Depois do almoço, me arrastei com serenidade para minha próxima aula do dia: Latim. Eu sei, você deve estar pensando que é trapaça porque sou uma semideusa e tudo mais, mas a verdade é que Latim é uma briga ainda maior pra mim do que o bom e velho grego antigo.
Quando cruzei a soleira da sala de aula, nenhum dos rostos me era familiar. Aparentemente, aprender uma língua morta não é exatamente a escolha mais popular por aqui.Bem, posso imaginar Annabeth adorando isso, se ela pudesse passar tempo suficiente numa escola mortal.
E mais uma vez, tive aquela sensação de ser um peixe fora d'água, com vários pares de olhos curiosos lançando seus olhares na minha direção.
Eles pareciam tão curiosos quanto as ninfas no acampamento meio-sangue, o que definitivamente diz alguma coisa.
Optei por uma cadeira junto à janela e me acomodei nela, sentindo-me um pouco entediada. O relógio parecia se arrastar e ainda faltavam longos cinco minutos para o início da aula.
Foi nesse momento de quase hibernação que me dei conta do envelope que Hermes havia enviado. Ele estava escondido em algum cantinho obscuro da minha mochila, um tesouro de distração para combater o tédio que se instalava.
Revirei a bolsa, ignorando a adaga de bronze celestial, o pacote de ambrósia e até mesmo a caixinha de néctar, até que finalmente meus dedos tocaram o papel esquecido. Puxei-o e joguei a mochila de lado. Era hora de desvendar o mistério. Rasguei o envelope e retirei a carta... obviamente, estava escrita em grego antigo.
"Prezada senhorita Jackson,
É com imenso prazer que convido-a para se juntar a nós em uma festa, desde que consiga sobreviver ao castigo completo. Dito isso, tenho uma tarefa para você. Meu caduceu foi surrupiado e, da última vez que foi avistado, Éolo mencionou que ele estava em Forks. Serei eternamente grato se você puder recuperá-lo para mim.
Hermes, o deus dos viajantes.
P.S.: Você saberia onde conseguir as últimas edições de Pokémon Go? Um de meus filhos tem feito esse pedido de forma estrondosa nos últimos dias. Confesso que não tinha a menor ideia do que se tratava, mas como um bom pai, acabei cedendo. E quanto àquele garoto de Hades, ele também não é fã dessas coisas?"
Finalmente compreendi a situação. Parece que não consigo me livrar dos deuses e suas eternas demandas. Que frustrante.
A única razão plausível para Hermes não ter resgatado seu próprio caduceu até agora é que alguém realmente ousou roubar do deus dos ladrões, algum semideus que não tem medo de ser amaldiçoado por aí. E isso tem um certo ar de ironia, se você parar pra pensar.
Quanto aos filhos dele, quem teria implorado por cartas do Pokémon Go? A coisa mais estranha que já pedi ao meu pai foi para jantar em Paris. Nunca imaginei que ele realmente fosse atender meu pedido, mas num piscar de olhos, lá estava eu, em outro continente, num restaurante cinco estrelas, durante um fim de semana, sem conseguir articular mais do que cinco palavras em francês. Meu pai era o melhor.
Meus dedos batucavam incessantemente na mesa, minha humor um pouco azedo após ler a carta.
George, aquela cobra petulante, não me teria como sua caçadora de ratos particular. Era um exagero. Talvez seja por isso que sempre preferi Martha. Suspirei, cansada, enquanto minha mente corrida desenfreadamente em busca de ideias de por onde começar a caçada pelo caduceu tagarela. Talvez fosse uma boa ideia começar perguntando às ninfas.
— Hoje vamos formar duplas para o projeto de Latim desta unidade. – a voz rouca do professor se fez presente. Quando esse cara apareceu? Ah, esquece, só preciso prestar atenção. – Cada dupla ficará responsável por escolher um dos livros de Ovídio e, ao final da leitura, escrever um artigo.
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Uma semideusa em apuros | Crepúsculo
FanfictionAmélia Jackson não esperava que os deuses fossem tão mesquinhos depois de toda a guerra com Gaia. Talvez tenha sido culpa dela ao insultá-los no meio do Olimpo, mas como qualquer semideus, ela já estava cansada de limpar a bagunça dos deuses. Revela...