braço ao redor de sua cintura. Não havia sinal da bicicleta em nenhum ponto escuro e encharcado da rua.
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The Colours of Our Hearts ~•Soukoku Old AU•~♡
FanficDazai Osamu tem um coração dominado pela arte. Depois da trágica morte de seu amigo Odasaku, a única coisa que ele buscava eram as cores do mundo ao seu redor. Aquilo fora uma promessa. Pronto para passar um período de verão hospedado em uma casa lo...