Capítulo 23

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A última vez que se sentiu assim tão segura, tudo não passava de um borrão pra ela, mas a imagem de uma mulher com as mesmas características que as suas ainda eram nítidas em sua cabeça. Assim como alguns aspectos da casa em que morava quando era uma criança pequena e franzina. Lembrava-se das paredes de papel coloridas, com pinturas feitas a mão e que a construção foi erguida em volta de uma árvore grande, aonde um jardim foi feito.

Devia ser por isso que o cheiro de cedro lhe remetia segurança, o mesmo cheiro que emanava de Marília e fazia a japonesa ficar absorta ás vezes. Mas isso não explicava o porque de ter confiado nela no momento em que seus olhos a alcançaram. Naquela tarde nublada e úmida do começo da primavera, ela tinha seus vinte e dois anos quando viu a morena pela primeira vez.

Nova York - bairro do Queens - Três anos atrás...

Foi através de uma fresta por de trás de uma porta de madeira, aonde estava reclusa. A viu conversando com seu tio. Os primeiros segundos em que seus olhos a avistaram, foram de confusão. Não sabia oque estava sentindo naquele momento, se sentia estranha, mas tão pouco conseguia desviar o olhar. Ouviu seu tio ficar alterado dizendo alguns xingamento na língua mãe deles e pensou que a morena estava encrencada.

Mas de alguma forma não encontrou vestígio de medo nela, pelo contrário, parecia entretida pela irritação do mais velho. Então a americana disse que iria embora e que não queria encrenca, mas que gostaria de voltar outro dia com uma proposta que agradasse as dua partes. Isso pareceu acalmar o senhor que ainda a xingava, mandando ela ir embora de uma vez, mas não disse nada sobre ela não poder voltar ali.

Marília ficou de lado, mas antes de se virar para sair do centro comercial acenou a cabeça pra ele em uma despedida. No entanto ela sentiu que alguém lhe observava e foi nesse momento que a jovem oriental suspirou e ficou em choque. As duas se olharam e Marília franziu o cenho, retesou no lugar ao perceber a presença de um ser escondido na escuridão do quartinho ao fundo da pequena loja de especiarias.

O mais velho percebeu seu olhar naquela direção e entrou na frente da visão dela, ajeitando as suas calças. Ele voltou a falar com ela em um inglês áspero e Marília o olhou sobre suspeita, depois olhou para Carlos que a acompanhava. Pediu para ele a esperar no carro e mesmo relutante ele foi.

- Quem está ali dentro? - o velho voltou a xingá-la - Na minha língua! - Marília disse quando sacou sua arma, a destravando, oque causou o alarde dos dois empregados do senhor, que também sacaram as suas, apontando para ela. Aquilo não a desencorajou, pois ainda tinha o senhor na sua mira.

- Abaixem isso seus idiotas! - o velho diz em inglês e os dois armados se olham receosos, mas fazem oque lhes é mandado - não tem ninguém lá. É só uma dispensa. Vai embora, eu disse que ainda não tenho o seu dinheiro. - Marília ainda apontava a arma pra ele e olhava para a porta.

- Minta pra mim mais uma vez e eu pinto as paredes dessa pocilga com os seus miolos. - ela o encarou novamente.

- Nos deixe em paz. - Marília abaixou a arma lentamente e guardou ela de volta na sua cintura. Ela fungou uma vez e olhou para eles, sorrindo em seguida.

- Lhes deixar em paz... ok. - ela levou suas mãos em cada lado da cintura. Olhou para eles, que pareciam chocados.

- Okay? - o senhor diz e ela assente.

- Vou fazer melhor, vou considerar quitada a dívida de vocês. - eles se olharam sem acreditar. Ela então levantou um dedo no ar - se... você fizer duas coisas pra mim. - a expressão do velho voltou a ficar carrancuda e ela viu ele fechando os punhos. Sabia que já estava tempo demais na área dele e não queria desrespeitar, mas também estava curiosa sobre a pessoa que sabia que tinha por trás daquela porta.

Firebird -  Fogo que Cura - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora