Capítulo 30

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Seus passos pela escada, que daria para o andar de baixo, eram lentos e seus olhos não saiam daquele que estava paralisado no meio do corredor entre as máquinas. Ele tinha deixado cair o capacete que segurava e agora parecia que seus pés estavam cimentados no chão. Só estava os dois ali, seu avô tinha se retirado apenas para que eles tivessem privacidade.

- Fala alguma coisa. - a voz dela chicoteou no silêncio e ele tencionou no lugar - eu quero ouvir sua voz... - ele limpou a garganta antes de tentar.

- Eu nem acredito que você finalmente está aqui... - ela parou de andar quando o ouviu e tensionou no lugar, fechando os punhos em seguida - e esperei tanto por isso...

Ele abriu os braços e os deixou cair ao lado do corpo. Agora ele que recobrou sua coragem e começou a andar na direção dela, ainda com cuidado. Marília o olhava compenetradamente, buscando reconhecer ele em algum ponto no homem engravatado na sua frente. Seu olhar foi para as tatuagens, agora visíveis pelas mangas repuxadas de seus braços.

Estavam ali, mas de alguma forma ela não conseguiu reconhecer seu amigo e não era só pela roupa ou o comprimento de seu cabelo.

- Você estava morto... eu vi ele atirando na sua cabeça. - ela deu um passo pra trás quando o mesmo já estava muito perto de si. Ele parou e sorriu fraco, levando sua mão no pescoço, na parte atrás da orelha, traçando sua pele com as pontas dos dedos.

- Eu fiquei morto de fato... por volta de dois minutos. - ele abaixou a mão e seu olhar ficou perdido em algo ali ao lado de Marília. Então ele levantou a cabeça e olhou pra ela - naquela noite seu avô chegou com os homens dele e levou nós dois para o hospital. Os médicos conseguiram parar o sangramento e me reanimar depois de eu ter perdido tanto sangue.

- Você estava aqui esse tempo todo?

- Marília tudo tem uma explicação, podemos ir em outro lugar se quiser...

- Eu chorei no seu túmulo. - Victor foi pego desprevenido e se calou - foram cinco anos me culpando por ter te matado...

- Marília...

- Cala a boca. - ela riu em desespero e deu uma volta no lugar, depois olhando para ele de lado - eu pensei em tirar minha vida pelo oque eu achei que eu fiz com você. - ela se virou para ele e com um passo eles ficaram cara a cara. Os olhos dela perfuravam os dele - enquanto as pessoas que te amavam sofriam pela perda, você seguiu com a sua vida sem um pingo de consideração. - ela negou com a cabeça, o olhando de baixo pra cima e em seguida perguntou com asco - quem é você?

- Eu sinto muito Marília, me deixa explicar... - ele segurou nos ombros dela, mas ela afastou as mãos dele.

- Não encosta em mim. - ela deu um passo para trás, desviando o olhar dele. Se virou para ir até a escada novamente e chegou a pegar no corrimão, mas parou com um pé no primeiro degrau.

- Você não vai poder fugir disso pra sempre. - ela riu sem humor e se virou o suficiente para olha-lo por cima do ombro - nós vamos ter que conversar eventualmente.

- Pode continuar com a sua nova vida. Se queria tanto se ver longe do tráfico, não precisava forjar a própria morte para isso.

- Marília, eu não forjei a minha morte!

- Eu levei flores no seu túmulo todo esse tempo, mas você parece bem vivo pra mim agora. Oque você chama isso? - ela se sentiu sufocar e lhe deu as costas, começando a subir as escadas correndo.

Ela correu e chegou a passar pelo seu avô que a esperava do lado de fora daquela ala, mas ela não se importou pelo seu chamado. Sem ao menos saber por onde ir ela forçou suas pernas a encontrarem uma saída e finalmente depois de virar em muitos corredores, o lugar foi ficando cada vez mais claro e ela correu em direção a porta de vidro pela qual ela entrou em primeiro.

Firebird -  Fogo que Cura - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora