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Fiquei na cama e dormi a maior parte da quinta e
da sexta-feira. Uma sensação pesada e sufocante pairava sobre mim, como um cobertor muito pesado. Eu tinha ferrado com tudo. De vez. Esse era o mantra de autopiedade que repetia para mim mesma. Era a verdade e era só nisso que eu pensava.

Não era assim que tinha planejado passar o feriado de primavera.

Enterrando a cabeça no travesseiro, fiquei longe do telefone, porque, se verificasse e Cam não tivesse ligado, eu me sentiria ainda pior. Bobeira da minha parte, já que ele não ligaria.

E não havia dúvidas na minha cabeça de que eu amava Cam. Havia uma diferença entre estar apaixonada e amar alguém, e eu deixara aquilo escapar pelos meus dedos.

Cam chegara ao limite.

Ele tinha confiado em mim, e, de certa maneira, eu desprezara aquela confiança. Se ele soubesse de tudo, as coisas teriam acabado de outro modo entre nós quarta-feira à noite. Mas fiquei em silêncio, como ficara todos esses anos.

Em determinado momento, durante o sábado, a tristeza profunda e cortante deu lugar a outra coisa. Joguei longe o cobertor e fiquei de pé no meio do quarto, respirando com dificuldade.

Girando, peguei um frasco de creme e o joguei pelo quarto. O creme bateu na porta do armário e, então, caiu no chão.

Não satisfeita, peguei outro frasco e o joguei com mais força. Aquele bateu na parede, quebrando o reboco. Lá se ia meu depósito de caução.

Eu não estava nem aí.

A raiva cresceu em mim como um vapor quente. Perdi a paciência, puxando o edredom e os lençóis da cama.

Então ataquei meu armário.

Eu odiava aqueles suéteres, blusas de gola alta, cardigãs e camisetas largas. Odiava tudo, mas, acima de tudo, eu me odiava por ter feito isso. Gritando, arranquei tudo de lá. Os cabides balançaram e caíram no chão. Lágrimas embaçavam meus olhos quando me virei, procurando mais alguma coisa para destruir, mas não havia mais nada lá. Nenhuma foto para lançar. Nenhuma pintura para arrancar da parede. Nada. Eu estava tão irritada — irritada comigo mesma.

Indo para o corredor, eu me encostei na parede, fechando os olhos. Respirando com intensidade, joguei a cabeça para trás e engoli um grito.

O silêncio estava me matando.

E foi só isso que sempre existiu. Silêncio. Era só o que eu conhecia. Ficar calada. Fingir que nada tinha acontecido, que nada estava errado. E olha só como tudo estava dando certo?

Deslizei pela parede e abri os olhos. Estavam tão secos como eu me sentia por dentro, frágil.

Quem eu poderia culpar por aquilo? Blaine? Os pais dele? Os meus? E isso importava? Em nenhum momento enfrentei meus pais e lhes disse o que pensava. Eu só me fechei e engoli — engoli até poder fugir.

O problema era que fugir não estava mais resolvendo. Nunca tinha resolvido nada, mas veja só quanto tempo levei para perceber isso? Cinco anos, quase seis? E quantos quilômetros? Milhares?

Então, como uma merda de um despertador, ouvi meu telefone tocando lá da sala.

Ficando de pé, caminhei até lá, com a cabeça latejando quando vi NÚMERO DESCONHECIDO na tela. Peguei o telefone e apertei o botão para atender.

— Que foi? — eu disse, com a voz trêmula.
Nada. Mais silêncio.

— Que é que você quer de mim, porra? — exigi. — Que foi? Não tem nada para falar? Só tem me ligado e mandado mensagens há nove meses! Acho que deve ter uma tonelada de merda para dizer.

espero por você Where stories live. Discover now