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O enjoo persistiu e se transformou em uma gripe
nojenta e cheia de tosse que tratei obsessivamente com todos os remédios conhecidos pelo homem.

No primeiro dia do semestre da primavera, ainda estava tossindo, mas me sentia bem o suficiente para ir à aula.

Antes de descer as escadas, criei coragem e fui até o apartamento de Cam, pois tinha que agradecê- lo cara a cara, não por mensagem de texto. Com o coração palpitando como se tivesse descido e subido as escadas correndo, bati em sua porta.

Passos fortes soaram do outro lado da porta, segundos antes de abrir, revelando Ollie em toda a sua glória maltrapilha. Um sorriso sonolento surgiu em seus lábios.

— Oi! Que bom vê-la andando por aí.

— Obrigada. — Senti meu rosto esquentando. — Cam está por aí?

— Espere, vou dar uma olhada. Só um segundo. — Ele deixou a porta entreaberta e desapareceu no apartamento. Alguns momentos depois (momentos que pareceram uma eternidade), voltou, um pouco menos amarrotado. — Na verdade, ele, é... já foi para a aula.

— Ah... — Eu sorri para esconder a decepção. — Bem, eu... vejo você por aí.

— Claro. — Ollie balançou a cabeça e passou a mão pelos cabelos compridos. — Avery, espero que esteja se sentindo melhor.

— Estou, sim. Obrigada.

Acenando levemente para ele, arrumei a alça da minha bolsa nova e, então, tirei as luvas, desci as escadas e fui para fora, numa manhã gelada e luminosa. Parei algumas vagas antes do meu carro, com o coração pulando.

Lá estava — a caminhonete de Cam.

Ele não tinha ido à aula. Estava no apartamento.

A verdade era fria como o tempo lá fora.

Ollie tinha falado com ele e Cam não quisera me ver.

** *

Vi Cam pelo campus várias vezes nas semanas seguintes. Parecia que tínhamos uma agenda que nos colocava próximos um do outro, e, toda vez que o via, ele estava com Jase ou, como no dia anterior, com Steph.

Sempre que o via com ela, tinha uma sensação esquisita no estômago. Eu não tinha direito a sentir aquilo. Sabia disso, mas não me impedia de querer partir para cima de Steph e cortá-la em vários pedaços.

Porém, essa não era a pior parte de encontrar com ele. Na maioria das vezes, ele me via, e, se nossos olhares se cruzassem, ele sempre desviava. Era como se não tivéssemos sido amigos por quase cinco meses ou dividido qualquer momento de intimidade.

Era como se nem sequer nos conhecêssemos.

Lembrou-me de como as coisas ficaram com meus amigos no Ensino Médio depois da festa de Halloween. Como se nosso tempo juntos tivesse sido apagado.

Na sexta-feira, ocorreu uma pequena abertura.

Cam estava sozinho, atravessando a rua principal, indo para o Knutti, com a cabeça baixa e as mãos nos bolsos do moletom.

— Cam! — gritei o nome dele tão repentinamente que acabou causando um som patético misturado com tosse, que era resquício da minha gripe.

Ele parou, levantando o queixo. Mechas de cabelo escuro enrolavam-se por baixo de seu boné.

Lutei para subir o restante da ladeira, com o peito e as pernas ardendo. Sem fôlego, parei na frente dele.

— Desculpe — disse esbaforida, respirando várias vezes. — Preciso de um segundo.

espero por você Where stories live. Discover now