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Cam puxara aqueles olhos azuis do pai, e seu
senso de humor... e a habilidade de interligar as lógicas mais tortuosas do mundo, motivo pelo qual, provavelmente, Richard Hamilton havia se tornado um advogado tão bem-sucedido. Em poucas horas, ele quase me convenceu a experimentar carne seca de veado pela primeira vez.

Quase.

Se não fosse por Cam, continuamente, sussurrar "Bambi" no meu ouvido a cada poucos minutos, eu teria sucumbido. Mas eu não poderia comer Bambi, não importava quão suculento o sr. Hamilton o fizesse parecer.

Ficamos na grande cozinha, à beira da mesa arranhada de carvalho que comportava quatro ou cinco pessoas, tomando o café que a mãe de Cam havia feito. Minhas costelas estavam doloridas de tanto rir com Cam e seu pai. Os dois eram idênticos. Cabelo ondulado e desarrumado, olhos azuis brilhantes cheios de travessura e o raro talento para distorcer cada palavra.

— Olhe, pai, sério mesmo, você está passando vergonha.

O pai dele olhou para mim, levantando as sobrancelhas assim como Cam fazia.

— Eu pareço envergonhado, Avery?

Apertando os lábios, fiz que não com a cabeça.
Cam olhou para mim de um jeito que dizia que eu não estava ajudando muito.

— Você está aqui tentando convencer Avery, minha mãe, a mim e o menino Jesus que o Pé Grande existe porque os chimpanzés existem?

— Sim! — gritou o Hamilton mais velho. — Chama- se evolução, filho. Eles não ensinam mais nada na faculdade?

Cam revirou os olhos.

— Não, pai, eles não ensinam sobre o Pé Grande na faculdade.

— Na verdade — eu disse, pigarreando —, tem toda uma teoria sobre o elo perdido, quando se trata de primatas.

— Gostei dessa garota. — O sr. Hamilton piscou para mim.

— Você não está ajudando — grunhiu Cam.

— Só estou dizendo que, se estivesse no meio da floresta e ouvisse as coisas que ouvi — continuou o pai dele —, você acreditaria no Pé Grande e no chupa-cabra.

— Chupa-cabra? — O queixo de Cam foi ao chão. — Ah, qual é, pai?

A sra. Hamilton balançou a cabeça carinhosamente.

— Esses são os meus garotos. Tenho tanto orgulho.

Sorri ao tomar um gole do saboroso café.

— Juntos, eles realmente são especiais.

— Especiais? — Ela bufou, afastando-se da mesa, pegando a caneca vazia de café do marido. — Essa é uma maneira sutil de dizer que eles são doidos de pedra.

— Ei! — A cabeça do sr. Hamilton se mexeu com os olhos inquietos. — Escute aqui, mulher.

— Você vai poder escutar o som do meu pé na sua bunda, se me chamar de mulher de novo. — A sra. Hamilton encheu novamente a caneca e pegou o açúcar. — E vai poder levar esse caso para o tribunal.

Cam suspirou e baixou a cabeça.

Abafei minha risada com a mão.

A família dele era... maravilhosa. Eles eram carinhosos e amigáveis. Completamente diferentes dos meus pais. Duvido que minha mãe soubesse como usar a cafeteira ou se rebaixasse a servir alguém, até mesmo meu pai.

A sra. Hamilton colocou a caneca na frente do marido.

— Vocês dois não vão ao drive-in esta noite?

espero por você Where stories live. Discover now